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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Post.236: AIDS: POR QUE O VÍRUS HIV SOFRE MUTAÇÃO?

        A AIDS, é o resultado da promiscuidade sexual. Quando abusamos do sexo corrompemos a sua função, e sofremos as consequências dessa injunção.

        Até o momento a AIDS é incurável. Uma das maiores dificuldades em encontrar uma cura para a doença é que o vírus HIV sofre mutação. Quando a ciência produz um medicamento eficaz para interromper o ciclo viral, ocorre uma modificação na estrutura do micro-organismo, e ele assume uma nova identidade. Este fenômeno é consequência do desequilíbrio do psiquismo humano que aderiu ao mau uso do sexo. É a mente indisciplinada que induz o vírus a se tornar agressivo ao organismo.

       Os amigos espirituais nos dizem que, devido à promiscuidade sexual, o vírus sofreu a interferência do psiquismo humano e se potencializou para atingir o sistema imunológico, destruindo as células de defesa do organismo. Isto demonstra que há um perfeito inter-relacionamento entre o psíquico e o físico, conforme demonstrado pela psiconeuroimunoendocrinologia, mediante experiências admiráveis realizadas em laboratórios, a respeito da imunoglobulina encontrada na saliva.

       Portanto, a vida sexual promiscua, a falta de higiene e a mente desorganizada contribuíram para dar ao vírus uma maior resistência.

      A mente não é o cérebro. A mente é a autora do pensamento, que o cérebro recebe e decodifica. A mente pode viver sem o cérebro, mas o cérebro não pode permanecer lúcido e com as suas funções sem mente, que é o Espírito imortal. Em momentos de exacerbação do instinto sexual ou do ódio, ficamos vulneráveis e mais suscetíveis a contrair infecções. Na hora em que nos elevamos emocionalmente, em que sorrimos e amamos, adquirimos resistências imunológicas contra vários tipos de microrganismos.

      Aprendemos com o Evangelho, e reconfirmamos com a Doutrina Espírita, que a nossa sementeira é livre, mas a colheita tornasse-nos compulsória. Assim, o ser humano é o responsável pela atual problemática de natureza pandêmica, ameaçadora e cruel. Embora a gravidade que envolve o problema da AIDS, muitas criaturas ainda permanecem distraídas e insensatas, permitindo-se a promiscuidade sexual e o abuso as drogas injetáveis em grupo, com agulhas contaminadas, na falsa confiança de que não lhes acontecerá a infecção letal. Ao mesmo tempo, governos levianos permitem-se descuidar das análises do sangue, distribuindo-o em condições lastimáveis, assim infectando incontáveis números de pacientes que se tornam vítimas indefesas.

       Nenhum de nós está livre da contaminação. Mas como explicar o caso dos
hemofílicos, que foram contaminados em transfusões de sangue, e não em comportamentos de promiscuidade? Qual seria a razão de alguém se contaminar mesmo tendo uma vida saudável? A explicação obedece aos imperativos da Lei de Causa e Efeito. 

       Se eles não fizeram nada para adquirirem a doença nesta encarnação, a causa desse episódio repousa em vidas anteriores. A tese também é válida para os casos em que uma criança nasce e logo está contaminada.

       Portanto, indivíduos que receberam transfusão de sangue contaminado e crianças que nasceram com o vírus transmitido pelo organismo da mãe, estão incurso em um problema cármico expiatório. Por outro lado, nos casos daqueles que se infectaram por promiscuidade sexual ou por agulhas compartilhadas no uso de drogas, foram eles que escolheram contrair a doença. Não estava no mapa reencarnatório traçado anteriormente. Trata-se do efeito do seu comportamento atual.

        Quando o indivíduo modifica a sua estrutura moral e psíquica para melhor, a sua vida torna-se mais feliz, menos afetada, não somente pela AIDS, mas também por outros fatores destrutivos. Como é uma doença sem cura até este momento, toda terapia que fazemos é de misericórdia, não de esperança em uma recuperação total. Tenho visto que todos os pacientes soropositivos que não assumem o seu estado desencarnam rapidamente. Quando o paciente admite que é portador de um vírus que vai levá-lo à morte e com isso muda de comportamento, ele elabora psiquicamente fatores que sustentam a vida, alongando mais a sua existência.

        Portanto, a proposta apresentada pelo mundo espiritual repousa nos alicerces da dignificação do ser e da sua constante transformação para melhor.

        O vírus passa por mutação. Toda vez que a ciência está a ponto de produzir uma vacina eficaz, ele muda a estrutura molecular, e o medicamento perde a eficácia. Mas segundo os benfeitores da vida maior, é licito que acalentemos esperanças para que esses, como outros flagelos que afligem a humanidade, sejam vencidos. No entanto, em razão do próprio atraso do ser humano, que teima em permanecer na ignorância ou na indiferença a respeito das Leis de Deus, a cura da AIDS, por exemplo, não será para breves tempos. Não obstante, já se encontram reencarnados na Terra os missionários encarregados de debelarem esse mal, apresentando, oportunamente, não somente a terapia eficiente para a libertação da grave enfermidade, como também uma vacina para prevenir do seu contágio.

        Felizmente, a medicina conseguiu elaborar medicamentos que controlam a proliferação do vírus, e oferece ao indivíduo soropositivo uma maior sobrevida. Porém, ninguém tenha ilusões quanto a isso.

        Vale considerar que, se não houver uma real transformação moral e espiritual do ser humano, libertando-se desse terrível adversário que é o vírus HIV, os seus atos gerarão outro equivalente, senão pior.

        A partir do final do século XX, fatores psíquicos permitiram que o vírus atingisse a humanidade em larga escala, conforme já mencionamos. É que, chegando ao extremo da perversão dos nossos sentidos, pelo barateamento e pela vulgaridade promiscua das nossas emoções, a Divindade nos permite uma forma de reflexão, não como um freio ao exercício do sexo em si mesmo, mas como um apelo ao exercício equilibrado do ato sexual.



Fonte: Livro Sexo e Consciência de Divaldo Franco. Organizado por Luiz Fernando Lopes.


segunda-feira, 21 de novembro de 2016

A MÚSICA ESPÍRITA POR ROSSINI

        Encontramos no livro Obras Póstumas, de Allan Kardec, a mensagem do Espírito Rossini sobre a música espírita. Nos dar um bom entendimento sobre o que é realmente música. As mensagens seguem a baixo.

Gioachino Antonio Rossini, foi um renomado compositor italiano erudito, muito popular em seu tempo, que criou 39 óperas, assim como diversos trabalhos para música sacra e música de câmara. Rossini nasceu em 29 de fevereiro de 1792, em Pésaro, Itália. E faleceu em 13 de novembro de 1868, em Passy, Paris, França. 


         Recentemente, na sede da Sociedade Espírita de Paris, o presidente me deu a honra de pedir a minha opinião sobre o estado atual da música e sobre as modificações que lhe poderiam advir por influência das crenças espíritas. Se de pronto não cedi a esse apelo benévolo e simpático, foi, crede-o, meus senhores, por uma causa de ordem superior.

         Os músicos são homens como os outros, mais homens, talvez, e, nessas condições, falíveis e sujeitos a pecar. Nunca estive isento de fraquezas e, se Deus me fez longa a vida, a fim de que eu tivesse tempo de me arrepender, a embriaguez do êxito, a complacência dos amigos e as lisonjas dos cortejadores muitas vezes me tiraram o meio de efetivar esse arrependimento. Um maestro é uma potência neste mundo, onde o prazer desempenha tão importante papel. Àquele cuja arte consiste em deleitar os ouvidos e enternecer os corações muitas ciladas se lhe armam diante dos passos, nas quais cai o infeliz. Ele se inebria da ebriez dos outros; os aplausos lhe tapam as ouças e ei-lo a caminhar direto para o abismo, sem procurar um ponto de apoio para resistir ao arrastamento.

         Entretanto, sem embargo dos meus erros, eu depositava fé em Deus; eu cria na alma que vibrava em mim e, libertando-se da gaiola sonora, ela presto se reconheceu em meio das harmonias da criação e confundiu sua prece com as que se elevam da natureza ao infinito, da criação ao Ser incriado!...

        Sou feliz pelo sentimento que a minha vinda ao seio dos espíritas provocou, porque foi a simpatia que o determinou, e, se a princípio só a curiosidade me atraiu, é ao meu reconhecimento que devereis a explanação do tema que me propuseram.

        Eu ali estava, pronto a falar, supondo tudo saber, quando, abatido o meu orgulho, a minha ignorância se me patenteou. Fiquei mudo e a escutar. Voltei, instruí-me e, quando às palavras de verdade, ditas pelos vossos mentores, se juntaram a reflexão e a meditação, disse eu de mim para comigo:
O grande maestro Rossini, o criador de tantas obras-primas segundo os homens, nada mais fez, ah! do que debulhar algumas das pérolas menos perfeitas do escrínio musical criado pelo Mestre dos mestres. Rossini reuniu notas, compôs melodias, bebeu da taça que contém todas as harmonias, roubou algumas centelhas ao fogo sagrado, mas, esse fogo sagrado nem ele, nem outros o criaram! — Nada inventamos: copiamos do grande livro da Natureza e a multidão aplaude, quando não apresentamos por demais deformada a partitura.

        Uma dissertação sobre a música celeste! Quem poderia de tal coisa encarregar-se? Que Espírito sobre-humano poderia fazer vibrar a matéria em uníssono com essa arte encantadora? Que cérebro humano, que Espírito encarnado poderia apanhar-lhe os matizes infinitamente variados? Quem possui a esse ponto o sentimento da harmonia?... Não, o homem não está feito em tais condições!... Mais tarde!... muito mais tarde!...

        Por agora, virei, talvez dentro em pouco, satisfazer ao vosso desejo e dar-vos a minha apreciação sobre o estado atual da música e dizer-vos das transformações, dos progressos que o Espiritismo poderá fazer que ela experimente. — Hoje, é ainda muitíssimo cedo. O assunto é vasto, já o estudei, mas ele ainda me excede. Quando dele me houver assenhoreado, se isso for possível, ou, melhor, quando eu haja entrevisto tanto quanto o estado de meu espírito me permitir, eu vos satisfarei. Um pouco mais de tempo. Se somente um músico pode falar da música do futuro, deve fazê-lo como mestre e Rossini não quer falar dela como um escolar.

Rossini
(Médium: Desliens)

                                         

        Foi explicado o silêncio que guardei sobre a questão que o Mestre da Doutrina Espírita me propôs. Era conveniente que, antes de entrar em tão difícil assunto, eu me concentrasse, reunisse as minhas lembranças e condensasse os elementos que me estavam ao alcance. Não me cabia estudar a música, tinha apenas de classificar com método os argumentos, a fim de apresentar um resumo capaz de dar idéia da minha concepção da harmonia. Esse trabalho, que não fiz sem dificuldade, se acha concluído e estou pronto a submetê-lo à apreciação dos espíritas.

        A harmonia é difícil de definir-se; muitas vezes, confundem- na com a música, com os sons, como resultante de um arranjo de notas e das vibrações dos instrumentos que reproduzem esse arranjo. Mas, não é isso a harmonia, do mesmo modo que a chama não é a luz. A chama resulta da combinação de dois gases: é tangível; a luz que ela projeta é um efeito dessa combinação e não a própria chama: não é tangível. Aqui, o efeito é superior à causa. O mesmo se dá com a harmonia; ela resulta de um arranjo musical, é um efeito igualmente superior à causa. Esta é brutal e tangível; o efeito é sutil e intangível.

         Pode-se conceber a luz sem chama e compreender a harmonia sem música. A alma é apta a perceber a harmonia, excluído todo o concurso de instrumentação, como é apta a ver a luz sem o concurso de combinações materiais. A luz é um sentido íntimo que a alma possui: quanto mais desenvolvido ele, tanto melhor percebe ela a luz. A harmonia é igualmente um sentido íntimo da alma, que a percebe em relação com o desenvolvimento desse sentido. Fora do mundo material, isto é, fora das causas tangíveis, a luz e a harmonia são de essência divina. A posse de uma e outra está na razão dos esforços empregados para adquiri-las. Se comparo a luz e a harmonia, é para me fazer mais bem compreendido e também porque esses dois sublimes gozos da alma são filhos de Deus e, portanto, irmãos.

         É tão complexa a harmonia do Espaço, tem tantos graus que eu conheço e muitos outros mais que se me conservam ocultos no éter infinito, que aquele que se acha colocado a uma certa altura de percepções é como que tomado de espanto ao contemplar essas diversas harmonias, que constituiriam, se reunidas, a mais insuportável cacofonia; enquanto que, ao contrário, percebidas separadamente, constituem a harmonia particular a cada grau. Nos graus inferiores, essas harmonias são elementares e grosseiras; levam ao êxtase, nos graus superiores. Tal harmonia, que choca um Espírito de percepções sutis, encanta um outro de percepções grosseiras e, quando é dado ao Espírito inferior deleitar-se com os encantos das harmonias superiores, o êxtase o arrebata e a prece lhe penetra o íntimo. O encantamento o transporta às elevadas esferas do mundo moral; ele entra a viver uma vida superior à sua e assim desejara continuar a viver para sempre. Mas, desde que a harmonia deixe de penetrá-lo, ele desperta, ou, se o preferirem, adormece. Em todo caso, volta à realidade da sua situação e, dos lamentos que lhe escapam por haver descido, se exala uma prece ao Eterno, a pedir-lhe forças para de novo subir. Aí tem ele um grande motivo de emulação.

          Não tentarei explicar os efeitos musicais que o Espírito produz atuando sobre o éter; o que é certo é que o Espírito produz os sons que queira e que não pode querer o que não sabe. Assim, pois, aquele que compreende muito, que tem em si a harmonia, que se acha dela saturado, que goza do seu sentido íntimo, desse nada impalpável, dessa abstração que é a concepção da harmonia, atua quando quer sobre o fluido universal que, instrumento fiel, reproduz o que ele concebe e deseja. O éter vibra sob a ação da vontade do Espírito; a harmonia, que este último traz em si, concretiza-se, por assim dizer; evola-se, doce e suave, como o perfume da violeta, ou ruge como a tempestade, ou estala como o raio, ou solta queixumes como a brisa. É rápida qual relâmpago, ou lenta como a neblina; tem os despedaçamentos de um soluço, ou é contínua como a relva; é precipitada qual catarata, ou calma como um lago; murmura como um regato, ou ronca como uma torrente. Ora apresenta a rudeza agreste das montanhas, ora a frescura de um oásis; é alternativamente triste e melancólica como a noite, leda e jovial como o dia; caprichosa como a criança, consoladora como uma mãe e protetora como um pai; desordenada como a paixão, límpida como o amor e grandiosa como a Natureza. Quando chega a este último terreno, confunde-se com a prece, glorifica a Deus e leva ao arroubamento aquele mesmo que a produz, ou a concebe.

          Oh! comparação! comparação! Por que havemos de ser obrigados a servir-nos de ti! Por que havemos de dobrar-nos à necessidade degradante de buscar, de tomar de empréstimo à natureza tangível imagens grosseiras, para fazermos compreensível a sublime harmonia em que o Espírito se deleita! E, a despeito das comparações, não se consegue dar ideia dessa abstração, sentimento quando causa, sensação quando se torna efeito.

          O Espírito que tem o sentimento da harmonia é como o Espírito que tem a riqueza intelectual: um e outro gozam constantemente da propriedade inalienável que granjearam. O Espírito inteligente, que ensina a sua ciência aos que ignoram, experimenta a ventura de ensinar, porque sabe que torna felizes aqueles a quem instrui; o Espírito que faz ressoar no éter os acordes da harmonia que traz em si experimenta a felicidade de ver satisfeitos os que o escutam.

          A harmonia, a ciência e a virtude são as três grandes concepções do Espírito: a primeira o arrebata, a segunda o esclarece, a terceira o eleva. Possuídas em toda a plenitude, elas se confundem e constituem a pureza. Oh! Espíritos puros que as possuís! descei às nossas trevas e iluminai a nossa caminhada. Mostrai-nos a estrada que tomastes, a fim de que sigamos as vossas pegadas!

         Quando penso que esses Espíritos, cuja existência mal posso compreender, são seres finitos, átomos, em face do eterno Senhor do Universo, a minha razão se confunde ao cogitar da grandeza de Deus e da bem-aventurança infinita, de que ele goza em si mesmo, pelo só fato de ser infinita a sua pureza, pois que tudo o que a criatura adquire não é mais que uma parcela do que emana do Criador. Ora, se a parcela chega a fascinar pela vontade, a cativar e a deslumbrar pela suavidade, a resplandecer pela virtude, que não produzirá a fonte eterna e infinita donde provém a criatura? Se o Espírito, ser criado, chega a extrair da sua pureza tanta felicidade, que idéia se há de ter da que o Criador tira da sua pureza absoluta? Problema eterno!

         O compositor que concebe a harmonia a traduz na grosseira linguagem chamada música; concreta a sua idéia e a escreve. O artista aprende a forma e escolhe o instrumento que lhe permita exprimir a ideia. Acionado pelo instrumento, o ar a transporta ao ouvido do ouvinte e o ouvido a transmite à alma. Mas, o compositor foi impotente para expressar inteiramente a harmonia que concebera, por falta de uma língua apropriada. O executante, a seu turno, não compreendeu toda a idéia escrita e o instrumento indócil de que ele se serve não lhe permite traduzir tudo o que haja compreendido. O ouvido é afetado pelo ar grosseiro que o cerca e a alma, enfim, recebe, por um órgão rebelde, a horrível tradução da idéia desabrochada na alma do maestro. Essa idéia era o seu sentimento íntimo. Embora desvirtuada pelos agentes da instrumentação e da percepção, ela sempre causa sensações nos que a ouvem traduzida; essas sensações são a harmonia.

         A música as produziu; elas são efeito da música. Esta é posta a serviço do sentimento para ocasionar a sensação. O sentimento, na composição, é a harmonia; a sensação, no ouvinte, é também a harmonia, com a diferença de que é concebida por um e recebida pelo outro. A música é o médium da harmonia; ela a recebe e a dá, como o refletor é o médium da luz, como tu és o médium dos Espíritos. Transmite-a mais ou menos deformada, conforme seja bem ou mal executada, do mesmo modo que o refletor envia mais ou menos bem a luz, conforme seja mais ou menos brilhante e polido, do mesmo modo que o médium exprime mais ou menos bem os pensamentos dos Espíritos, conforme seja mais ou menos maleável.

        Agora, que a harmonia está bem compreendida na sua significação, que se sabe ser ela concebida pela alma e transmitida à alma, compreender-se-á a diferença que existe entre a harmonia da Terra e a do Espaço.

         Na Terra, tudo é grosseiro: o instrumento de tradução e o instrumento de percepção. Entre nós, tudo é sutil: vós tendes o ar, nós temos o éter; tendes um órgão que obstrui e vela; nós temos a percepção direta. Entre vós, o autor é traduzido; entre nós, ele opera sem intermediário e numa língua que exprime todas as concepções. Entretanto, essas harmonias têm a mesma fonte de origem, como a luz da Lua tem a mesma fonte de origem que a do Sol; a harmonia da Terra não é mais do que reflexo da harmonia do Espaço.

        É tão indefinível a harmonia, quanto a felicidade, o temor, a cólera. É um sentimento. Só a pode compreender quem a possui e só a possui quem a tenha adquirido. O homem jovial não pode explicar a sua jovialidade; o que é timorato não pode explicar a sua timidez; podem expor os fatos que esses sentimentos provocam, defini-los, descrevê-los; mas, os sentimentos, esses se conservam inexplicados. O fato que a um causa alegria, nada a outro produzirá; o objeto que ocasiona o temor em um determinará a coragem noutro. As mesmas causas geram efeitos contrários; em física isto não existe, em metafísica existe. Existe, porque o sentimento é propriedade da alma e as almas diferem de sensibilidade entre si, de impressionabilidade, de liberdade.

         A música, que é a causa segunda da harmonia percebida, penetra e transporta a um, deixando frio e indiferente a outro. É que o primeiro se acha em estado de receber a impressão que a harmonia produz, ao passo que o segundo se acha em estado oposto; ele ouve o ar que vibra, mas não compreende a idéia lhe que ele traz. Este chega a entediar-se e a adormecer, enquanto que aquele outro se entusiasma e chora. Evidentemente, o homem que goza as delícias da harmonia é muito mais elevado, mais depurado, do que aquele em quem ela não logra penetrar; sua alma, mais apta a sentir, desprende-se mais facilmente e a harmonia lhe auxilia o desprendimento; transporta-a e lhe permite ver melhor o mundo moral. Deve-se concluir daí que a música é essencialmente moralizadora, uma vez que traz a harmonia às almas e que a harmonia as eleva e engrandece.

         Toda gente reconhece a influência da música sobre a alma e sobre o seu progresso. Mas, a razão dessa influência é em geral ignorada. Sua explicação está toda neste fato: que a harmonia coloca a alma sob o poder de um sentimento que a desmaterializa. Este sentimento existe em certo grau, mas desenvolve-se sob a ação de um sentimento similar mais elevado. Aquele que esteja desprovido de tal sentimento é conduzido gradativamente a adquiri-lo: acaba deixando-se penetrar por ele e arrastar ao mundo ideal, onde esquece, por instantes, os prazeres inferiores que prefere à divina harmonia.

         Agora, se considerarmos que a harmonia sai do concerto do Espírito, deduziremos que a música exerce salutar influência sobre a alma e a alma que a concebe também exerce influência sobre a música. A alma virtuosa, que nutre a paixão do bem, do belo, do grandioso e que adquiriu harmonia, produzirá obras primas capazes de penetrar as mais endurecidas almas de comovê-las. Se o compositor é terra-a-terra, como poderá exprimir a virtude de que desdenha, o belo que ignora e o grandioso que não compreende?

         Suas composições refletirão seus gostos sensuais, sua leviandade, sua negligência. Serão ora licenciosas, ora obscenas, ora cômicas, ora burlescas; comunicarão aos ouvintes os sentimentos que exprimirem e os perverterão, em vez de melhorá-los.

         O Espiritismo, com o moralizar os homens, exercerá, pois, grande influência sobre a música. Produzirá mais compositores virtuosos, que transfundirão suas virtudes ao fazerem ouvidas suas composições.
 
         Rir-se-á menos; chorar-se-á mais; a hilaridade cederá lugar à emoção, a fealdade à beleza e o cômico à grandiosidade.

         Por outro lado, os ouvintes que o Espiritismo dispuser a receber facilmente a harmonia gozarão, ouvindo a música séria, de verdadeiro encanto; desprezarão a música frívola e licenciosa, que seduz as massas. Quando o grotesco e o obsceno forem varridos pelo belo e pelo bem, desaparecerão os compositores daquela ordem, porquanto, sem ouvintes, nada ganharão, e é para ganhar que eles se emporcalham.
         Oh! sim, o Espiritismo terá influência sobre a música! Como poderia não ser assim? Seu advento transformará a arte, depurando-a. Sua origem é divina, sua força o levará a toda parte onde haja homens para amar, para elevar-se e para compreender. Ele se tornará o ideal e o objetivo dos artistas. Pintores, escultores, compositores, poetas irão buscar nele suas inspirações e ele lhas fornecerá, porque é rico, é inesgotável.

         O Espírito do maestro Rossini voltará, numa nova existência, a continuar a arte que ele considera a primeira de todas. O Espiritismo será seu símbolo e o inspirador de suas composições.

Rossini
(Médium: Nivart)


Fonte: Obras Póstumas. Allan Kardec.


quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Post.234: MÚSICA NA VISÃO DA DOUTRINA ESPÍRITA

         Toda a criação universal é sinfonia, tendo como força propulsora a Força Divina. Tudo no Universo é harmonia e está em sintonia. A música está em tudo até mesmo no silêncio. Mas, que ainda não compreendemos o que é Música. 

        Encontramos no O Livro dos Espíritos a questão 251, em que Allan Kardec perguntou aos espíritos superiores:
        Os espíritos são sensíveis à música? 

        Resposta: “Quereis falar de vossa música? O que é ela diante da música celeste? Desta harmonia que nada sobre a Terra pode vos dar uma ideia? Uma é para a outra o que o canto selvagem é para a suave melodia. Entretanto, os espíritos vulgares podem experimentar um certo prazer em ouvir a vossa música, porque não são ainda capazes de compreender outra mais sublime. A música tem para os espíritos encantos infinitos, em razão de suas qualidades sensitivas muito desenvolvidas. Refiro-me à música celeste, que é tudo o que a imaginação espiritual pode conceber de mais belo e de mais suave.”

        No livro O Espiritismo na Arte, de Léon Denis, nos é explicado o elo existente entre a música e a mediunidade: "Os grandes músicos terrestres podem, como os outros artistas, receber a inspiração, seja do espaço, seja como resultante de trabalhos anteriores. Trata-se exatamente do mesmo fenômeno que se produz com os outros artistas". Já no capítulo "A Música Terrestre", Léon Denis diz: "O canto e a música, em sua íntima união, podem produzir a mais alta impressão. Quando ela é sustentada por nobres palavras, a harmonia musical pode elevar as almas às regiões celestes. É o que se realiza com a música religiosa, com o canto sacro".

        Já o médium Divaldo Franco nos ensina que: “A música erudita e harmoniosa é uma emanação do Psiquismo Divino. Ela acalma e produz um ritmo nas células que favorece a saúde. Pesquisas científicas já demonstraram que, quando uma pessoa medita, ela altera os seus padrões de funcionamento cerebral, o que se evidência com o uso de técnicas modernas de neuroimagem, que registram alterações em áreas cerebrais relativas a certas percepções e emoções, com decorrência do estado mental que o indivíduo imprime a si mesmo. Algumas áreas são acionadas e outras sofrem uma momentânea redução no seu funcionamento. O mesmo raciocínio é válido para a influência que a música exerce sobre o cérebro.

       Existem músicas hipnóticas de efeito positivo, como é o caso dos mantras utilizados há milênios pelas tradições orientais. Mas algumas religiões ocidentais também se valem de técnicas semelhantes. Vemos, na Igreja Católica, a utilização das jaculatórias, que são breves orações ou invocações que incluem em uma sequência programada orações mais extensas. O terço é um instrumento que os religiosos utilizam para favorecer a manutenção de um ritmo nas orações. Essa ritmicidade específica funciona como um verdadeiro mantra, levando ao êxtase. Na música tribal, que os nossos antepassados cultivavam em seus rituais, existem expressões sonoras que excitam e despertam inclusive a sensualidade.”

        Nas musicas pesada e vulgares temos padrões sonoros que incitam à violência, pois geram no organismo grandes descargas de adrenalina produzidas pelas glândulas suprarrenais, que são atiradas na corrente sanguínea e o corpo não consegue eliminar rapidamente, causando excitações prolongadas. Como a oferta de sexo é abundante e pode ser encontrada em qualquer lugar, essa forte excitação induz o indivíduo a manter relacionamentos que satisfazem o apelo fisiológico a que foi submetido, satisfazendo satisfação que também se dá por meio do consumo de substâncias psicoativas, levando o indivíduo à dependência química.

        Allan Kardec abordou esse temática - música, em certa vez na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, o Espírito de Gioachino Antonio Rossini veio se comunicar com aqueles estudiosos. No livro Obras Póstumas, de Allan Kardec, Rossini que foi um renomado compositor italiano erudito, muito popular em seu tempo, que criou 39 óperas, assim como diversos trabalhos para música sacra e música de câmara. Afirmou que não é que haja música na espiritualidade, mas que a música é do mundo dos espíritos e que esta é sem comparação. E que as entidades elevadas que dominam a técnica musical a produzem por ação direta com o fluido cósmico, cujas vibrações penetram no âmago dos seres e se confundem com a prece, glorificando a Deus e elevando ao êxtase aqueles que são capazes de concebê-la. Tal configuração ressoa no éter de maneira que nenhum instrumento humano jamais será capaz de imitar ao menos aproximado.

        Se aqui na Terra essa carga de sentimentos de que se compõe uma música pode ser falseada ou mal reproduzida, no mundo espiritual isso não é possível, pois a transmissão é de espírito para espírito, sem uso de instrumentos rudes e limitados. Os Espíritos musicam o composto exato daquilo que são. Este se enleva com a qualidade da obra conforme seu estágio evolutivo. E escutar não é simplesmente um ato passivo, mas é, além disso, ressoar na mesma faixa de vibração — positiva ou negativa — tal qual uma câmara de eco. O gênero da musicalidade serve para classificar os espíritos. 



         No livro O Consolador, Emmanuel relata que o artista verdadeiro é sempre o médium das belezas eternas e o seu trabalho, em todos os tempos, foi tanger as cordas mais vibráveis do sentimento humano, alçando-o da Terra para o infinito e abrindo, em todos os caminhos, a ânsia dos corações para Deus nas suas manifestações supremas de beleza, de sabedoria, de paz e de amor.

         A arte faz parte da evolução humana desde muito antes do que imaginamos, encontramos cada vez mais por meio da ciência evidências de que nossos antepassados já se utilizávamos desta grandíssima ferramenta evolutiva. Abaixo coloco a música mais antiga do mundo como os cientistas a chama. Esta música tem cerca de 3.400 anos, foram os cientistas da Universidade da Califórnia, em Berkeley, que decodificaram um conjunto de antigos textos cuneiformes, e o resultado você ver abaixo da recriação da antiga peça musical.




O corpo das tubinhas cuneiformes anciãs, conhecidas como texto léxico, foi descoberto pela primeira vez na década de 1950 na antiga cidade Síria de Ugarit. Antes, não se sabia quase nada sobre a música sumério-babilônica, a não ser o tipo de instrumentos musicais utilizados, o que se deduziu a partir de imagens esculpidas e de vestígios arqueológicos encontrados. Eram completamente desconhecidas a teoria e a prática do que se considerava uma arte divina, cujo patrono era o deus Enki/Ea, que governava os reinos da magia, da arte e do artesanato.

Mas, recentemente, foi encontrada uma coleção que conta com quatro textos cuneiformes individuais e um quinto grupo de textos com uma teoria e notação musical complexas e um hino de louver de quase 3.400 anos, ou seja, a peça completa mais antiga da música escrita já descoberta. A tábua contém a letra de um hino a Nikkal, deusa das plantações, e intruçoes para um cantor, acompanhadas de um sammûm de nove cordas, um tipo de harpa ou lira.

Os especialistas da Universidade da Califórnia publicaram um livro de áudio chamado “Uma Canção do Culto Hurrian da Antiga Ugarit”. Outros cientistas e artistas realizaram suas próprias versões dessa música ancestral.



sábado, 5 de novembro de 2016

TODO PEDAÇO QUE DEIXARMOS PELO CAMINHO NOS OBRIGARÁ A VOLTAR PARA BUSCÁ-LO

        No pensamento teológico-cristão há uma velha tradição, que narra que todos nós possuímos uma cruz invisível que nos compete carregar na Terra a fim de chegarmos ao Reino dos Céus. Logo depois que morremos a cruz se torna visível em nossos ombros e deveremos carregá-la montanha acima, pois logo após o cume está a porta da libertação.

        Certa vez, uma alma que na Terra carregava uma cruz de largas proporções, já não aguentava mais de tanto sofrimento. Ao morrer e ver no mundo espiritual o tamanho de sua cruz, ficou inconsolável e não compreendeu a situação. Pensava consigo mesma: “Mas não é possível! A minha cruz é maior que a do Cristo! Eu não entendo!”.

        Enquanto se lamentava na subida da montanha, viu ao seu lado passarem outras almas carregando cruzes de tamanhos variados. Alguns transportavam cruzes bem menores e outros levavam apenas um pequeno crucifixo pendurado no pescoço. A pobre alma permanecia suportando o peso daquela cruz enorme, que ao ser arrastada, às vezes, ficava presa numa pedra ou numa frincha no solo, enquanto os outros, com suas cruzes minúsculas, passavam por ela e até riam da situação, o que lhe provocava mais insatisfação e revolta. Ela pensou então: “Realmente eu creio
que algo está errado!”.
        Na primeira oportunidade em que encontrou um local de repouso para a árdua subida, a alma viu um serrote pendurado numa porta e teve uma ideia: Em seguida pegou a ferramenta e cortou a sua cruz bem próximo ao local em que a tora vertical se fixa na horizontal. Como resultado, obteve uma cruz com apenas um terço do tamanho original, muito menor e mais leve para carregar. A alma exultou e subiu correndo, chegando ao topo com relativa facilidade.

        Do outro lado estava São Pedro, na entrada do Paraíso, conforme as lendas da teologia cristã relatam. Ele olhou para alma com ternura e disse:

— Venha! Estamos esperando por você! A porta está aberta!

        A viajante deu-se conta de que entre o cume da montanha e o Céu havia um espaço. Perguntou, então, ao nobre Santo:

— E este abismo? O que eu faço? São Pedro retrucou:

— Ponha a cruz e passe por cima dela, meu filho! Utilize-a como ponte!
Daí, a alma colocou a sua cruz e ela não era suficiente para chegar à porta.

        Em desespero, ela afirmou:

— São Pedro, a cruz não dá! É pequena demais! O porteiro celestial concluiu:

— Então vá buscar o resto da cruz que ficou lá embaixo, meu filho!


         O grande ensino desta lenda nos faz refletir que: todo pedaço que deixarmos pelo caminho nos obrigará a voltar para buscá-lo. Então devemos viver de uma forma para não deixarmos pedaços pelo caminho, pedaços estes que causa dificuldades de todos os tipos em nossa vida, e que continuam depois que desencarnarmos. Temos que trabalhar nessas dificuldades porque é uma perca de tempo no nosso processo evolutivo voltarmos para recuperar e colar estes pedaços de dificuldades que deixarmos pelo caminho. Lembremos sempre que a todo momento é uma nova oportunidade de recomeçar. 


“Somos livres para decidir sobre os nossos atos, muito embora, nos tornemos escravos de suas conseqüências.” (Chico Xavier)