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sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

ORAÇÃO DOMINICAL | PAI NOSSO – DESENVOLVIDO, COMENTADO


Prefácio. Os espíritos recomendaram colocar a Oração Dominical à frente da Obra Coletânea de Preces Espíritas, Allan Kardec, não somente como prece, mas como símbolo, de todas as preces, é a que colocam em primeiro plano, seja porque ela veio do próprio Jesus (São Mateus, cap. VI, v. de 9 a 13), seja porque pode substituir a todas, segundo o pensamento que se lhe fixa; é o mais perfeito modelo de concisão, verdadeira obra-prima de sublimidade na sua simplicidade. Com efeito, sob a mais restrita forma, resume todos os deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com o próximo, encerra uma profissão de fé, um ato de adoração e de submissão, o pedido das coisas necessárias à vida, e o princípio da caridade. Dizê-la em intenção de alguém, é pedir para ele o que se pediria para si.

                Entretanto, em razão mesmo da sua brevidade, o sentimento profundo encerrado em algumas palavras das quais ela se compõe, escapa à maioria; por isso é dita, geralmente, sem dirigir o pensamento sobre as aplicações de cada uma das suas partes; é dita como uma fórmula, cuja eficácia é proporcional ao número de vezes que é repetida (...).

Para completar o vago que a concisão dessa prece deixa no pensamento, segundo o conselho e com a assistência dos bons espíritos, foi juntado a cada proposição um comentário que lhes desenvolve o sentido e mostra suas aplicações. Segundo as circunstâncias e o tempo disponível, pode-se dizer, pois, a Oração Dominical simples ou desenvolvida.



Prece.

I – Pai Nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome!
Cremos em vós, Senhor, porque tudo revela o vosso poder e a vossa bondade. A harmonia do Universo testemunha uma sabedoria, uma prudência e uma previdência que suplantam todas as faculdades humanas; o nome de um ser soberanamente grande e sábio está inscrito em todas as obras da Criação, desde o ramo de erva e no menor inseto, até os astros que se movem no espaço, por toda parte vemos a prova de uma solicitude paterna; por isso, cego é aquele que não vos reconhece em vossas, obras, orgulhoso aquele que não vos glorifica e ingrato aquele que não vos rende ações de graça.

II – Venha o vosso reino!
Senhor, destes aos homens leis cheias de sabedoria e que fariam a sua felicidade se as observassem. Com essas leis, fariam reinar entre eles a paz e a justiça; se entre ajudariam mutuamente, em lugar de se prejudicarem como o fazem; o forte sustentaria o fraco em lugar de esmagá-lo; evitariam os males que engendram os abusos e os excessos de todos os gêneros. Todas as misérias desde mundo vem da violação de vossas leis, porque não há uma só infração que não tenha consequências fatais.
Destes ao animal o instinto que lhe traça o limite do necessário, e ele com isso maquinalmente se conforma; mas ao homem, além desse instinto, destes a inteligência e a razão; destes também a liberdade de observar ou infringir aquelas de vossas leis que lhe concernem pessoalmente, quer dizer, de escolher entre o bem e o mal, a fim de que tenha o mérito e a responsabilidade das suas ações.
Ninguém pode pretextar ignorância de vossas leis, porque em vossa previdência paternal, quisestes que elas fossem gravadas na consciência de cada um, sem distinção de culto nem de nações; aqueles que as violam é porque vos desconhecem.
Dia virá em que, segundo a vossa promessa, todos as praticarão; então, a incredulidade terá desaparecido; todos vos reconhecerão por soberano Senhor de todas as coisas, e o reino de vossas leis será o vosso reino na Terra.
Dignai-vos, Senhor, apressar o seu advento, dando aos homens a luz necessária para conduzi-los ao caminho da verdade.

III – Seja feita a vossa vontade, na Terra, como no céu! 
Se a submissão é um dever do filho com relação ao pai, do inferior para com o superior, quanto não deve ser maior a da criatura com relação ao seu criador. Fazer a vossa vontade, Senhor, é observar as vossas leis e se submeter, sem murmurar, aos vossos decretos divinos; o homem a isso se submeterá, quando compreender que sois a fonte de toda a sabedoria, e que sem vós, ele nada pode; então, fará vossa vontade na Terra, como os eleitos no céu.

IV – Dai-nos o pão de cada dia.
Dai-nos o alimento para a manutenção das forças do corpo; dai-nos também o alimento espiritual para o desenvolvimento do nosso espírito.
O animal encontra o seu alimento, mas o homem o deve à sua própria atividade e aos recursos da sua inteligência, porque o criastes livre.
Vós lhe dissestes: “Tirarás teu alimento da terra com o suor da tua fronte”; com isso, lhe fizestes do trabalho uma obrigação, a fim de que ele exercite a sua inteligência na procura dos meios de prover as suas necessidades e seu bem-estar, uns pelo trabalho material, outros pelo trabalho intelectual; sem o trabalho, permaneceria estacionário e não poderia aspirar à felicidade dos espíritos superiores.
Secundais o homem de boa vontade que se confia a vós para o necessário, mas não aquele que se compraz na ociosidade e gostaria de tudo obter sem trabalho, nem aquele que procura o supérfluo.
Quantos são os que sucumbem por suas próprias faltas, por sua incúria, sua imprevidência ou sua ambição, e por não quererem se contentar com o que lhes destes! Estes são os artífices de seu próprio infortúnio e não tem o direito de se lamentar, porque são punidos naquilo em que pecaram. Mas a estes mesmos, não abandoneis, porque sois infinitamente misericordioso; vós lhe estendeis mão segura desde que, como o filho prodigo, retornem sinceramente a vós.
Antes de nos lamentarmos da nossa sorte, perguntemo-nos se ela não é obra nossa; a cada infelicidade que nos chegue, perguntemo-nos se não dependeu de nós evitá-la; mas digamos também que Deus nos deu a inteligência para nos tirar do lamaçal, e que depende de nós dela fazer uso.
Uma vez que a lei do trabalho é a condição do homem na Terra, dai-nos a coragem e a força para cumpri-la, dai-nos também a prudência, a previdência e a moderação, a fim de não perder-lhe o fruto.
Dai-nos, pois, Senhor, nosso pão de cada dia, quer dizer, os meios de adquirir, pelo trabalho, as coisas necessárias à vida, porque ninguém tem direito de reclamar o supérfluo.
Se o trabalho nos é impossível, nos confiemos à vossa divina providência.
Se está em vossos desígnios nos experimentar pelas mais duras privações, malgrado os nossos esforços, nós as aceitaremos como uma justa expiação de faltas que tenhamos cometido nesta vida, ou numa vida precedente, porque sois justo; sabemos que não há penas imerecidas, e que não punis jamais sem causa.
Preservai-nos, ó meu Deus, de conceber a inveja contra aqueles que possuem o que não temos, nem mesmo contra aqueles que tem o supérfluo, quando nos falta o necessário. Perdoai-lhes, se olvidam a lei de caridade e de amor ao próximo, que lhes ensinastes.
Afastai também do nosso espírito o pensamento de negar a vossa justiça, vendo a prosperidade do mau e a infelicidade que oprime, por vezes, o homem de bem. Sabemos, agora, graças ás novas luzes que vos aprouve dar-nos, que a vossa justiça se cumpre sempre e não falta a ninguém; que a prosperidade material do mau é efêmera como a sua existência corporal, e que terá terríveis reveses, ao passo que a alegria reservada aquele que sofre com resignação será eterna.

V – Perdoai as nossas dívidas como nós as perdoamos aqueles que nos devem. Perdoai as nossas ofensas, como perdoamos aqueles que nos ofenderam.
Cada uma das nossas infrações às vossas leis, Senhor, é uma ofensa para convosco, e uma divida contraída que nos será preciso, cedo ou tarde, pagar. Para elas solicitamos o perdão de vossa infinita misericórdia, sob a promessa de fazer esforços para não contrair dividas novas.
Fizestes uma lei expressa da caridade; mas a caridade não consiste somente em assistir o semelhante na necessidade; consiste também no esquecimento e no perdão das ofensas. Com que direito reclamaríamos a vossa indulgência, se nós mesmos faltamos com ela em relação aqueles dos quais temos do que nos queixar?
Dai-nos, ó meu Deus, a força para sufocar em nossa alma todo ressentimento, todo ódio e todo rancor; fazei com que a morte não nos surpreenda com um desejo de vingança no coração. Se voz apraz nos retirar hoje mesmo deste mundo, fazei com que possamos nos apresentar a vós puros de toda animosidade, a exemplo do Cristo, cujas ultimas palavras foram por seus algozes.
As perseguições que os maus nos fazem suportar fazem parte das nossas provações terrestres; devemos aceitá-las sem murmurar, como todas as outras provas, e não maldizer aqueles que, por sua maldade, nos abrem o caminho da felicidade eterna, porque dissestes pela boca de Jesus: “Bem-aventurados aqueles que sofrem pela justiça!” Bendigamos, pois, a mão que nos fere e nos humilha, porque as contusões do corpo fortalecem nossa alma, e seremos levantados da nossa humildade.
Bendito seja o vosso nome, Senhor, por nos haverdes ensinado que a nossa sorte não está irremediavelmente fixada depois da morte; que encontraremos em outras existências os meios de resgatar e de reparar as nossas faltas passadas, de cumprir numa nova vida o que não pudemos fazer nesta por nosso adiantamento.
Assim se explicam, enfim, todas as anomalias aparentes da vida; é a luz lançada sobre nosso passado e nosso futuro, o sinal radioso da vossa soberana justiça e da vossa bondade infinita.

VI – Não nos abandoneis à tentação, mas livrai-nos do mal.
Dai-nos, Senhor, a força de resistir às sugestões dos maus espíritos que tentarem nos desviar do caminho do bem, em nos inspirando maus pensamentos.
Mas, somos, nós mesmos, espíritos imperfeitos, encarnados sobre esta Terra para expiar e nos melhorarmos. A causa primeira do mal está em nós, e os maus espíritos não fazem senão aproveitar nossas tendências viciosas, nas quais nos mantêm, para nos tentar.
Cada imperfeição é uma porta aberta à sua influência, ao passo que nada podem, e renunciam a toda tentativa, contra os seres perfeitos. Tudo o que poderíamos fazer para os afastar é inútil se não lhes opusermos uma vontade inabalável no bem, e uma renúncia absoluta ao mal. É, pois, contra nós mesmos que é preciso dirigir nossos esforços, e então os maus espíritos se afastarão naturalmente, porque é o mal que os atrai, enquanto que o bem os repele.
Senhor, sustentai-nos em nossa fraqueza; inspirai-nos, pela voz dos nossos anjos guardiões e dos bons espíritos, a vontade de nos corrigir em nossas imperfeições, a fim de fechar, aos espíritos impuros, o acesso à nossa alma.
O mal não é vossa obra, Senhor, porque a fonte de todo bem não pode nada engendrar de mau; nós mesmos o criamos, infringindo as vossas leis, e pelo mal uso que fazemos da liberdade que nos concedestes. Quando os homens observarem vossas leis, o mal desaparecerá da Terra, como já desapareceu dos mundos mais avançados.
O mal não é uma necessidade fatal para ninguém, e não parece irresistível senão aqueles que a ele se abandonam com satisfação. Se temos a vontade de fazê-lo, podemos ter também a de fazer o bem; por isso, ó meu Deus, pedimos a vossa assistência e a dos bons espíritos para resistirmos a tentação. 

VII – Assim seja.
Praza a vós, Senhor, que os nossos desejos se cumpram! Mas nos inclinamos diante da vossa sabedoria infinita. Sobre todas as coisas que não nos é dado compreender, que seja feito segundo a vossa santa vontade, e não segundo a nossa, porque não quereis senão o nosso bem, e sabeis melhor do que nós o que nos é útil.
Nós vos dirigimos esta prece, meu Deus, por nós mesmos; nós vo-la dirigimos também por todas as almas sofredoras, encarnadas ou desencarnadas, por nossos inimigos, por todos aqueles que reclamam a nossa assistência, e em particular por (dizer o nome da pessoa).
Pedimos para todos a vossa misericórdia e a vossa bênção.


Fonte: Livro – O Evangelho Segundo o Espiritismo, em Coletânea de Preces Espíritas. Allan Kardec. 

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