Translate

quinta-feira, 11 de maio de 2017

DA NATUREZA E ATRIBUTOS DE DEUS

        O homem não pode compreender a natureza íntima de Deus, é um sentido que lhe falta. O homem só irá compreender o mistério da Divindade quando seu espírito não estiver mais obscurecido pela matéria e, pela sua perfeição, estiver próximo de Deus, então, o homem verá e compreenderá Deus. Pois, a inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender a natureza íntima de Deus. Na infância da Humanidade, o homem o confunde, frequentemente, com a criatura, da qual lhe atribui as imperfeições. Mas, à medida que o senso moral se desenvolve nele, seu pensamento penetra melhor o fundo das coisas, e dele faz uma ideia mais justa e mais conforme a sã razão.

        Como não podemos compreender a natureza íntima de Deus no nosso atual 
estagio evolutivo, podemos ter uma ideia de algumas de Suas Perfeições, porque vamos compreendendo melhor à medida que nos elevamos acima da matéria, e vamos entrevê as Suas Perfeições pelo pensamento. 

        Então, não é dado ao homem sondar a natureza íntima de Deus. Para compreender Deus nos falta, ainda, o sentido que não se adquire senão pela completa depuração do Espírito. Mas, se o homem não pode penetrar a sua essência, sendo a sua existência dada como premissa, pode, pelo raciocínio, chegar ao conhecimento dos seus atributos necessários; porque, em vendo o que não pode deixar, sem cessar, de ser Deus, disso conclui o que deve ser. 

                   


        Sem o conhecimento dos atributos de Deus, seria impossível compreender a obra da criação; é o ponto de partida de todas as crenças religiosas, e foi pela falta de a ela se referirem, como farol que poderia dirigi-las, que a maioria das religiões errou em seus dogmas. As que não atribuíram a Deus a onipotência, imaginaram vários deuses; as que não lhe atribuíram a soberana bondade, dele fizeram um deus ciumento, colérico, parcial e vingativo.

        - Deus é a suprema e soberana inteligência. A inteligência do homem é limitada, uma vez que não pode nem fazer e nem compreender tudo o que existe; a de Deus, abarcando o Infinito, deve ser infinita. Se se supusesse limitada em um ponto qualquer, poder-se-ia conceber um ser ainda mais inteligente, capaz de compreender e de fazer o que o outro não faria, e, assim, sucessivamente até o infinito.

        - Deus é eterno, quer dizer que não teve começo e nem terá fim. Se houvesse tido um começo, teria saído do nada; o nada não sendo nada, nada pode produzir; ou bem ele haveria sido criado por um ser anterior, e, então, esse ser é que seria Deus. Se se lhe supusesse um começo ou um fim, poder-se-ia, pois, conceber um ser tendo existido antes dele, ou podendo existir depois dele, e assim sucessivamente até o infinito.

        - Deus é imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo não teriam nenhuma estabilidade.

        - Deus é imaterial, quer dizer, que a sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria; de outro modo, não seria imutável, porque estaria sujeito às transformações da matéria. Deus não tem forma apreciável pelos nossos sentidos; sem isto, seria matéria. (...)

       - Deus é todo-poderoso. Porque é único. Se não tivesse o supremo poder, poder-se-ia conceber um ser mais poderoso, e assim, sucessivamente até que se encontrasse o ser que nenhum outro poderia superar em poder, e este é que seria Deus.

        - Deus é soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das leis divinas se revela nas pequenas coisas como nas maiores, e essa sabedoria não permite duvidar nem da sua justiça, nem da sua bondade. (...) A soberana bondade implica na soberana justiça; porque se agisse injustamente, ou com parcialidade, em uma só circunstância, ou com relação a uma só das suas criaturas, não seria soberanamente justo e, por consequência, não seria soberanamente bom.


        - Deus é infinitamente perfeito. É impossível conceber Deus sem o infinito das perfeições, sem o que não seria Deus, porque se poderia sempre conceber um ser possuindo o que lhe faltasse. Para que nenhum ser possa superá-lo, é preciso que seja infinito em tudo.

        - Deus é único. A unidade de Deus é a consequência do infinito das perfeições. Um outro Deus não poderia existir senão com a condição de ser igualmente infinito em todas as coisas; porque se houvesse, entre eles, a mais leve diferença, um seria inferior ao outro, subordinado ao seu poder, e não seria Deus. Se houvesse, entre eles, igualdade absoluta, seria, de toda a eternidade, um mesmo pensamento, uma mesma vontade, um mesmo poder; assim, confundidos em sua identidade, não seriam, em realidade, senão um único Deus. Se cada um tivesse atribuições especiais, um faria o que o outro não faria, e, então, não teriam, entre eles, igualdade perfeita, uma vez que, nem um nem o outro, teria a soberana autoridade.

       Então, quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, é uma ideia de como é Deus do nosso ponto de vista, porque cremos tudo abraçar. Mas há coisas acima da inteligência do homem mais inteligente, e para as quais nossa linguagem é limitada as nossas ideias e as nossas sensações, não tem expressão adequada.

       Foi a ignorância do infinito das perfeições de Deus que engendrou o politeísmo, culto de todos os povos primitivos; eles atribuíram divindade a todo poder que lhes pareceu acima da Humanidade; mais tarde, a razão levou-os a confundir essas diversas potências em uma única. Depois, à medida que os homens compreenderam a essência dos atributos divinos, suprimiram, dos seus símbolos, as crenças que dele eram a negação.

       Em resumo, Deus não pode ser Deus senão com a condição de ai ser superado, em nada, por um outro ser; porque, então, o ser que o superasse, no que quer que fosse, não fora senão na espessura de um cabelo, seria o verdadeiro Deus; por isso, é preciso que seja infinito em todas as cosias.

       É assim que, estando a existência de Deus constatada pelo fato das suas obras, chega-se pela simples dedução lógica, a determinar os atributos que o caracterizam.

       Deus é, pois, a suprema e soberana inteligência; é único, eterno, imutável, imaterial, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, infinito em todas as suas perfeições, e não pode ser outra coisa. Tal é o eixo sobre o qual repousa o edifício universal; é o farol cujos raios se estendem sobre o Universo inteiro, e que, unicamente, pode guiar o homem na procura da verdade; seguindo-O, o homem não se perderá nunca, e se está tão frequentemente extraviado é por falta de ter seguido a rota que lhe estava indicada.

       Tal é, também, o critério infalível de todas as doutrinas filosóficas e religiosas; o homem tem, para julgá-las, uma medida, rigorosamente exata, nos atributos de Deus, e pode se dizer, com certeza, que toda teoria, todo princípio, todo dogma, toda crença, toda prática que estivesse em contradição com um único dos seus atributos, que tendesse não somente a anulá-los, mas simplesmente enfraquecê-los, não poderia estar com a verdade.

       Em filosofia, em psicologia, em moral, em religião, não há de verdadeiro senão aquilo que não se desvie um iota das qualidades essenciais da Divindade. A verdadeira religião será aquela na qual nenhum artigo de fé esteja em oposição com essas qualidades, na qual todos os dogmas poderão sofrer a prova desse controle, sem dele receber nenhum prejuízo.

                     


Fonte: O Livro dos Espírito, de Allan Karde.
A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Todos podem deixar seu comentário no Blog Jardim Espírita. Se for caso de resposta, responderei assim que poder, podendo levar alguns dias.
Não publicarei comentários que contenham termos vulgares, palavrões, ofensas, publicidade e dados pessoais (como e-mail, telefone, endereços, etc.). E não entrarei em contato por ligação telefônica, nem mensagem de SMS, nem por mensagem de Whatsapp... Podemos nos comunicar sempre por aqui pela área dos comentários do Blog, que acompanhamos as suas mensagens e respondemos no mesmo local, na mesma postagem que foi realizada a mensagem conforme o tempo que tenho disponível. Então fiquem a vontade para comentar!