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sexta-feira, 21 de junho de 2019

A VERDADEIRA PROPRIEDADE


O homem não possui de seu senão o que pode levar deste mundo. O que encontra ao chegar, e o que deixa ao partir, goza durante a sua permanência na Terra; mas, uma vez que é forçado a abandoná-lo, dele não tem senão o gozo e não a posse real. Que possui ele, pois? Nada daquilo que é para uso do corpo, tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais; eis o que traz e o que leva, o que não está no poder de ninguém lhe tirar, o que lhe servirá mais ainda no outro mundo do que neste; dele depende ser mais rico em sua partida do que em sua chegada, porque daquilo que tiver adquirido em bem depende a sua posição futura. Quando um homem vai para um país longínquo, compõe a sua bagagem de objetos usáveis no país; mas não se carrega daqueles que lhe seriam inúteis. Fazei, pois, o mesmo para a vida futura, e fazei provisão de tudo o que poderá nela vos servir.

                Ao viajor que chega a uma estalagem, se dá um belo alojamento se pode pagá-lo; aquele que pode pouca coisa, se dá um menos agradável; quanto aquele que nada tem, vai deitar sobre a palha. Assim ocorre com o homem na sua chegada ao mundo dos espíritos: seu lugar nele está subordinado ao que tem; mas não é com o ouro que o paga. Não se lhe perguntará: Quanto tínheis sobre a Terra? Que posição nela ocupáveis? Éreis príncipe ou operário? Mas, se lhe perguntará: O que dela trazeis? Não se computará o valor dos seus bens nem dos seus títulos, mas a soma das suas virtudes; ora, a esse respeito, o operário pode ser mais rico do que o príncipe. Em vão alegará que, antes da sua partida, pagou a sua entrada com ouro e se lhe responderá: Os lugares aqui não se compram, eles se ganham pelo bem que se fez; com o dinheiro terrestre, pudeste comprar campos, casas, palácios; aqui tudo se paga com as qualidades do coração. Sois rico dessas qualidades? Sede bem vindo, e ide ao primeiro lugar onde todas as felicidades vos esperam; sois pobre? Ide ao último, ode sereis tratado em razão do que tendes. (PASCAL, Genebra, 1860).

Os bens da Terra pertencem a Deus, que os dispensa à sua vontade, e o homem deles não é senão o usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente. Eles são tampouco a propriedade individual do homem, porque Deus, frequentemente, frustra todas as previsões, e a fortuna escapa daquele que crê possuí-la pelos melhores títulos.

Direis, talvez, que isso se compreende para a fortuna hereditária, mas que não ocorre o mesmo com aquela que se adquiriu pelo trabalho. Sem nenhuma dúvida, se há uma fortuna legítima, é esta, quando adquirida honestamente, porque uma propriedade só é legitimamente adquirida quando, para a possuir, não se fez mal a ninguém. Será pedida conta de uma moeda mal adquirida em prejuízo de outrem. Mas do fato de um homem dever sua fortuna a si mesmo, leva mais dela em morrendo? Os cuidados que ele toma em transmiti-la aos seus descendentes não são, frequentemente, supérfluos? Porque se Deus não quer que ela lhes chegue às mãos, nada poderá prevalecer contra a sua vontade. Pode dela usar e abusar em sua vida sem ter contas a prestar? Não; em lhe permitindo adquiri-la, Deus pode querer recompensar nele, durante esta vida, seus esforços, sua coragem, sua perseverança; mas se não a fez servir senão à satisfação de seus sentidos ou de seu orgulho, se ela se torna uma causa de queda em suas mãos, melhor fora para ele que não a possuísse;  perde de um lado o que ganhou de outro, anulando o mérito do seu trabalho, e quando deixar a Terra, Deus lhe dirá que já recebeu a sua recompensa. (M., ESPÍRITO PROTETOR, Bruxelas, 1861).



Fonte: O Evangelho Segundo o Espiritismo. Allan Kardec. Capítulo XVI – Itens 9 e 10. 

 

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