Com o surgimento dos filhos e com a família tornando-se mais coesa, as responsabilidades são maiores, porque, de certo modo, os nossos filhos serão o reflexo do que aprenderem na intimidade do lar. A Psicologia, a Psiquiatria e a psicanálise demonstram os danos que defluem de uma família disfuncional. Conflitos, traumas e complexos longamente fomentados pela convivência familiar irrompem na vida do indivíduo que alcança a adolescência e a fase adulta, explodindo na forma de violência, criminalidade e desprezo pelas bases éticas da sociedade, o que traduz uma resposta consciente ou mesmo inconsciente aos sofrimentos vivenciados no lar.
Diante do quadro esboçado, como evitar o agravamento dos dramas conjugais-familiares e prevenir as mazelas sociais? Há uma excelente proposta apresentada pela Doutrina Espírita: trazer Jesus para a intimidade do lar mediante o estudo semanal do Evangelho.
Todos podemos reservar uma noite por semana para uma convivência saudável com nossos familiares. O estudo do Evangelho no Lar é uma medida preventiva para o nosso desconcerto interior, porque nos une na dimensão espiritual dos relacionamentos, portanto, numa dimensão mais profunda, para que não estejamos unidos apenas pelos laços legais e consanguíneos.
O método para a realização do estudo do Evangelho no Lar é simples, não exigindo condições especiais ou formalismos de qualquer natureza, pois não representa uma cerimônia. Uma vez por semana nos sentamos tranquilamente em volta da mesa e conversamos amorosamente com nossos filhos. O diálogo continua sendo uma das melhores soluções para qualquer conflito nas relações humanas.
Utilizamos do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo e fazemos a leitura de um pequeno trecho para meditar. No entanto, se o casal é adepto de outra Doutrina, e não a espírita, e por isso prefere uma leitura compatível com suas concepções espirituais, poderá utilizar, por exemplo, o livro-base da sua orientação religiosa. Que recorra à Bíblia ou outro livro que lhe seja satisfatório. Seja da Igreja Católica, na Religião Evangélica, no Budismo ou nos fundamentos do Islã, todos receberemos os benefícios da comunhão de Deus, que será uma terapia de valor inestimável para o grupo familiar.
Normalmente aconselhamos a leitura da obra O Evangelho Segundo o Espiritismo, em razão da forma como os bons Espíritos e Allan Kardec interpretaram as palavras de Jesus, privilegiando os aspectos éticos da sua mensagem.
Sendo assim, para iniciar o estudo pedimos a um filho que formule uma oração e em seguida solicitamos a outro filho ou filha que leia um pequeno texto do Evangelho. Após a leitura teceremos alguns comentários, aprofundamos alguns ângulos importantes e abordamos questões relativas aos problemas enfrentados pela família ao longo da última semana. Discutimos alguma dificuldade que houve entre nós e elegemos estratégias para solucionar os impasses. Uma discussão indevida, uma atitude irrefletida do pai, um comportamento imprevidente da mãe, uma decisão precipitada de um filho, tudo poderá ser solucionado com um gesto de perdão recíproco, que tem lugar naquele momento em que nos tornamos mais receptivos à Presença Divina em nosso lar.
Logo depois de comentarmos o texto que foi selecionado enunciamos uma oração. Antes colocamos sobre a mesa um recipiente com água para pedir a Jesus que repita o fenômeno de Caná, quando o Mestre Incomparável, em uma festividade de casamento, manipulou as moléculas da água e conferiu ao líquido um sabor agradável, semelhante ao vinho (porém sem teor alcoólico) para presentear os convidados. Neste sentido, vamos solicitar a Jesus que altere a estrutura molecular da água sobre a nossa mesa e a transforme em medicamento espiritual para as nossas necessidades, consubstanciando um verdadeiro veículo de paz. E que a água sirva para sustentar as nossas energias, estabelecer e manter entre os familiares um vínculo de união.
Em seguida, ao longo desta mesma oração, vamos pedir por todos nós que ali estamos para entrar em sintonia com a Divindade. É desejável também que nos lembremos dos enfermos, dos parentes e amigos que passam por alguma dificuldade. Mas também iremos recordar-nos dos nossos inimigos, que são aqueles que, por alguma razão, decidiram afastar-se de nós no caminho evolutivo. Ter inimigos é inevitável. Porém, como me disse certo dia Joanna de Ângelis, não é importante que alguém seja nosso inimigo. O importante é que nós não sejamos inimigos de ninguém. Oremos fraternalmente por eles, quer estejam encarnados ou desencarnados, que nos perseguem, nos odeiam e nos criam situações obsessivas embaraçosas. Incluamos os parentes e amigos que nos precederam na grande viagem de retorno ao mundo espiritual.
Finalmente, elevemos o pensamento aos Espíritos Nobres, para que eles nos visitem em nome do Mestre Nazareno.
Com esse procedimento o psiquismo insondável de Jesus habitará os recantos da nossa casa.
A reunião deve transcorrer durante vinte ou trinta minutos, no máximo, tempo suficiente para que o encontro seja produtivo e para articularmos um vínculo de ternura na intimidade no nosso lar. E com esta medida estaremos com as portas abertas para que Jesus seja habitante do núcleo familiar em que nos encontramos.
Em síntese, para impedir os conflitos conjugais, necessitamos cultivar o sentimento de espiritualidade em nosso relacionamento. Assim poderemos viver religiosamente, no sentido profundo da palavra, abraçando o amor como a nossa âncora de segurança. Afinal, ao término de uma reunião como essa, quando o casal vai-se recolher ao leito, os parceiros poderão dialogar com transparência e desculpar-se reciprocamente. Cada qual terá a oportunidade de falar sobre suas dificuldades, explicando os problemas e as necessidades interiores que lhe caracterizam a alma, abrindo, enfim, as comportas do coração. Mas é importante que este momento não reproduza uma dessas confissões vulgares que o parceiro afirma estar arrependido, pede perdão e volta a repetir o mesmo engano. Este diálogo conjugal precisa ser um instante de respeito, de solidariedade e de alta consideração, uma vez que é nesta oportunidade que se cria um momento de ternura. É no ato de ternura que o amor se expressa, podendo, inclusive, ter o seu clímax numa relação íntima. O parceiro e a parceira têm a necessidade de conjugar o seu sentimento com o do outro, de fundir-se no outro para descobrir os meandros da alma do ser amado.
A carícia, a ternura e o amor conjugal fazem com que a família mantenha relações saudáveis, minimizando o impacto das discussões que podem ocorrer e perpetuando a união de todos os membros do grupo. Episódios de discussão fazem-se invitáveis, pois decorrem das diferenças que nos definem como seres no mundo. Mas que as nossas diferenças sirvam para nos auxiliar na verdadeira união.
Divaldo Franco
Fonte: Sexo e Consciência. Divaldo Franco. Organizado por Luiz Fernando Lopes.
Em Espiritismo, a Ciência indaga, a Filosofia conclui e o Evangelho Ilumina.Com a primeira, há movimento de opiniões, com a segunda, temos a variedade de pontos de vista na matéria interpretativa e com o terceiro encontramos a renovação da alma para a eternidade.A Ciência e a Filosofia são os meios, o Evangelho é o fim.
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