Não ajunteis
tesouros na Terra, onde a ferrugem e os vermes os corroem, onde os ladrões os
desenterram e roubam; mas formai tesouros no céu, onde nem a ferrugem, nem os
vermes os corroem; porque onde estão vosso tesouro, aí também está o vosso
coração.
Por isso eu
vos digo: não vos inquieteis por saber onde achareis do que comer para o
sustento da vossa vida, nem de onde tirareis roupa para cobrir o vosso corpo; a
vida não é mais do que o alimento, e o corpo mais do que a roupa?
Observai os
pássaros do céu: eles não semeiam e não colhem, e não amontoam nada nos
celeiros, mas vosso Pai Celestial os alimenta; não sois muito mais do que eles?
E quem é, dentre vós, aquele que pode, com todos os seus cuidados, aumentar à
sua estatura a altura de um côvado?
Por que
também vos inquietais pela roupa? Observai como crescem os lírios dos
campos;
eles não trabalham e não fiam; e, entretanto, eu vos declaro que Salomão, mesmo
em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles. Se, pois, Deus tem o
cuidado de vestir dessa maneira a erva dos campos, que hoje existe e que amanhã
será lançada no fogo, quanto mais cuidado terá em vos vestir, oh homens de
pouca fé!
Não vos
inquieteis, pois, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou de que nos
vestiremos? Como fazem os pagãos que procuram todas essas coisas; porque vosso
Pai sabe que delas tendes necessidade.
Procurai,
pois, primeiramente o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos
serão dadas por acréscimo. Por isso, não estejais inquietos pelo dia de amanhã,
porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. A cada dia basta o seu mal. (São
Mateus, cap. VI, v. de 19 a 21 e 25 a 34).
Estas
palavras, tomadas ao pé da letra, seriam a negação de toda previdência, de todo
trabalho e, por conseguinte, de todo progresso. Com semelhante princípio, o
homem se reduziria a uma passividade expectante; suas forças físicas e
intelectuais estariam inativas; se tal tivesse sido a sua condição normal na
Terra, não teria jamais saído do estado primitivo, e se dela fizesse a sua lei
atual, não teria mais senão viver sem nada fazer. Tal não pode ter sido o
pensamento de Jesus, porque estaria em contradição com o que disse em outro
lugar, e mesmo com as leis da Natureza. Deus criou o homem sem roupa e sem
abrigo, mas deu-lhe a inteligência para fabricá-los.
Não se deve,
pois, ver nessas palavras senão uma poética alegoria da Providência, que não
abandona jamais aqueles que colocam nela sua confiança, mas quer que trabalhem
de seu lado. Se ela não vem sempre em sua ajuda por um socorro material,
inspira as ideias com as quais se acham os meios de se livrar da dificuldade.
Deus conhece
as nossas necessidades, e as provê segundo o necessário; mas o homem,
insaciável em seus desejos, não sabe sempre se contentar com o que tem; o
necessário não lhe basta, lhe é preciso o supérfluo; é então que a Providência
o deixa entregue a si mesmo; frequentemente, é infeliz por sua culpa e por ter
desconhecido a voz que o advertia na sua consciência, e Deus o deixa sofrer as
consequências, a fim de que isso lhe sirva de lição para o futuro.
A Terra
produzirá bastante para alimentar todos os seus habitantes, quando os homens
souberem administrar os bens que ela dá, segundo as leis de justiça, de
caridade e de amor ao próximo; quando a fraternidade reinar entre os diversos
povos, como entre as províncias de um mesmo império, o supérfluo momentâneo de
um suprirá à insuficiência momentânea do outro, e cada um terá o necessário. O
rico, então, se considerará coo um homem que tem uma grande quantidade de
sementes; se as espalha, elas produzirão ao cêntuplo para ele e para os outros;
mas se come essas sementes sozinhos, e as esbanja deixando perder-se o excesso
daquilo que comer, não produzirão nada, e não bastarão para todo o mundo; se as
guarda em seu celeiro, os vermes as comerão; por isso Jesus disse: Não ajunteis
tesouros na Terra, que são perecíveis, mas formai tesouros no céu, porque são
eternos. Em outros ermos, não ligueis, aos bens materiais, mais importância do
que aos bens espirituais, e sabei sacrificar os primeiros em proveito dos
segundos.
Não é com as
leis que se decreta a caridade e a fraternidade; se elas não estão no coração,
o egoísmo as sufocará sempre; fazê-las nele penetrar é a tarefa do Espiritismo.
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