Encontramos no livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec,
o texto a seguir sobre prece pelos desencarnados e pelos espíritos sofredores.
Como é importante realizar prece para eles, sendo essas orações um vento de
esperança e de luz em seu espírito.
Da prece pelos mortos e pelos espíritos sofredores
18. A prece é reclamada pelos espíritos sofredores; ela lhes é útil
porque vendo que pensam neles, sentem-se menos abandonados, menos infelizes.
Mas a prece tem sobre eles uma ação mais direta: reergue-lhes a coragem,
excita-lhes o desejo de se elevarem pelo arrependimento e pela reparação, e
pode desviá-los do pensamento do mal. É nesse sentido que ela não só pode
aliviar, mas abreviar seus sofrimentos.
19. Certas pessoas não admitem a prece pelo mortos, porque, na sua
crença, não há para a alma senão duas alternativas: ser salva ou condenada às
penas eternas, e, num e noutro caso, a prece
é inútil. Sem discutir o valor dessa crença, admitamos por um instante a
realidade das penas eternas e irremissíveis, e que as nossas preces sejam
impotentes para lhes por um termo. Perguntamos se, nessa hipótese, é lógico,
caridoso e cristão rejeitar a prece pelos condenados? Essas preces, por
impotentes que sejam para os livrar, não são, para eles, um sinal de piedade
que pode dulcificar seu sofrimento? Sobre a Terra, quando um homem é condenado
perpetuamente, no caso mesmo que ele não tenha nenhuma esperança de obter
graça, é proibido a uma pessoa caridosa ir sustentar suas correntes para lhe
aliviar o peso? Quando alguém está atacado de um mal incurável, porque não
oferecer nenhuma esperança de cura, é preciso abandoná-lo sem nenhum alívio? Imaginai
que, entre os condenados, pode se encontrar uma pessoa que vos foi cara, um
amigo, talvez um pai, uma mãe ou um filho, e porque, segundo vós, não poderá
esperar sua graça, lhe recusaríeis um copo de água para estancar-lhe a sede? Um
bálsamo para secar-lhes as feridas? Não faríeis por ele o que faríeis por um
prisioneiro? Não lhe daríeis um testemunho de amor, uma consolação? Não, isso
não seria cristão. Uma crença que resseca o coração não pode se aliar com a de
um Deus que coloca, em primeiro lugar entre os deveres, o amor ao próximo.
A não eternidade das penas não implica a negação de uma penalidade
temporária, porque Deus, na sua Justiça, não pode confundir o bem e o mal. Ora,
negar, nesse caso, a eficácia da prece, seria negar a eficácia da consolação,
do encorajamento e dos bons conselhos. Seria negar a força que se haure na
assistência moral daquele que nos querem bem.
20. Outros se fundamentam numa razão mais especiosa: a imutabilidade dos
decretos divinos. Deus, dizem eles, não pode mudar as suas decisões a pedido de
suas criaturas; sem isso nada seria estável no mundo. O homem, pois, nada tem a
pedir a Deus, não tem senão que se submeter a adorá-lo.
Há, nessa ideia, uma falsa aplicação da imutabilidade da lei divina, ou
melhor, ignorância da lei no que concerne à penalidade futura. Essa lei é
revelada pelos Espíritos do Senhor, hoje
que o homem está maduro para compreender o que, na fé, está conforme ou
contrário aos atributos divinos.
Segundo o dogma da eternidade absoluta das penas, ao culpado não se tem
em conta seus remorsos e seu arrependimento; para ele, todo desejo de se
melhorar é supérfluo e está condenado a permanecer perpetuamente no mal. Se
está condenado por um tempo determinado, a pena cessará quando esse tempo tiver
expirado; mas quem diz que, então, terá mudado para melhores sentimentos? Quem
diz que, a exemplo de muitos condenados na Terra, na sua saída da prisão, não
será tão mau quanto antes? No primeiro caso, seria manter na dor do castigo um
homem que retornou ao bem; no segundo, agraciar aquele que permaneceu culpado.
A lei de Deus é mais previdente que essa; sempre justa, equitativa e misericordiosa,
não fixa nenhuma duração à pena, qualquer que seja; ela se resume assim:
21. “O homem suporta sempre a consequência das suas faltas; não há uma só
infração à lei de Deus que não tenha punição.
A severidade do castigo é proporcional à gravidade da falta.
A duração do castigo, para qualquer falta, é indeterminada e está subordinada ao arrependimento do culpado e seu
retorno ao bem. A pena dura tanto quanto a obstinação no mal, e seria
perpétua se a obstinação fosse perpétua, de curta duração se o arrependimento
chega logo.
Desde que o culpado clame por misericórdia, Deus o ouve e lhe envia a
esperança. Mas o simples remorso do mal não basta, pois é preciso a reparação.
Por isso, o culpado é submetido a novas provas, nas quais pode sempre, por sua
vontade, fazer o bem em reparação ao mal
que fez.
O homem é, assim, constantemente, o árbitro de sua própria sorte, podendo
abreviar seu suplício ou prolongá-lo indefinidamente. Sua felicidade, ou sua
infelicidade, dependem da sua vontade de fazer o bem.”
Tal é a lei; lei imutável e conforme a bondade e a justiça de Deus.
O espírito culpado e infeliz pode, assim, sempre salvar-se a si mesmo: a
lei de Deus lhe diz em que condições pode fazê-lo. Frequentemente, o que lhe
falta é a vontade, a força, a coragem; se, por nossas preces, nós lhe
inspiramos essa vontade, se o sustentamos e encorajamos; se, por nossos
conselhos, nós lhe damos as luzes que lhe faltam, ao invés de solicitar a Deus a derrogação da sua lei, nos tornamos
instrumentos para a execução da sua lei de amor e de caridade, na qual ele
nos permite, assim, participar dando, nós mesmos, uma prova de caridade.
Fonte: O Evangelho Segundo o Espiritismo. Allan Kardec.
Leia também. Link para: PRECE PELAS ALMAS SOFREDORAS
Fonte: O Evangelho Segundo o Espiritismo. Allan Kardec.
Leia também. Link para: PRECE PELAS ALMAS SOFREDORAS
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