São muito graves os efeitos na economia moral de quem opta por
fazer o aborto ou de quem o incentiva. Na ignorância moral em que se encontra e
estando consciente da ocorrência, o Espírito abortado rebela-se e busca
vingança, por compreender que lhe foi negada a oportunidade de evoluir. Não são
poucos os casos de obsessões que tem a sua gênese no aborto provocado.
As mulheres que engravidam e matam seus filhos com muita
naturalidade desconhecem que são responsáveis por esse terrível flagelo que se
impõem a si mesmas, pois os Espíritos abortados normalmente não as perdoam, o
que provocará um litígio de grandes proporções. Eles acompanham sutilmente
essas mulheres até que elas vivenciem alguma dificuldade na vida. Nesse
momento, eles se voltam contra elas e exacerbam seus conflitos existenciais até
conseguirem perturbá-las, atirando-as em estados depressivos ou facilitando
quadros psicóticos aparentes, que na verdade são transtornos mediúnicos, classificados
como obsessões espirituais. Em seguida, esse processo alcançará também o homem
que foi motivo do crime hediondo.
Quando ainda não se encontra consciente do que lhe ocorreu, o
Espírito sofre o ato cruel e imanta-se por afinidade àquela que o expulsou do
útero materno. Como esses seres prematuramente expulsos do corpo já estavam com
seu períspirito imantado às células, o organismo físico é eliminado, mas
permanecem as suas fixações perispirituais junto ao organismo da mulher, o que
poderá causar um futuro câncer de colo de útero e outras doenças do sistema
reprodutor feminino. O ódio desses seres que tiveram a vida cerceada
transforma-se em uma alucinação convertida em ondas mentais deletérias no
organismo fragilizado da mulher, que as assimila e sofre alterações no seu
estado de saúde.
O médium e orador espírita Divaldo Franco relata a seguinte história: “Certa vez, eu conheci
uma senhora que deveria ter uns trinta anos de idade, quando começou a
frequentar a Mansão do Caminho.
Quando contava aproximadamente cinquenta e cinco anos, ela recebeu
o diagnóstico de um câncer de útero, que ao ser revelado já havia produzido
metástase óssea que lhe provocava dores quase insuportáveis.
Naquela época, na cidade de Salvador, não havia quimioterapia. O
único tratamento disponível era a radioterapia aplicada no Hospital do Câncer.
A minha amiga submeteu-se ao tratamento radioterápico e ficou com muitas lesões
no corpo, porque a técnica ainda estava em fase experimental. Quando ela estava
muito mal mandou chamar-me. Eu já a visitava periodicamente, mas, na ocasião,
ela deu-se conta de que iria desencarnar e desejava falar-me. O câncer já havia
invadido o mediastino e o óbito era uma questão de tempo.
Eu procurei levantar-lhe o ânimo,
quando, então, ela fez-me a seguinte revelação:
— Divaldo, as Leis de Deus são soberanas. Eu sei por que estou com
câncer. E felizmente a Doutrina Espírita chegou em boa hora para mim. Só a
assimilei depois da doença. Como você sabe, eu conheço o Espiritismo há alguns
anos, pois frequento a sua instituição faz muito tempo. Mas ainda não o havia
digerido adequadamente. Eu aceitava a proposta sem maiores compromissos e permanecia
enganando-me. A minha situação é a seguinte: eu tenho um companheiro que é um
homem casado. Eu o amo muito e ele também diz que me ama. Nesses últimos vinte
anos eu realizei mais de uma dezena de abortos dele, já que eu não poderia ser
mãe. Ele me garantia que se eu preservasse um filho nosso e ele descobrisse,
seria a última vez em que nos veríamos, pois ele nunca deixaria a esposa e
nunca registraria um filho fora do casamento. Naquela época, não havia exame de
DNA nem a imposição da lei para que o pai biológico assumisse a
responsabilidade pelo filho. Então, por amor a ele, eu abortei em mais de dez
ocasiões diferentes.
Eu fiquei simplesmente estarrecido! Como a alma humana é complexa!
Como é que ela pôde ouvir a proposta de Jesus, os enunciados a respeito do “Não
matarás”, e em nome de um amor irreal, que era somente desejo, tormento sexual,
matar crianças com tanta impiedade? Porque o amor não mata! O amor liberta! Se
ela realmente amasse aquele homem, dir-lhe-ia: “Prefiro vê-lo feliz com a sua
mulher a vê-lo atormentado comigo, causando-me também infelicidade”. Se ela de
fato o amasse, renunciaria ao relacionamento sexual com ele e continuaria
amando-o, desde que ele já era feliz com a esposa.
Por isso, o câncer era o resultado de todas as agressões que ela
praticou contra o próprio organismo. Felizmente, a sua consciência despertou
ainda aqui na Terra. E menos de uma semana depois do nosso diálogo ela
desencarnou.
Muitos anos mais tarde eu a encontrei em uma visita a uma região
dolorosa do mundo espiritual inferior, para onde os Espíritos amigos me
conduziram em desdobramento consciente a fim de realizar observações e estudos.
Ela me reconheceu e contou-me as consequências dos seus atos criminosos.
Esclareceu-me que estava profundamente arrependida dos abortos
praticados. Mas os seres cujas vidas ela havia destruído não a perdoaram, sendo
que um deles tentou renascer oito vezes, e dela recebendo uma resposta negativa
por meio da interrupção criminosa da gestação.
Alguns dos Espíritos receberam da Misericórdia Divina a
oportunidade de reencarnar em outras famílias. Porém, esse reincidente
desenvolveu por ela um ódio tão intenso que se lhe alojou psiquicamente no
útero e deu início ao processo de alterações celulares que culminou no câncer e
na sua desencarnação.
Por fim, ela informou-me que estava programada para reencarnar
junto a esse Espírito vingativo, como gêmeos xifópagos (gêmeos siameses), para
que os dois pudessem regularizar o débito contraído. São muitas as
consequências do aborto na encarnação subsequente.”
Poucos sabem que Divaldo Franco poderia ter sido abortado, mas a
sua mãe negou fazer o aborto. A seguinte confissão de cunho pessoa de Divaldo
sobre o assunto: “Não tenho a intenção
de concordar com a atitude de revide que os seres abortados assumem perante
aquelas pessoas que lhes roubaram a oportunidade da reencarnação, mas quero
dizer que eu compreendo perfeitamente a dor que lhes aniquila os sentimentos
profundos, pois sou o décimo terceiro filho de uma família numerosa, e quase
não pude renascer... Pelo desejo dos meus pais, o meu irmão, que é cinco anos
mais velho do que eu, seria o último filho a nascer. Minha mãe já experimentava
os primeiros sinais do climatério quando percebeu algo estranho no seu corpo e consultou-se
com um médico, que lhe deu a inesperada notícia de uma gravidez tardia. Por
causa do organismo debilitado, depois de doze partos e três abortos
espontâneos, o médico sugeriu-lhe que interrompesse a gestação para que ela não
tivesse a saúde gravemente comprometida. A orientação médica foi dada nos
seguintes termos:
— Dona Ana, vamos fazer o aborto! A senhora já realizou sua missão
de mãe com os doze filhos que Deus lhe concedeu.
— Não, doutor! Eu não vou abortar meu filho!
— Mas esta criança vai matá-la! A senhora não tem condições de
saúde para resistir!
Diante dos argumentos do médico, era provável que qualquer pessoa
aderisse à proposta por ele apresentada. Nossa família tinha muitas
dificuldades financeiras e faria ainda maiores sacrifícios se mais uma criança
viesse ao mundo. Não obstante, a minha mãe, contrariando aquilo que para muitos
seria uma solução óbvia, voltou-se para o médico e respondeu:
— Se eu morrer no intuito de dar a vida a um filho, para mim será
uma honra!
(...) E a minha mãe não me abortou. Eu tenho para com ela uma
dívida de gratidão indescritível! Ao correr o risco de sacrificar sua própria
vida, ela me permitiu mais de oitenta anos de existência física. Se me tivesse
abortado, será que eu a amaria? Será que eu não estaria hoje dominado pela
mágoa (e até mesmo pelo ódio) de ver perdida a chance que a Divindade me
desenhava naquele momento? Não se pode descartar esta hipótese. No entanto,
aqueles seres que indubitavelmente ainda se encontram num patamar incipiente de
evolução psicológica cultivarão sentimentos de animosidade e de revolta que
geram obsessões das mais lamentáveis, com consequências que se estendem para a
vida espiritual.
É fascinante constatar como devemos fazer tudo ao nosso alcance
para preservar a vida. A vida humana é patrimônio de Deus e ninguém, sob
pretexto algum, tem o direito de interrompê-la. O aborto, sob qualquer aspecto
em que se apresente, permanece como crime hórrido que um dia desaparecerá da
Terra, em face da crueldade e covardia de que se reveste.”
Fonte: Livro Sexo e Consciência de Divaldo Franco. Organizado por Luiz
Fernando Lopes.