A raça adâmica, mais avançada do que aquelas que a
precederam sobre a Terra, era, com efeito, mais inteligente; foi ela que levou
todas as outras ao progresso. A Gêneses no-la mostra, desde seus princípios,
industriosa, apta para as artes e para as ciências, sem passar pela infância
intelectual, o que não é o próprio das raças primitivas, mas o que concorda com
a opinião de que se compunha de espíritos que já progrediram. Tudo prova que
ela não era antiga sobre a Terra, e nada se opõe a que não esteja aqui senão há
alguns milhares de anos, o que não estaria em contradição nem com os fatos
geológicos, nem com as observações antropológicas, e, ao contrário, tenderia a
confirmá-las.
A doutrina que fez todo o gênero humano proceder de uma
única individualidade, há seis mil anos, não é mais admissível no estado atual
dos conhecimentos. As principais considerações que a contradizem, tiradas da
ordem física e da ordem moral, se resumem nos seguintes pontos:
Do ponto de vista fisiológico, certas raças apresentam tipos
particulares característicos, que não permitem assinalar-lhes uma origem comum.
Há diferenças que, evidentemente, não são o efeito do clima. (...) É
necessário, pois, considerar que as diversas raças como tendo a sua origem
própria e nascidas simultaneamente, ou sucessivamente, sobre diferentes partes
do globo; seu cruzamento produziu as raças mistas secundárias. Os caracteres
fisiológicos das raças primitivas são o indício evidente de que elas provieram
de tipos especiais.
Adão e seus
descendentes são representados na Gênese como homens essencialmente
inteligentes, uma vez que, desde a segunda geração, edificam as suas casas,
cultivam a terra, trabalham os metais. Seus progressos nas artes e nas ciências
foram rápidos e constantemente sustentados. Não se conceberia, pois, que essa
estirpe tivesse, por descendentes, povos numerosos tão atrasados, de uma
inteligência tão rudimentar. (...) Uma diferença tão radical nas aptidões
intelectuais, e no desenvolvimento moral, atesta, com não menos evidência, uma
diferença de origem.
Independentemente dos fatos geológicos, a prova da
existência do homem sobre a Terra antes da época fixada pela Gênese é tirada da
população do globo.
Sem falar da cronologia chinesa, que remonta, diz-se, a
trinta mil anos, documentos mais autênticos atestam que o Egito, a Índia e
outros países, estavam povoados e florescentes pelo menos três mil anos antes
da era cristã, mil anos, consequentemente, depois da criação do primeiro homem,
segundo a cronologia bíblica. Documentos
e observações recentes não deixam nenhuma dúvida, hoje, sobre as relações que
existiram entre a América e os antigos Egípcios; de onde é necessário concluir
que esse continente já era povoado nessa época. Seria, pois, preciso admitir
que, em mil anos, a posteridade de um único homem pode cobrir a maior parte da
Terra; ora, uma tal fecundidade seria contrária a todas as leis antropológicas.
A impossibilidade se
torna ainda mais evidente se se admite, com a Gênese, que o dilúvio destruiu
todo o gênero humano, com exceção de Noé e sua família, que não era numerosa,
no ano de 1656, seja 2348 antes da era cristã. Não seria, pois, em realidade,
que de Noé dataria o povoamento do globo; ora, quando os Hebreus se
estabeleceram no Egito, 612 anos depois do dilúvio, esse já era um poderoso
império, que teria sido povoado, sem falar de outros países, em menos de seis
séculos, só pelos descendentes de Noé, o que não é admissível.
Notemos, de passagem, que os Egípcios acolheram os Hebreus
como estrangeiros; seria de espantar que tivessem perdido a lembrança de uma
comunidade de origem tão próxima, então que conservavam religiosamente os
monumentos de sua história.
Uma lógica rigorosa, corroborada pelos fatos, demonstra,
pois, de maneira mais peremptória, que o homem está sobre a Terra há um tempo
indeterminado, bem anterior à época assinalada pela Gênese. Ocorre o mesmo com
a diversidade de estirpes primitivas; porque demonstrar a impossibilidade de
uma proposição é demonstrar a proposição contrária. Se a geologia descobre traços
autênticos da presença do homem antes do grande período diluviano, a
demonstração será ainda mais absoluta.
Fonte: A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o
Espiritismo. Allan Kardec. Cap. XI.
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