Que serão, entre esses povos, novos para eles, ainda na
infância da barbárie, senão anjos ou espíritos decaídos enviados em expiação? A
Terra, da qual foram expulsos, não é para eles um paraíso perdido? Não era para
eles um lugar de delicias em comparação com o meio ingrato onde vão se achar relegados durante milhares
de séculos, até o dia em que terão merecido a sua liberdade? A vaga lembrança
intuitiva que dela conservam é para eles como uma miragem longínqua, que lhes
lembra o que perderam por sua falta.
Mas, ao mesmo tempo que os maus partiram do mundo que
habitavam, são substituídos por espíritos melhores, vindo seja da erraticidade
do mesmo mundo, seja de um mundo menos avançado que mereceram deixar, e para os
quais a sua nova morada é uma recompensa. Estando a população espiritual assim
renovada e purgada de seus piores elementos, ao cabo de algum tempo o estado
moral do mundo se acha melhorado.
Essas mutações, algumas vezes, são parciais, quer dizer,
limitadas a um povo, a uma raça; de outras vezes, são gerais, quando o período
de renovação chegou para o globo.
A raça adâmica tem todos os caracteres de uma raça
proscrita; os espíritos que dela fazem parte foram exilados sobre a Terra, já
povoada, mas por homens primitivos, mergulhados na ignorância, e que tiveram
por missão fazer progredir levando entre eles as luzes de uma inteligência desenvolvida.
Não foi, com efeito, o papel que essa raça cumpriu até hoje? A sua
superioridade intelectual prova que o mundo de onde saiu era mais avançado do
que a Terra; mas esse mundo, devendo entrar em uma nova fase de progresso, e
esses espíritos, tendo em vista a sua obstinação, não tendo sabido se colocar
nessa altura, aí estariam deslocados e seriam um entrave à marcha providencial
das coisas; por isso, dele foram excluídos, ao passo que outros mereceram
substituí-los.
Relegando essa raça sobre esta Terra de trabalho e de
sofrimento, Deus teve razão em dizer-lhe: “Dela tirarás teu alimento com o suor
de teu rosto.” Em sua mansuetude, prometeu que lhe enviaria um Salvador, quer
dizer, aquele que deveria iluminar o seu caminho a seguir, para sair deste lugar
de miséria, deste inferno, e chegar à felicidade dos eleitos. Esse salvador
enviou-lhe na pessoa do Cristo, que ensinou a lei de amor e de caridade,
desconhecida para eles, e que deveria ser a verdadeira âncora de salvação.
É igualmente com o objetivo de fazer avançar a Humanidade,
num sentido determinado, que os espíritos superiores, sem terem as qualidades
do Cristo, se encarnam de tempos em tempos sobre a Terra, para nela cumprirem
missões especiais que aproveitam, ao mesmo tempo, ao seu adiantamento pessoal,
se as cumprem segundo os objetivos do Criador.
Sem a reencarnação, a missão do Cristo não teria sentido,
assim como a promessa feita por Deus. (...) Dizei que todas essas almas faziam
parte da colônia de espíritos exilados sobre a Terra no tempo de Adão, e que
estavam manchadas por vícios que as fizeram excluir de um mundo melhor, e
tereis a única interpretação racional do pecado original, pecado próprio a cada
indivíduo, e não o resultado da responsabilidade da falta de um outro que nunca
conheceu; dizei que essas almas, ou espíritos, renascem diversas vezes sobre a
Terra, na vida corpórea para progredirem e se depurarem; que o Cristo veio
esclarecer essas mesmas almas, não só por suas vidas passadas, mas para suas
vidas ulteriores, e somente então dareis à sua missão um objetivo real e sério,
aceitável pela razão.
(...)
É como se Deus fez os espíritos exilados ouvirem: “Desobedecestes as minhas leis, foi por isso que vos expulsei do mundo em que poderíeis viver feliz e em paz; aqui sereis condenados ao trabalho, mas podereis, pela vossa boa conduta, merecer o vosso perdão e reconquistar a pátria que perdestes por vossa falta, quer dizer, o céu?”
À primeira vista, a ideia de queda parece estar em
contradição com o princípio de que os espíritos não podem retrogradar; mas é
necessário considerar que não se trata de um retorno ao estado primitivo; o
espírito, embora numa posição inferior, não perde nada do que adquiriu; seu
desenvolvimento moral e intelectual é o mesmo, qualquer que seja o meio em que se
encontre colocado. Está na posição do homem do mundo condenado à prisão pelas
suas más ações; certamente, está degradado, decaído, do ponto de vista social,
mas não se torna nem mais estúpido, nem mais ignorante.
Fonte: A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o
Espiritismo. Allan Kardec. Cap. XI.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Todos podem deixar seu comentário no Blog Jardim Espírita. Se for caso de resposta, responderei assim que poder, podendo levar alguns dias.
Não publicarei comentários que contenham termos vulgares, palavrões, ofensas, publicidade e dados pessoais (como e-mail, telefone, endereços, etc.). E não entrarei em contato por ligação telefônica, nem mensagem de SMS, nem por mensagem de Whatsapp... Podemos nos comunicar sempre por aqui pela área dos comentários do Blog, que acompanhamos as suas mensagens e respondemos no mesmo local, na mesma postagem que foi realizada a mensagem conforme o tempo que tenho disponível. Então fiquem a vontade para comentar!