Não vos orgulheis do que sabeis, porque esse saber tem limites bem
estreitos no mundo em que habitais. Mas suponho que sejais uma dessas sumidades
inteligentes desse globo e não tendes nenhum direito para disso vos
envaidecerdes. Se Deus, em seus desígnios, vos fez nascer num meio onde
pudestes desenvolver a vossa inteligência, é que ele quer que dela useis para o
bem de todos; porque é uma missão que vos dá, colocando em vossas mãos o
instrumento com a ajuda do qual podeis desenvolver, a vosso turno, as
inteligências retardatárias e as conduzir a Deus. A natureza do instrumento não
indica o uso que dele se deve fazer? A enxada que o jardineiro coloca entre as
mãos de seu operário não lhe mostra que ele deve cavar? E que diríeis se esse
operário, ao invés de trabalhar, levantasse a enxada para com ela atingir seu
patrão? Diríeis que é horrível e que ele merece ser expulso. Pois bem, não
ocorre o mesmo com aquele que se serve de sua inteligência para destruir a
ideia de Deus e a da Providência entre seus irmãos? Não ergue contra seu senhor
a enxada que lhe foi dada para roçar o terreno? Tem ele o direito ao salário
prometido e não merece, ao contrário, ser expulso do jardim? E o será, não duvideis disso, e
arrastará existências miseráveis e cheias de humilhações até que se curve
diante d’Aquele a quem tudo deve.
A inteligência é rica de méritos para o futuro, mas com a condição de ser
bem empregada; se todos os homens dotados, se servissem dela segundo os
desígnios de Deus, a tarefa dos espíritos seria fácil para fazer a humanidade
avançar; infelizmente, muitos fazem dela um instrumento de orgulho e de
perdição para si mesmos. O homem abusa da inteligência como de todas as outras
faculdades e, entretanto, não lhe faltam lições para adverti-lo de que uma
poderosa mão pode lhe retirar aquilo que ela mesma lhe deu. (FERDINANDO,
Espírito protetor, Bordéus, 1862).
Fonte: O Evangelho Segundo o Espiritismo. Allan Kardec. Capítulo VII –
item 13.
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