Grande nome do Espiritismo, Eurípedes Barsanulfo, tem uma história de vida inspiradora. Para começarmos a desbravar um pouco sobre a sua biografia, encontramos no livro “Eurípides, o Homem e a Missão”, de Corina Novelino, a revelação do Espírito Emmanuel feita a Chico Xavier, dizendo que nos tempos evangélicos Eurípides fora educado por Inácio, pupilo de João, o Evangelista, que se tornara grande propagador da Boa Nova. Adolescente ainda, Eurípides naquela reencarnação passada substituíra o Benfeitor na pregação na Palestina, onde também manteve contatos com João e fora martirizado. Assim, temos uma pequena amostra da evolução espiritual de Eurípides Barsanulfo. Há quem afirme ainda que Eurípedes, fora a reencarnação do escravo Rufo, um cristão praticante que aparece no livro Ave Cristo, de Emmanuel, psicografia de Chico Xavier.
Eurípides Barsanulfo, foi um educador, político, jornalista e médium, um dos expoentes e pioneiros do Espiritismo no Brasil. Nasceu em 1º de maio de 1880, na cidade de Sacramento, em Minas Gerais. E faleceu em 1º de novembro de 1918, aos 38 anos de idade, também na cidade de Sacramento.
Os seus pais foram Hermógenes Ernesto de Araújo (Seu Mogico) e D. Jerônima de Almeida (Dona Meca), ambos a princípio, podres de haveres materiais, mas ricos de virtudes cristãs, as quais enchiam o lar honrado de alegria e paz. Eurípides foi o terceiro de 15 irmão, muito jovem ainda, teve de enfrentar as vicissitudes do lar, promovendo os meios de auxiliá-lo. Cresceu e viveu sempre ao lado de seus progenitores, para os quais foi um verdadeiro arrimo. Desde cedo, na sua infância, Eurípides já dava sinais de bondade e preocupação com as pessoas necessitadas, manifestando os nobres sentimentos de que era dotado, mostrando-se um menino admirável pela sua inteligência precoce, pela sua dedicação ao trabalho e ao estudo, com uma grande capacidade de aprendizagem.
Educação
Quando chegou a frequentar seu primeiro colégio, que foi o Colégio Miranda, já trazia as “primeiras letras” do curso intensivo realizado na escola primária do senhor Joaquim de Melo Junior. Por isso, no Colégio Miranda, dirigido pelo hábil educador Prof. Derwil de Miranda, fora encaminhado à classe adiantada, e em pouco tempo, se dedicava às funções de assistente dos professores, explicando as matérias aos colegas de classe. E tal era o seu talento para o magistério que se tornou o professor de seus irmãos. Na fase da sua adolescência, por volta de 1892, Eurípides criou o Grêmio Dramático Sacramentano junto com outros amigos, fazendo dali um novo veículo sociocultural da cidade.
Querendo
tudo saber, Barsanulfo conseguiu em poucos anos uma solida e primorosa cultura.
Autodidata, adquiriu conhecimentos de Medicina e Direito, além de Astronomia,
Filosofia, Matemática, Ciências Físicas e Naturais e Literatura, mesmo sem ter
cursado o ensino superior.
Do
colégio passou a trabalhar como guarda-livros das duas lojas do pai, que era
comerciante no ramo têxtil, passando a auxiliar, também desde cedo, na
manutenção do lar.
Um
dos fatores que afligia muito Eurípides era a doença de sua mãe, que com
frequência apresentava crises nervosas. Por este motivo, desde cedo, Eurípides
se interessava pela leitura de livros de medicina, de homeopatia, com os quais
julgava, futuramente, encontrar a cura para a doença de sua mãe.
Eurípides
Barsanulfo tinha o sonho de estudar medicina, com o propósito de auxiliar os
mais necessitados e a sua mãe. Mas, para estudar medicina teria que mudar-se
para a cidade do rio de Janeiro. Esse sonho foi desfeito no dia em que se
preparava para viajar, quando sua mãe apresentou uma forte crise.
Compreendendo, com este fato, que seu afastamento seria prejudicial à saúde
dela, desistiu definitivamente de se tornar médico. Com isso voltou-se para a
função de educador e professor.
Em sacramento, à época
do nascimento de Eurípides, era uma cidade com pouco mais de 2 mil habitantes,
onde predominava a crença católica. Como toda comunidade, Eurípides também fora
criado dentro do catolicismo, e participava ativamente das atividades da
igreja. Fundou, por volta de 1900, a Irmandade São Vicente de Paula, onde atuou
como secretário e em atividades de assistência social.
Em 1902, com seus
antigos professores, Dr. João Gomes Vieira de Melo, Inácio Martins de Melo, e
com seu colega José Martins Borges, secundado por outros elementos, fundou o
Liceu Sacramentano, instituto de ensino primário e secundário, onde exerceu a
função de professor, por cinco anos seguidos, com raro brilhantismo, lecionando,
quando se fazia necessário, todas as matérias do curso. Na mesma época,
Eurípides participou da fundação do jornal semanal Gazeta de Sacramento, em que
saia aos domingos, e que foi por ele redigido por dois anos, escrevendo artigos
sobre economia, literatura, filosofia, política, direito publico, métodos
educacionais, etc. Estreando, assim, como jornalista. Colaborou, igualmente, de
modo fecundo e brilhante, em diversos outros jornais. Graças a sua inteligência
privilegiada e ao seu próprio esforço dissertava sobre astronomia, filosofia,
matemática, ciências físicas e naturais, literatura, com a mais extraordinária
segurança, sem possuir nenhum diploma superior.
Mas a política não era a sua aspiração. Depois de prestar-lhes serviços, se afastou espontaneamente, recebendo da opinião publica provas inequívocas de carinho e estima.
O contato com o Espiritismo
Em
1903, Eurípedes recebeu do Padre Augusto Teodoro Maia uma bíblia, cuja leitura
por leigos era proibida pela Igreja católica. Ao ler a bíblia, Eurípedes ficou
com dúvidas com a leitura do Sermão da Montanha e, procurou compreender as
consolações prometidas pelo Cristo, buscando respostas com o Padre Maia,
respostas estas que não o satisfizeram.
Nessa época, já havia na cidade de Sacramento, reuniões de estudo de uma nova doutrina – a Doutrina Espírita, na Fazenda Santa Maria, distante 14km do centro de Sacramento, que era propriedade do Capitão Joaquim Gonçalves de São Roque e sua esposa Ana Petronilha de Araújo, tios-avos de Eurípedes. As reuniões se iniciaram nesta fazenda por forças de fenômenos mediúnicos acontecidos lá. As sessões, ricas em fenômenos eram assistidas por lavradores da região e suas famílias, além de moradores de Sacramento.
Tio Mariano, o "tio Sinhô" |
Mesmo com algumas
dúvidas, Barsanulfo comparece às sessões espíritas e, logo na primeira sessão
que participa na Fazenda Santa Maria, um de seus parentes, de nome Aristides,
analfabeto, recebeu um desafio mental de Eurípedes: “Se é verdade que os mortos
podem se manifestar, e se esta é uma casa de Deus, eu gostaria que João
Evangelista me explicasse as bem-aventuranças”. O parente, que jamais
frequentara uma escola, fez a mais linda explanação bíblica que Eurípedes havia
ouvido sobre as bem-aventuranças, à luz da Lei do Amor, da Lei da Reencarnação
e da Lei do Progresso. Eurípedes Barsanulfo, prontifica-se, a partir dali, a
pesquisar o assunto, antecipando já grandes realizações no esclarecimento e
amparo aos necessitados.
Em uma outra das
primeiras reuniões de que participou na Fazenda Santa Maria, manifesta-se por
intermédio do médium Mariano da Cunha Júnior, aquele que seria um de seus
espíritos protetores: Vicente de Paulo. E o primeiro conselho que o espírito do
missionário lhe outorga é: “Pois bem meu filho. Apesar da Irmandade de São
Vicente de Paulo ostentar o meu nome, afaste-se dela. É o meu primeiro
conselho. Não esconda sua nova posição religiosa; pelo contrário, propague-a
aos quatro ventos, é meu segundo conselho. Nada tema porque eu assisto desde o
seu nascimento”. Assim, fora o próprio Espírito de Vicente de Paulo que o
instara a afastar-se de sua ordem na esfera católico-romana.
Na sexta feira da Paixão
do ano de 1904, Eurípedes Barsanulfo, acompanhado do amigo José Martins Borges,
foi assistir a uma sessão espírita na Fazenda Santa Maria, segundo narra Corina
Novelino no livro Eurípedes, O Homem e a Missão. Encantado com o que vira e
sentira, dias depois, Eurípedes volta a Santa Maria, onde assiste a nova
sessão. Na ocasião, recebeu de Vicente de Paulo uma mensagem que o convoca a
assumir a Doutrina dos Espíritos. “Meu filho, as portas de Sacramento vão
fechar-se para você. Os amigos afastar-se-ão. A própria família voltar-se-á.
Mas, não se importe. Proclame sempre a Verdade, porque, a partir desta hora, as
responsabilidades de seu Espírito se ampliarão ilimitadamente”, dizia o
benfeitor.
Eurípedes, então retorna
a Sacramento, procura o vigário da Igreja Matriz onde prestava sua colaboração,
e desliga-se da congregação Vicente de Paulo, colocando à disposição o cargo de
secretário da Irmandade. Voltou totalmente suas atividades para a nova
Doutrina, pesquisando e estudando, por todos os meios e maneiras, até desfazer
totalmente suas dúvidas. Sendo mal entendo por seus familiares e amigos. Ao
tentar esclarecer seus ex companheiros e familiares católicos, foi rechaçado,
contudo perseverou. Chegou a pedir perdão a seu tio Mariano, por tê-lo
ridicularizado anteriormente quanto à sua fé espírita.
A partir de então.
Eurípedes desligou-se definitivamente do catolicismo e tornou-se Espírita. Sem
dúvida alguma, no meio de uma cidade católica, sofreu todas as consequências da
sua escolha. Foi criticado e abandonado pelos amigos, obrigado a fechar o Liceu
Sacramento, e, muitas vezes, considerado como louco; mas, embora abatido pelas
lutas, em momento algum perdeu a fé em Deus e manteve-se firme no propósito de
servir a todos aqueles necessitados que estivessem junto a ele. O próprio
Vicente de Paula, em comunicação mediúnica, lhe convidou a criar outra
instituição, cuja base seria o Cristo, o Diretor Espiritual seria ele próprio
(Vicente de Paula), e Eurípedes, o dirigente material.
Ocorreu então uma
transformação em sua vida: mudou-se da casa de seus pais, e despediu-se do
Padre Antônio Teodoro da Rocha Maia. Jamais erguia a voz contra seus opositores
ferrenhos, notadamente os padres, que viram as igrejas esvaziadas mesmo aos
domingos, e que iniciaram uma campanha contra o médium. Sob pressão e
perseguição de toda ordem, Eurípedes Barsanulfo sofreu trauma, retirando-se
para tratamento e recuperação em uma cidade vizinha, época em que nele
desabrocharam varias faculdades mediúnicas, em especial, a de cura.
Nesse
ínterim, fundou o “Grupo Espírita Esperança e Caridade”, em 1905, tarefa na
qual foi apoiado pelos seus irmãos e alguns amigos, passando a desenvolver
trabalhos tanto no campo doutrinário e mediúnico, como nas atividades de
assistência social.
Algum tempo depois, sob a orientação de Bezerra de Menezes, lá instalou uma farmácia homeopática e alopata, a Farmácia Espírita Esperança e Caridade, denominada pelo povo de “Farmácia de Seuripe”, corruptela de “Seu Eurípedes”. Que era totalmente gratuita e cuja manutenção fazia-se com o salário de Barsanulfo e com a ajuda espontânea de confrades abastados. A farmácia contava, ainda, com laboratório próprio e Eurípedes adquiria os medicamentos homeopáticos e o instrumental necessário nas melhores firmas especializadas do ramo, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em nenhuma de suas atividades visava retorno financeiro. Recebia milhares de cartas, oriundas de todo o Brasil, trazendo comovedoras solicitações de enfermos do corpo e do espírito chegavam-lhe às mãos. E, em cada uma Barsanulfo apunha receitas ou orientações de Bezerra de Menezes, conforme a circunstância. Diariamente, eram enviados, para numerosas cidades do território nacional, pelos Correios, sob registro, centenas de remédios manipulados na farmácia
Assim,
durante 12 anos e sete meses foi presidente do Grupo Espírita Esperança e
Caridade, por ele fundado.
Assim, em 31 de janeiro de 1907, cria o Colégio Allan Kardec, onde os alunos recebiam todas as quartas feiras aulas do Evangelho de Jesus à luz da Doutrina Espírita, incentivando-os, em termos simples, ao amor e a caridade; e, ainda aulas de Astronomia, conforme orientou Maria. Além de exercer a direção do colégio, o próprio ministrava aulas de Matemática, Geometria, Aritmética, Trigonometria, Ciências Naturais, Botânica, Zoologia e Paleontologia, Português, Francês, Astronomia, Inglês e Castelhano. Além disso, gostava de lecionar manuseando o livro da natureza, tanto astronomia como as demais ciências naturais.
Baseava-se na orientação pedagógica de Johann Heinrich Pestalozzi, visto que se fazia amigo dos alunos e não apenas mestre, não impunha castigos – numa época em que ainda se aplicava a palmatória, não se limitava a transferir conhecimentos aos alunos, mas educava-os no caminho do bem, e criou a “Associação dos Amiguinhos dos Pobres”, junto com os jovens, que fazia leilões aos sábados com o que arrecadavam com parentes e amigos: livros, frutas, objetos.
Este importante estabelecimento funcionou sob a sua competente direção durante todo o tempo que viveu aqui na Terra, deixando-o apenas oito dias antes de desencarnar. Milhares de pobres e órfãos, de ambos os sexos, ali receberam gratuitamente a instrução intelectual e moral, apontada como a primeira instituição de ensino com bases da pedagogia espírita. Obra está continuada pelos irmãos de Eurípedes Barsanulfo.
Atualmente o prédio onde funcionava o Colégio Allan Kardec é a sede do Grupo Espírita Esperança e Caridade, que fora fundado em 1905, por Eurípedes Barsanulfo como vimos. As atividades pedagógicas e escolares do Colégio Allan Kardec foram transferidas para a Escola Eurípedes Barsanulfo, fundada em 1975, por Corina Novelino e Thomaz Novelino, onde, atualmente, matem as atividades com mais de 300 crianças.
Mediunidade e curas
A
mediunidade de Eurípedes desenvolveu-se de forma notável, espontânea e
multiforme, como só acontece com espíritos especialmente preparados para isto e
que tenham uma missão especial, como a dele. Desdobramento, vidência,
psicofonia, psicografia, curas, efeitos físicos, receituário foram surgindo e
se tornando habituais em sua vivência. Era com muita facilidade que ele se
desdobrava de um lugar para outro, e dava a topografia exata das localidades
por onde o seu espírito passava.
A produção de vários fenômenos fez com que fossem atraídas para Sacramento centenas de pessoas de outras regiões. A todos Barsanulfo atendia e ninguém saía sem algum proveito, no mínimo, o lenitivo da fé e a esperança renovada. A capacidade de desdobramento era tão comum em sua vida, que atendia enfermos que se encontravam em outros locais, entrando em transe e indo, em espírito, aonde estes se encontravam.
Eurípedes fora prevenido pelos espíritos acerca das perseguições e incompreensões de adversários e mesmo de parentes e amigos. Isso seria uma espécie de chancela de sua missão, agora em outra vertente. A primeira cura realizada por Eurípedes foi a do Sr. Carlos. Eurípedes perguntou ao tio Mariano onde morava o “Senhor Carlos”. Mariano informa que ele morava em um caminho ermo na mata. Ninguém o visitava, dada a sua condição de leproso (hanseniano). “Mas por que quer saber?”, perguntou o tio. “Porque o Carlos está já três dias sem comer e beber nada, temos que visitá-lo imediatamente”, respondeu Eurípedes. Essa era uma das características da mediunidade exuberante de Eurípedes Barsanulfo: chegava aos lugares para realizar algum tratamento ou cura, sem sequer fosse chamado. Outro dos primeiros casos de cura ocorreu, justamente, com sua mãe, que, restabelecida, se tornou valiosa assessora em seus trabalhos.
No preparo dos remédios,
auxiliam sua mãe, “Dona Meca”, além de suas irmãs e Dona Amália Ferreira de
Melo, grande missionária que se tornou sua secretária. A farmácia foi
transferida para a Chácara Triângulo, para onde hoje se localiza o Recanto da
Prece, que foi dirigido pelas sobrinhas de Eurípedes, Heigorina Cunha e Nizinha
Cunha.
Uma das mediunidades mais extraordinárias de Eurípides Barsanulfo era a de desdobramento e de bicorporeidade. Quando de um dos partos que realizou em transes da espécie, estava em sala de aula no Colégio Allan Kardec e avisou aos alunos que o marido de uma senhora a quem ele acabara de realizar o parto – em desdobramento espiritual –estava chegando a cavalo, em roupa de montaria. Pediu aos jovens que se levantassem assim que se adentrasse na sala. Nesse exato momento, entrou o homem, esbaforido, pedindo que o Prof. Barsanulfo fosse correndo fazer o parto da esposa. Comunicou-lhe então Eurípedes que já tinha realizado o parto e que tanto a mãe quanto a criança estavam bem. O homem não se convenceu, redarguiu que não o tinha visto no caminho da fazenda até o colégio e insistiu que Eurípedes retornasse com ele. Assim que chegaram na casa, a parturiente exclamou: “O senhor não precisava vir de novo, Seu Eurípedes... eu e o bebê estamos passando bem”. O professor regressou, então, ao colégio, para dar continuidade à aula.
Os fenômenos envolvendo
Eurípedes Barsanulfo não tem comparação no Espiritismo, senão com Chico Xavier,
que aliás psicografou varias mensagens suas após seu desencarne. Em outra oportunidade,
conta a Sra. Dolimar Borges da Silva, que uma
mulher estava à beira da morte, e pediu ao esposo que fosse até a
farmácia do “Seu Eurípedes” e buscasse um remédio. O companheiro enrolou uma
garrafa em papel e pôs a caminho de cavalo. Entretanto, parou em um bar, bebeu
e acabou adormecendo. Voltando para casa, lembrou-se de que tinha ido a
Sacramento buscar um remédio para a mulher, e deparando-se com um curso de água,
que estava turva após a chuva, encheu a garrafa e deu a “bebida” à esposa, informando
que Seu Eurípedes lhe deu a garrafada para que ela tomasse de duas em duas
horas. A mulher, após tomar a água, pediu ao marido que avisasse ao Seu
Eurípedes que estava bem melhor, mas que precisava de outra receita para
terminar de sarar. Quando o esposo finalmente encontra Eurípedes Barsanulfo,
assim que desceu do cavalo, recebeu a garrafa com o remédio “verdadeiro” e uma
advertência do professor, para que não tornasse a repetir a artimanha que havia
feito da primeira vez, utilizando seu nome para dar “remédio” à esposa, que não
repetisse aquilo de novo. Ou seja, ele sabia perfeitamente o que fizera o homem
ás escondidas.
Outro caso envolveu
Dulce Ribeiro de Melo, filha de Francisco de Castro de Melo, mulher do Coronel
João Ribeiro de Melo, dono de uma sesmaria nas proximidades de Araxá, chamada
Fazenda Caxambu. O coronel já tinha relacionamento com Eurípedes e tamanha
confiança que o parto de uma de suas filhas, Marieta, foi feito por ele, em
Sacramento. Pediu que o parto da Dulce também fosse feito por Eurípedes.
Entretanto, a criança dava sinais de nascimento prematuro e a posição do feto
não favorecia o parto. Além de começar a rezar, mandou um capataz e o filho a
galope para buscar Eurípedes. Quando chegaram, o professor veio com um remédio
na mão entregou ao capataz e disse: “pode voltar que eu já assisti o nascimento
da Dulce. Leve o remédio e as duas estão passando bem”. Eles não acreditaram,
mas quando chegaram de volta na fazenda, confirmaram que Eurípedes esteve lá,
fizera o parto. Assim que recebeu o “chamamento” da prece, o espírito de
Eurípedes Barsanulfo se deslocou até a Fazenda Caxambu, deixando o corpo em
Sacramento, materializou-se no fenômeno de bicorporeidade, realizou o parto,
assistido pelo Espírito de Dr. Bezerra de Menezes, e tornou a Sacramento. O
fato é testemunhado pelo neto do Coronel João Ribeiro de Melo, no filme de
Oceano Vieira de Melo.
Eram tantos os
visitantes que vinham inclusive de outros estados, que os próprios clérigos,
combatentes abertos do Espiritismo, construíram casas para alugar aos viajantes
de fora, a exemplo do padre Pedro Ludovico de Santa Cruz, da Igreja Matriz e do
extinto Liceu Sacramento, ex-amigo e depois ferrenho adversário de Eurípedes
Barsanulfo, que construía casas para transformar em pensões e naturalmente
fazer dinheiro em razão das atividades do médium.
Diversos fenômenos
parapsíquicos marcaram a vida de Eurípedes, que não se negava a ajudar onde
necessário. Jamais cobrou por suas curas, de varicela, de tuberculose, de
hanseníase, de tumores, de gangrenas, nem mesmo recebia doações de quem tivesse
posses, a não ser para as obras do Colégio e os trabalhos de assistência
espiritual e da farmácia.
Foi o refúgio para todos os aflitos e abandonados da sorte. Centenas de desenganados pela ciência da Terra encontraram em Sacramento o lenitivo para os seus males. Homem que não temia difundir as verdades que professava, foi a encarnação do verdadeiro espírita. Fiel discípulo de Jesus, era o console e o amparo de todos aqueles que o procuravam, e a todos dispensava indistintamente o mesmo acolhimento, o mesmo amor. Não consta que houvesse deixado inimigos pessoais. Nas suas horas de folga, poucas é verdade, safa ele para os arrabaldes da cidade, a curar doentes de maleita, opilação, caquexias e outros males, ao mesmo tempo que ia pregando a boa doutrina do amor ao próximo.
Perseguições
Em 28 de outubro de 1913, chega a Sacramento o famoso Padre Feliciano Yague, de Campinas, que desafiara Eurípedes Barsanulfo para um repto público, com ampla publicidade nos meios de comunicação da época. Em um sermão anterior, fizera um ataque direto ao Espiritismo, acusando a doutrina de diabólica e contrária aos ensinamentos cristãos.
Mal sabia ele que Eurípedes assistiu ao seu sermão, em desdobramento. Eurípedes é avisado, mas já sabia, não se preocupou com as ofensas pessoais e sim com os ataques duros e mentirosos à Doutrina Espírita, e aceita o repto, que ocorreu no coreto de Sacramento, diante de 2 mil pessoas. Com um discurso cristalino, sob inspiração direta do espírito de Agostinho de Hipona, ou Santo Agostinho, pediu aos presentes uma prece, orou pelo Padre Feliciano Yague, e suas palavras eram compreendidas, inclusive, pelos homens mais simples, fazendo ruir os andaimes filosóficos construídos por seu desafiante. De nada adiantaram as histórias espalhadas por alguns beatos mais exalados de que o pregador campineiro havia sido vencedor, pois o povo de Sacramento aplaudiu e quis carregar Eurípedes pela rua, que se limitou a retornar a casa e publicar um boletim com um resumo do debate, dando por encerrada a polémica.
Desencarne
As
Farmácias, o Colégio Allan Kardec e o Grupo Espírita Esperança e Caridade foram
apenas algumas das obras desse homem que foi chamado “O Apóstolo do Triângulo
Mineiro”.
Em 25 de abril de 1918, Eurípedes entra em
estado alterado de consciência, e Dona Amália, já acostumada, anota o que ele
irá narrar. Seu mentor espiritual, Vicente de Paulo avisa-lhe que a sua missão
na Terra estava concluída.
Eurípides
Barsanulfo seguiu com dedicação as máximas de Jesus Cristo até o último
instante de sua vida terrena, por ocasião da pavorosa pandemia de gripe
espanhola que assolou o mundo em 1918, ceifando vidas, espelhando lágrimas e
aflições, redobrando o trabalho do grande missionário, que a previa muito antes
de invadir o continente americano, sempre falando na gravidade da situação que
ela acarretaria. Vitimado pela gripe espanhola,
Eurípides Barsanulfo desencarnou às 18 horas do dia 1º de novembro de
1918, aos 38 anos de idade, rodeado de parentes, amigos e discípulos. Manifestada
em nosso continente, a gripe veio encontrá-lo à cabeceira de seus enfermo,
auxiliando centenas de famílias pobres. Havia chegado ao término de sua missão
terrena. Em verdadeira romaria, Sacramento em peso acompanhou-lhe o corpo
material até a sepultura, sentindo que ele ressurgia para uma vida mais elevada
e sublime.
Eurípides deixou uma história rica, humana e profunda. Continua ele sendo, no Plano Espiritual, um dos maiores missionários do Espiritismo. Trabalhou incansavelmente horas a fio, dia após dia, sem reclamar, sem vacilar e sempre solícito às orientações que as pessoas iam lhe pedir. Enfrentou muitas lutas como homem terreno. Foi ameaçado de morte, sofreu inquéritos policiais, por exercício ilegal da medicina, e em nenhum momento vacilou diante do trabalho que lhe competia realizar aqui na Terra. É claro que também teve o reconhecimento de pessoas com quem convivia e daqueles que, de alguma forma, lhe auxiliavam nas tarefas: eram seus familiares, seus alunos e os próprios doentes que, ao se curarem com a receita do “Seu Eurípedes” traziam no íntimo o reconhecimento e a gratidão pelo convívio com este espírito de escol.
Hoje, Eurípides Barsanulfo é Patrono de inúmeras instituições espíritas, prosseguindo seu apostolado no plano espiritual, como informado na mensagem psicografada por Chico Xavier, em 30 de abril de 1950, quando Eurípides mesmo nos diz:
“A nossa marcha continua e, como sempre, irmãos meus, confirmo a promessa de seguir convosco até a suprema vitória espiritual” - Eurípides Barsanulfo.
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