MISSÃO DA AMÉRICA
O Cristo localiza, então, na América as suas fecundas esperanças. O século XVI alvorece com a descoberta do novo continente, sem que os europeus, de modo geral, compreendessem, na época, a importância de semelhante acontecimento. As riquezas fabulosas da Índia deslumbram o espírito aventureiro daquele tempo, e as testas coroadas do Velho Mundo não entenderam a significação moral do continente americano.
Os operários de Jesus, porém, abstraídos da crítica ou do aplauso do mundo, cumprem os seus grandes deveres no âmbito das novas terras. Sob a determinação superior, organizam as linhas evolutivas das nacionalidades que aí teriam de florescer no porvir. Nesse campo de lutas novas e regeneradoras, todos os espíritos de boa-vontade poderiam trabalhar pelo advento da paz e da fraternidade do futuro humano, e foi por isso que, laborando para os séculos porvindouros, definiram o papel de cada região no continente, localizando o cérebro da nova civilização no ponto onde hoje se alinham os Estados Unidos da América do Norte, e o seu coração nas extensões da terra farta e acolhedora onde floresce o Brasil, na América do Sul. Os primeiros guardam os poderes materiais; o segundo detém as primícias dos poderes espirituais, destinadas à civilização planetária do futuro.
O PLANO
INVISÍVEL E A COLONIZAÇÃO DO NOVO MUNDO
Após a descoberta da América, grande esforço de seleção espiritual foi levado a efeito no seio das lutas europeias, no intuito de criar no Novo Mundo um outro sentido de evolução.
Se os colonizadores da região americana, nos primeiros tempos, eram os degredados ou os proscritos das sociedades europeias, importa considerar que esses colonos não vinham tão somente das grandes capitais do antigo continente, na exclusiva observância do plano material. Do mundo invisível, igualmente, partiram caravanas inúmeras de almas de boa-vontade, que encarnaram nas terras novas, como filhos daqueles degredados muitas vezes perseguidos pela iniquidade da justiça dos homens. A esses Espíritos mais ou menos adiantados, aliaram-se numerosas entidades da Europa, cansadas das lutas inglórias de hegemonia e de ambição, buscando a redenção no esforço construtivo de uma nova pátria em bases sólidas de fraternidade e amor, originando-se, desse modo, entre os povos americanos, sentimentos mais elevados, quanto à compreensão da comunidade continental. Se reconhecemos na América a projeção espiritual da Europa, temos de convir que se trata de uma Europa mais sábia e mais experiente, não só quanto aos problemas da concórdia internacional e da solidariedade humana, como também em todas as questões que significam os verdadeiros bens da vida.
A FRANÇA E A
INGLATERRA
A esse tempo, a França já se encontrava preparada para o cumprimento da sua grande missão junto dos povos, e, sob a influência do plano invisível, criavam-se os serviços benéficos da diplomacia. Nos bastidores da sua política administrativa, firmavam-se os princípios do absolutismo no trono, mas a sua grande alma coletiva, cheia de sentimento e generosidade, já vislumbrava o precioso esforço que lhe competia no porvir. Ao seu lado, a Grã-Bretanha caminhava, a passos largos, para as mais nobres conquistas humanas. Extinta, em 1603, a dinastia dos Túdores, eleva-se ao trono o rei da Escócia, Jaime I. Desejando reviver os princípios absolutistas, o descendente dos Stuarts inaugurou um período de nefastas perseguições, o qual foi intensificado por seu filho Carlos I, cujas disposições políticas se constituíam das mais avançadas tendências para a tirania. Rompendo com o Parlamento e dissolvendo-o, vezes consecutivas, viu o povo da capital inglesa de armas na mão, em defesa dos seus representantes, ensejando uma guerra civil que durou vários anos e só terminada com a ação de Cromwell, que, de acordo com o Parlamento, estabelece a República da qual se torna o "Lorde Protetor". Cromwell era um espírito valoroso, mas, embriagado com o vinho sinistro do despotismo, foi também um ditador vingativo, fanático e cruel. Depois da sua morte, em face da incapacidade política do filho, verifica-se a restauração do trono com os Stuarts. O governo destes teria, porém, pouca duração, porque os ingleses, desgostosos com a administração de Jaime II, e no seu tradicional amor à liberdade, chamam Guilherme de Orange ao poder. O Parlamento redige a famosa declaração de direitos, definindo a emancipação do povo e limitando os poderes reais, elevando-se ao trono Guilherme III com a revolução de 1688. A Inglaterra havia cumprido um dos seus mais nobres deveres, consolidando as fórmulas do parlamentarismo, porque assim todas as classes eram chamadas à cooperação e fiscalização dos governos.
Considerando o movimento das responsabilidades gerais e isoladas, o plano invisível, sob a orientação de Jesus, conduzia para a América todos os Espíritos sinceros e trabalhadores, que não necessitassem de reencarnações ao mundo europeu, onde indivíduos e coletividades se prendiam, cada vez mais, na cadeia das existências de provações expiatórias.
Para o hemisfério do Novo Mundo afluíam todas as entidades conclamadas à organização do progresso futuro. Muitas dessas personalidades haviam adquirido o senso da fraternidade e da paz, depois de muitas lutas no antigo continente. Exaustas de procurar a felicidade nos limites estreitos dos sentimentos exclusivistas, sentiam no íntimo as generosas florações de reformas edificantes, compreendendo a verdadeira solidariedade, na comunidade universal. Foi por essa razão que, desde os seus primórdios, as organizações políticas do continente americano se tornaram, baluartes de paz e de fraternidade para o orbe inteiro. É que a permanência no seu solo e nas luzes ocultas do seu clima social era considerada por todos os Espíritos como uma bênção de Deus, em face das sucessivas inquietações europeias.
INDEPENDÊNCIA
POLÍTICA DA AMÉRICA - Século XIX
A maioria dos povos do planeta, acompanhando o curso dos acontecimentos, procurou eliminar os últimos resquícios do absolutismo dos tronos, aproximando-se dos ideais republicanos ou instituindo o regime constitucional, com a restrição de poderes dos soberanos.
A AMÉRICA E
O FUTURO
Embora compelida a participar das lutas próximas, pelo determinismo das circunstâncias de sua vida política, a América está destinada a receber o cetro da civilização e da cultura, na orientação dos povos porvindouros.
Para esse desiderato grandioso, apresta-se o plano espiritual, no afã de elucidação dos nobres deveres continentais. O esforço sincero de cooperação no trabalho e de construção da paz não é aí uma utopia, como na Europa saturada de preconceitos multisseculares.
Nos campos exuberantes do continente americano estão plantadas as sementes de luz da árvore maravilhosa da civilização do futuro.
Fonte: Livro – A Caminho da Luz. Pelo Espírito Emmanuel. Psicografia de
Chico Xavier. Cap. XX, XXI, XXIII e XXIV
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