O objetivo dos flagelos
destruidores é fazer a humanidade avançar mais depressa. A destruição é
necessária para a regeneração moral dos espíritos, que adquirem, a cada nova
existência, um novo grau de perfeição. É preciso ver o fim para poder apreciar
os resultados. Esses transtornos são, frequentemente, necessários para
fazer alcançar, mais prontamente, uma ordem melhor de coisas, em alguns anos o
que exigiria séculos.
Deus emprega todos os
dias outros meios sem ser os flagelos destruidores para aprimorar a humanidade,
visto que deu a cada um os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do
mal. É que o homem não aproveita; é preciso o homem ser tocado no seu orgulho e
fazê-lo sentir sua fraqueza.
Durante a vida, o homem
relaciona tudo com o seu corpo, mas, depois da morte, ele pensa de outra forma,
pois a vida do corpo é pouca coisa. Um século no mundo material é um relâmpago
na eternidade. Portanto, os sofrimentos de alguns meses ou alguns dias, não são
nada, apenas um ensinamento para nós, e que nos servirá no futuro. O mundo
espiritual é o mundo real, preexistente e sobrevivente a tudo, são os filhos de
Deus e o objeto de toda a sua solicitude; os corpos físicos são apenas os
trajes com os quais eles aparecem no mundo material. Nas grandes calamidades
que dizimam os homens, é como um exército que, durante a guerra, vê seus trajes
usados, rasgados ou perdidos. O general tem mais cuidado com seus soldados do
que com suas vestes.
Mas as vítimas desses
flagelos não são menos vítimas?
Se considerarmos a vida
por aquilo que ela é, e o pouco que é com relação ao infinito, se atribuiria
menos importância a isso. Essas vítimas encontrarão, em uma outra existência,
uma larga compensação aos seus sofrimentos, se elas sabem suportá-los sem
murmurar.
Que chegue a morte por um
flagelo ou por uma causa comum, não se pode escapar a ela quando soa a hora de
partida: a única diferença é que com isso, nos desencarnes por flagelo, parte
um maior número de uma vez.
Se pudéssemos nos elevar,
pelo pensamento, de maneira a dominar a Humanidade e abrangê-la inteiramente,
esses flagelos tão terríveis não nos pareceriam mais que tempestades
passageiras no destino do mundo.
Os flagelos destruidores
tem uma utilidade, sob o ponto de vista físico, pois eles mudam, algumas vezes,
o estado de uma região; mas o bem que disso resulta não é, frequentemente,
percebido senão pelas gerações futuras.
Os flagelos são provas
que fornecem ao homem a ocasião de exercitar sua inteligência, de mostrar sua
paciência e sua resignação à vontade de Deus, e o orientam para demonstrar seus
sentimentos de abnegação, de desinteresse e de amor ao próximo, se ele não está
mais dominado pelo egoísmo.
O homem pode evitar os flagelos por uma parte, mas não como se pensa, geralmente. Muitos flagelos são o resultado da imprevidência do homem; à medida que o homem adquire conhecimentos e experiência, pode evitá-los, quer dizer, preveni-los, se sabe procurar-lhes as causas. Mas entre os males que afligem a Humanidade, há os gerais que estão nos desígnios da Providência, e dos quais cada indivíduo recebe mais ou menos, a repercussão. A estes o homem não pode opor senão a resignação à vontade de Deus e, ainda, esses males são agravados, frequentemente, pela sua negligência.
Entre os flagelos
destruidores, naturais e independentes do homem, é preciso incluir na primeira
linha a peste, a fome, as inundações, as intempéries fatais à produção da
terra. Mas o homem não encontrou na ciência, nos trabalhos de arte, no
aperfeiçoamento da agricultura, nos afolhamentos e na irrigação, no estudo das
condições higiênicas, os meios de neutralizar, ou pelo menos atenuar, os
desastres? Certas regiões, outrora assoladas por terríveis flagelos, não estão
preservadas hoje? Que não fará, portanto, o homem por seu bem-estar material
quando souber aproveitar todos os recursos de sua inteligência e quando ao
cuidado de sua conservação pessoal, souber aliar o sentimento de uma verdadeira
caridade por seus semelhantes?
Fonte: O Livro dos
Espíritos, de Allan Kardec. Cap.VI – Lei de Destruição, questões 737 à 741.
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