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quinta-feira, 26 de julho de 2018

DOUTRINA DOS ANJOS DECAÍDOS E DO PARAÍSO PERDIDO

        Os mundos progridem fisicamente pela elaboração da matéria, e moralmente pela depuração dos Espíritos que os habitam. Neles, a felicidade está em razão da predominância do bem sobre o mal, e a predominância do bem é o resultado do avanço moral dos espíritos. O progresso intelectual não basta, uma vez que, com a inteligência, podem fazer o mal.

         Então, pois, quando um mundo chega a um de seus períodos de transformação, que deve fazê-lo subir na hierarquia, mutações se operam na sua população encarnada e desencarnada; é então que ocorrem as grandes emigrações e imigrações. Aqueles que, apesar de sua inteligência e de seu saber, perseveraram no mal, em sua revolta contra Deus e suas leis, serão doravante um entrave para o progresso moral ulterior, uma causa permanente de perturbação para o repouso e a felicidade dos bons, por isso eles são excluídos e enviados para os mundos menos avançados; ali aplicarão a sua inteligência e a intuição dos conhecimentos adquiridos ao progresso daqueles entre os quais são chamados a viver, ao mesmo tempo que expiarão, numa série de experiências penosas e por um duro trabalho, as suas faltas passadas e o seu endurecimento voluntário.



         Que serão, entre esses povos, novos para eles, ainda na infância da barbárie, senão anjos ou espíritos decaídos enviados em expiação? A Terra, da qual foram expulsos, não é para eles um paraíso perdido? Não era para eles um lugar de delicias em comparação com o meio  ingrato onde vão se achar relegados durante milhares de séculos, até o dia em que terão merecido a sua liberdade? A vaga lembrança intuitiva que dela conservam é para eles como uma miragem longínqua, que lhes lembra o que perderam por sua falta.

         Mas, ao mesmo tempo que os maus partiram do mundo que habitavam, são substituídos por espíritos melhores, vindo seja da erraticidade do mesmo mundo, seja de um mundo menos avançado que mereceram deixar, e para os quais a sua nova morada é uma recompensa. Estando a população espiritual assim renovada e purgada de seus piores elementos, ao cabo de algum tempo o estado moral do mundo se acha melhorado.

         Essas mutações, algumas vezes, são parciais, quer dizer, limitadas a um povo, a uma raça; de outras vezes, são gerais, quando o período de renovação chegou para o globo.

          A raça adâmica tem todos os caracteres de uma raça proscrita; os espíritos que dela fazem parte foram exilados sobre a Terra, já povoada, mas por homens primitivos, mergulhados na ignorância, e que tiveram por missão fazer progredir levando entre eles as luzes de uma inteligência desenvolvida. Não foi, com efeito, o papel que essa raça cumpriu até hoje? A sua superioridade intelectual prova que o mundo de onde saiu era mais avançado do que a Terra; mas esse mundo, devendo entrar em uma nova fase de progresso, e esses espíritos, tendo em vista a sua obstinação, não tendo sabido se colocar nessa altura, aí estariam deslocados e seriam um entrave à marcha providencial das coisas; por isso, dele foram excluídos, ao passo que outros mereceram substituí-los.

         Relegando essa raça sobre esta Terra de trabalho e de sofrimento, Deus teve razão em dizer-lhe: “Dela tirarás teu alimento com o suor de teu rosto.” Em sua mansuetude, prometeu que lhe enviaria um Salvador, quer dizer, aquele que deveria iluminar o seu caminho a seguir, para sair deste lugar de miséria, deste inferno, e chegar à felicidade dos eleitos. Esse salvador enviou-lhe na pessoa do Cristo, que ensinou a lei de amor e de caridade, desconhecida para eles, e que deveria ser a verdadeira âncora de salvação.

         É igualmente com o objetivo de fazer avançar a Humanidade, num sentido determinado, que os espíritos superiores, sem terem as qualidades do Cristo, se encarnam de tempos em tempos sobre a Terra, para nela cumprirem missões especiais que aproveitam, ao mesmo tempo, ao seu adiantamento pessoal, se as cumprem segundo os objetivos do Criador.

        Sem a reencarnação, a missão do Cristo não teria sentido, assim como a promessa feita por Deus. (...) Dizei que todas essas almas faziam parte da colônia de espíritos exilados sobre a Terra no tempo de Adão, e que estavam manchadas por vícios que as fizeram excluir de um mundo melhor, e tereis a única interpretação racional do pecado original, pecado próprio a cada indivíduo, e não o resultado da responsabilidade da falta de um outro que nunca conheceu; dizei que essas almas, ou espíritos, renascem diversas vezes sobre a Terra, na vida corpórea para progredirem e se depurarem; que o Cristo veio esclarecer essas mesmas almas, não só por suas vidas passadas, mas para suas vidas ulteriores, e somente então dareis à sua missão um objetivo real e sério, aceitável pela razão.

(...)


         É como se Deus fez os espíritos exilados ouvirem: “Desobedecestes as minhas leis, foi por isso que vos expulsei do mundo em que poderíeis viver feliz e em paz; aqui sereis condenados ao trabalho, mas podereis, pela vossa boa conduta, merecer o vosso perdão e reconquistar a pátria que perdestes por vossa falta, quer dizer, o céu?”

         À primeira vista, a ideia de queda parece estar em contradição com o princípio de que os espíritos não podem retrogradar; mas é necessário considerar que não se trata de um retorno ao estado primitivo; o espírito, embora numa posição inferior, não perde nada do que adquiriu; seu desenvolvimento moral e intelectual é o mesmo, qualquer que seja o meio em que se encontre colocado. Está na posição do homem do mundo condenado à prisão pelas suas más ações; certamente, está degradado, decaído, do ponto de vista social, mas não se torna nem mais estúpido, nem mais ignorante.
         
       Os espíritos da raça adâmica, uma vez transplantados sobre a terra de exílio, não se despojaram instantaneamente de seu orgulho e de seus maus instintos; conservaram, ainda  por muito tempo, as tendências de sua origem, um resto do velho fermento; ora, não é isso o pecado original?



Fonte: A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. Allan Kardec. Cap. XI.



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