Bem-aventurados
os que estão famintos de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os que sofrem
perseguições pela justiça, porque deles é o reino dos céus.
Felizes sereis quando os homens vos
carregarem de maldiçoes, e vos perseguirem e disserem falsamente toda espécie
de mal contra vós por causa de mim. Rejubilai-vos então, porque uma grande
recompensa vos está reservada nos céus, porque foi assim que perseguiram os
profetas que foram antes de vós. (São Mateus, cap. V, v. 6, 10, 11 e 12).
Não temais aqueles que matam o corpo e que não podem matar a alma; mas
temei antes aquele que pode perder a alma e o corpo no inferno. (São Mateus,
cap. X, v. 28).
PREFÁCIO. De todas as liberdades, a mais
inviolável é a de pensar, que compreende também a liberdade de consciência.
Lançar o anátema sobre aqueles que não pensam como nós é reclamar essa liberdade
para si e recusá-la aos outros, é violar o primeiro mandamento de Jesus: a
caridade e o amor ao próximo. Persegui-los pela sua crença, é atentar contra o
direito mais sagrado que o homem tem de crer no que lhe convém, e adorar a Deus
como o entende. Constrangê-lo a atos exteriores semelhantes aos nossos, é
mostrar que se prende mais à forma do que ao fundo, às aparências mais do que à
convicção. A abjuração forçada, jamais deu a fé: ela não pode fazer senão
hipócritas; é um abuso da força material que não prova a verdade; a verdade está segura de si mesma; convence
e não persegue, porque disso não tem necessidade.
O Espiritismo é uma opinião, uma
crença; fosse mesmo uma religião, por que não se teria a liberdade de se dizer
espírita como se tem a de se dizer católico, judeu ou protestante, partidário
desta ou daquela doutrina filosófica, deste ou daquele sistema econômico? Essa
crença é falsa ou é verdadeira; se é falsa, cairá por si mesma, porque o erro
não pode prevalecer contra a verdade, quando a luz se faz nas inteligências; se
é verdadeira, a perseguição não a tornará falsa.
A perseguição é o batismo de toda ideia nova, grande e justa; ela cresce com a grandeza e a
importância da ideia. A animosidade e a cólera dos inimigos da ideia está em
razão do medo que ela lhes inspira. Foi por essa razão que o Cristianismo foi
perseguido outrora e o Espiritismo o é hoje, com a diferença, todavia, de que o
cristianismo o foi pelos pagãos, ao passo que o Espiritismo o é pelos Cristãos.
O tempo das perseguições sangrentas passou, é verdade, mas, se não se mata mais
o corpo, tortura-se a alma; é atacada até em seus sentimentos mais íntimos, em
suas afeiçoes mais caras; dividem-se as famílias, excita-se a mãe contra a
filha, a mulher contra o marido; ataca-se mesmo o corpo em suas necessidades
materiais, tirando-lhes seu ganha-pão para tomá-lo pela fome. (Cap. XXIII, n°s
9 e seguintes de O Evangelho Segundo o Espiritismo)
Espíritas, não vos aflijais com os golpes
que vos dão, porque eles provam que estais na verdade; não fora isso, vos
deixariam tranqüilos, e não vos feririam. É uma prova para a vossa fé, porque
será pela vossa coragem, pela vossa resignação, pela vossa perseverança, que
Deus vos reconhecerá entre seus fiéis servidores, dos quais faz hoje a
enumeração para dar a cada um a parte que lhe toca, segundo as suas obras.
A exemplo dos primeiros Cristãos, sede,
pois, orgulhosos em carregar a vossa cruz. Crede na palavra do Cristo, que
disse: “Bem-aventurados aqueles que sofrem perseguição pela justiça, porque é
deles o reino dos céus. Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem
matar a alma.” Ele disse também: “Amai os vossos inimigos, fazei o bem àqueles
que vos fazem mal, e orai por aqueles que vos perseguem”.mostrai que sois seus
verdadeiros discípulos e que a vossa doutrina é boa em fazendo o que ele disse
e o que ele mesmo fez.
A perseguição não terá senão uma época;
esperai, pois, pacientemente o levantar da aurora, porque já a estrela da manhã
se mostra no horizonte. (Cap. XXIV, n°s 13 e seguintes de O Evangelho Segundo o
Espiritismo).
PRECE:
Senhor, vós nos dissestes, pela boca de
Jesus, o vosso Messias: “Bem-aventurados aqueles que sofrem perseguição pela
justiça; perdoai aos vossos inimigos; orai por aqueles que vos perseguem”; e
ele mesmo nos mostrou o caminho, orando por seus algozes.
A seu exemplo, meu Deus, imploramos a
vossa misericórdia para aqueles que desconhecem os vossos divinos preceitos, os
únicos que podem assegurar a paz neste mundo e no outro. Como o Cristo, nós vos
dizemos: “Perdoai-lhes, meu Pai, porque eles não sabem o que fazem.”
Dai-nos a força de suportar, com paciência e
resignação, como provas para a nossa fé e a nossa humildade, suas zombarias,
suas injúrias, suas calúnias e suas perseguições; desviai-nos de todo
pensamento de represálias, porque a hora da vossa justiça soará para todos, e
nós a esperamos, submetendo-nos à vossa santa vontade.
Fonte: Livro
– O Evangelho Segundo o Espiritismo. Coletânea de Preces Espíritas. Allan
Kardec.