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domingo, 24 de abril de 2016

HISTÓRIA DO SUICÍDIO DE UMA MÃE DEPOIS DA MORTE NATURAL DO FILHO

Como vimos na postagem anterior sobre o suicídio que prolonga a separação dos que se amam, há um relato desta natureza no livro O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec. Na segunda parte do livro, no capítulo V de comunicações com espíritos suicidas encontramos o relato com o título: Uma Mãe e seu filho, em que os médiuns evocaram o filho e a mãe. Transcrevo abaixo para que possa servir de exemplo da postagem anterior, para melhor entender por meio de uma história real. 



Uma Mãe e seu filho

         No mês de março de 1865, o Sr. C..., negociante numa pequena cidade perto de Paris, tinha, em sua casa, seu filho, com idade de vinte e um anos, gravemente enfermo. Esse jovem, sentindo-se no momento de expirar, chamou sua mãe e ainda teve forças para abraçá-la. Esta disse-lhe, vertendo lágrimas abundantes: “Vai, meu filho, precede-me, não tardarei em seguir-te.” Ao mesmo tempo ela saiu escondendo a cabeça entre as mãos.

        As pessoas que se achavam presentes a esta cena pungente, consideraram as palavras da senhora C... como simples explosão de dor, que o tempo e a razão deveriam apaziguar. Entretanto, tendo o doente sucumbido, foi procurada em toda a casa, e encontrada enforcada no celeiro. O enterro da mãe se fez ao mesmo tempo que o de seu filho.

        Evocação do filho, vários dias depois do fato. – P. Tendes conhecimento da morte de vossa mãe, que se suicidou, sucumbindo ao desespero que vossa perda lhe causou?

        R. Sim, e sem o desgosto que me causou o cumprimento de sua fatal resolução, eu seria perfeitamente feliz. Pobre e excelente mãe! Ela não pode suportar a prova dessa separação momentânea, e tomou, para se reunir ao filho que amava tanto, o caminho que deverá dele afastá-la, ai! Por muito tempo. Assim, ela retardou indefinidamente essa reunião que seria rápida se a submissão as vontades do Senhor enchesse sua alma, e se fosse resignada, humilde e arrependida, diante da prova que iria sofrer, e a expiação que iria purificá-la!

        Orai! Oh! Orai por ela!... E sobretudo não a imiteis, mães comovidas pelo triste relato de sua morte! Não creiais que ela amava melhor que outras mães, esse filho que era a sua alegria e seu orgulho; não, não amava melhor, mas faltou-lhe coragem e resignação. Mães que me escutais, quando virdes a agonia velar os olhos extintos de vossos filhos, lembrai-vos de que, como o Cristo, eles sobem o cume do Calvário, de onde deverão se elevar à glória eterna.

Benjamin C...

        Evocação da mãe. – Quero ver meu filho! Tendes o poder de me devolver?... Os cruéis!... Pegaram-me para conduzi-lo à luz, e me deixaram na noite!... Eu o quero, eu o quero... ele me pertence!... Nada foi, pois, senão o amor maternal?... O quê! Ter carregado nove meses, nutrido com seu leite a carne de sua carne, o sangue de seu sangue; ter guiado seus primeiros passos; tê-lo ensinado a balbuciar o nome sagrado de Deus e o doce nome de mãe; ter feito dele um homem pleno de atividade, de inteligência, de honestidade, de retidão, de amor filial, e perdê-lo quando realizava as esperanças que se conceberam dele, que um futuro brilhante se lhe abria à frente! Não, Deus não é justo; não é o Deus das mães; não compreendo o seu desespero e a sua dor... e quando me dou à morte para não deixar meu filho, me arrebata de novo!... Meu filho! Meu filho! Onde estás?

        O evocador. Pobre mãe, nos compadecemos com a vossa dor; mas tomastes um triste meio para estar reunida ao vosso filho; o suicídio é um crime aos olhos de Deus, e deveríeis pensar que ele pune toda infração às suas leis. A privação da visão de vosso filho é a vossa punição.

        A mãe. Não; eu acreditava Deus melhor que os homens; eu não cria em seu inferno, mas na reunião das almas que se amam como nos amamos; eu me enganei... Não é o Deus justo e bom, uma vez que não compreendeu a imensidade de minha dor e de meu amor!... Oh! Quem me devolverá o meu filho! Perdi-o, pois, para sempre? Piedade! Piedade, meu Deus!

        O evocador. Vejamos, acalmai o vosso desespero; pensai que há um meio para rever o vosso filho, esse não é blasfemando contra Deus, como o fazeis. Em lugar de vo-lo tornar favorável, atraireis sobre vós maior severidade.

       A mãe. Disseram-me que não o reveria mais; compreendi que foi para um paraíso que o conduziram. E eu, estou, pois, no inferno?... O inferno das mães!... Ele existe, não o vejo senão muito.

       O evocador. Vosso filho não está perdido sem retorno, crede-me; certamente o revereis; mas é necessário merecê-lo pela vossa submissão à vontade de Deus, ao passo que, pela vossa revolta, podeis retardar esse momento indefinidamente. Escutai-me: Deus é infinitamente bom, mas é infinitamente justo. Jamais pune sem causa, e se vos infligiu grandes dores na Terra, foi porque as merecestes. A morte de vosso filho era uma prova para a vossa resignação; infelizmente, nela sucumbistes quando viva, e eis que, depois de vossa morte, nela sucumbis de novo; como quereis que Deus recompense os seus filhos rebeldes? Mas ele não é inexorável; acolhe sempre o arrependimento do culpado. Se aceitásseis, sem murmurar e com humildade, a prova que vos enviava por essa separação momentânea, e se esperásseis pacientemente que lhe aprouvesse vos retirar da Terra, na vossa entrada no mundo em que estais, imediatamente reveríeis o vosso filho, que viria vos receber e estender os braços; teríeis a alegria de vê-lo radioso, após esse tempo de ausência. O que fizestes, e o que fazeis ainda neste momento, coloca uma barreira entre vós e ele. Não creiais que ele esteja perdido nas profundezas do espaço; não, está mais perto de vós do que não o credes; mas um véu impenetrável oculta-o à vossa visão. Ele vos vê, e vos ama sempre, e geme da triste posição onde vos mergulhou a vossa falta de confiança em Deus; chama, com todos seus votos, o momento afortunado de se vos mostrar; só de vós depende apressar ou retardar esse momento. Orai a Deus, e dizei comigo:

       “Meu Deus, perdoai-me por haver duvidado de vossa justiça e de vossa bondade; se me punistes reconheço que mereci. Dignai-vos aceitar o meu arrependimento e a minha submissão à vossa santa vontade.”

        A mãe. Que clarão de esperança vindes de fazer luzir em minha alma! Foi um relâmpago na noite que me cerca. Obrigada, eu vou orar. Adeus.

C...

       A morte, mesmo pelo suicídio,não produziu nesse espírito a ilusão de se crer ainda vivo; ele tem perfeita consciência de seu estado; é que, em outros, a punição consiste nessa própria ilusão, nos laços que os predem aos seus corpos. Esta mulher quis deixar a Terra para seguir o seu filho, no mundo em que ele entrou: era necessário que ela soubesse que estava nesse mundo para ser punida, não o reencontrando ali. Sua punição é precisamente saber que não vive mais corporalmente, e no conhecimento que tem de sua situação. Assim é que cada falta é punida pelas circunstâncias que a acompanham, e que não há punições uniformes e constantes para as faltas do mesmo gênero.

Fonte: O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec. Cap. V.


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