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segunda-feira, 29 de agosto de 2022

O ÓDIO


Amai-vos uns aos outros e sereis felizes. Sobretudo, tomai a tarefa de amar aqueles que vos inspiram indiferença, ódio e desprezo. O Cristo, de quem deveis fazer o vosso modelo, vos deu o exemplo desse devotamento; missionário de amor, amou até dar o seu sangue e a própria vida. O sacrifício que vos obriga a amar aqueles que vos ultrajam e vos perseguem é penoso; mas, é precisamente isso que vos torna superiores a eles; se vós os odiais como vos odeiam, não valeis mais do que eles; é a hóstia sem mancha ofertada a Deus sobre o altar de vossos corações, hóstia de agradável aroma cujos perfumes sobem até ele. Ainda que a lei do amor queira que se ame indistintamente a todos os irmãos, não endurece o coração contra os maus procedimentos; ao contrário, é a mais penosa prova, eu o sei, uma vez que durante minha última existência terrestre, experimentei essa tortura; mas Deus lá está, e pune nesta vida e na outra aqueles que faltam à lei de amor. Não vos esqueçais, meus caros filhos, que o amor nos aproxima de Deus, e que o ódio nos afasta dele. (FÉNELON, Bordéus, 1861).

 

Fonte: O Evangelho Segundo o Espiritismo.  Allan Kardec. Cap. XII; item 10. 



quinta-feira, 25 de agosto de 2022

A VINGANÇA

O Espiritismo nos esclarece que a vingança só desaparecerá da Terra, quando o homem, usando recursos do Evangelho e da Prece se esforçar para perdoar. A vingança nada mais é do que o atraso moral o espírito, já que é a manifestação de um coração rancoroso. Geralmente, a pessoa que busca vingança carrega dores, das quais só consegue se libertar quando começa a perdoar. O vingador, além de aumentar os débitos com a justiça divina, deixa escapar a oportunidade de se regenerar por meio do perdão ao agressor, pessoa esta que terá que se reconciliar um dia.

O perdão liberta o agressor e restaura a alegria de viver.

Abaixo segue o texto do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XII – Instrução dos espíritos, item 9.


A vingança é o último vestígio abandonado pelos costumes bárbaros, que tendem a se apagar do meio dos homens. Ela é, como o duelo, um dos últimos vestígios desses costumes selvagens sob os quais se debatia a Humanidade no inicio da era cristã. Por isso, a vingança é um indicio certo do estado atrasado dos homens que a ela se entregam, e dos espíritos que podem ainda inspirá-la. Portanto, meus amigos, esse sentimento não deve jamais fazer vibrar o coração de quem se diga e se afirme espírita. Vingar-se, vós o sabeis, é de tal modo contrario a esta prescrição do Cristo: “Perdoai ao vossos inimigos”, que aquele que se recusa a perdoar, não somente não é espírita, como não é nem mesmo cristão. A vingança é uma inspiração tanto mais funesta quanto a falsidade e a baixeza são suas companheiras assíduas; com efeito, aquele que se entrega a essa fatal e cega paixão não se vinga quase nunca a céu aberto. Quando é o mais forte, precipita-se como um animal feroz sobre aquele a quem chama seu inimigo, quando a visão deste vem inflamar sua paixão, sua cólera e seu ódio. Mas, o mais frequentemente, ele reveste uma aparência hipócrita, em dissimulando, no mais profundo do seu coração, os maus sentimentos que o animam; toma caminhos escusos, segue na sombra seu inimigo sem desconfiança, e espera o momento propício para atingi-lo sem perigo; esconde-se dele, espreitando-o sem cessar; arma-lhe emboscadas odiosas e derrama-lhe, chegada a ocasião, o veneno no copo. Quando seu ódio não vai até esses extremos, ele o ataca,então, em sua honra e em suas afeições; não recua diante da calunia, e suas insinuações pérfidas, habilmente semeadas para todos os ventos, vão crescendo pelo caminho. Por isso, quando aquele que persegue se apresenta nos lugares onde seu sopro envenenado passou, espanta-se de encontrar rostos frios onde encontrava, outras vezes, rostos amigos e benevolentes; fica estupefato quando mãos que buscavam a sua se recusam a apertá-la agora; enfim, fica aniquilado quando seus amigos mais caros e seus parentes se desviam e fogem dele. Ah! o covarde que se vinga assim é cem vezes mais culpável do que aquele que vai direto ao seu inimigo e o insulta de rosto descoberto.

Para trás, pois, com esses costumes selvagens! Para trás com esses usos de outro tempo! Todo espírita que pretendesse, hoje, ter ainda o direito de se vingar, seria indigno de figurar por mais tempo na falange que tomou por divisa: Fora da caridade não há salvação! Mas não, eu não poderia deter-me em semelhante ideia, de que um membro da grande família espírita possa jamais no futuro ceder ao impulso da vingança, de outro modo senão para perdoar. (JULES OLIVIER, Paris, 1862).

 

Fonte: O Evangelho Segundo o Espiritismo.  Allan Kardec. Cap. XII; item 9. 



segunda-feira, 15 de agosto de 2022

FOME

O artigo abaixo foi escrito por Divaldo Franco e publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 11 de agosto de 2022.


Através da História, periodicamente, a tragédia da fome aparece na sociedade devorando vidas que se transformam em fantasmas do desespero, ameaçando de aniquilamento todas as existências.

Nesse panorama devastador recordamos o período de miséria que submeteu o Egito e toda a região, obrigando Israel e outros povos a buscarem o solo das pirâmides vitimado pela inenarrável seca e submetendo-se à escravidão todos aqueles que ali se agasalharam na expectativa de sobrevivência.

As guerras lamentáveis que reduziram nações à miséria mais hedionda geravam a fome destruidora que roubava as energias daqueles que haviam sobrevivido em situações deploráveis.

Dentre os mais infelizes desses períodos, recordamos o chamado Holodomor, como foi na época, palavra ucraniana que também significa fome, quando Stalin a decretou, levando à morte mais de três milhões de pessoas, num verdadeiro genocídio.

Embora a cultura, os inestimáveis avanços da Ciência, da tecnologia de ponta, do conhecimento em várias áreas, a infelicidade da fome não apenas ameaça a Humanidade como já vem devorando-a, inclemente e poderosa, aterrorizando o chamado mundo civilizado.

Nesse panorama terrível e trágico, o Brasil volta a ocupar uma posição assustadora e impensada: um pouco mais de trinta e dois milhões de seres humanos passam fome e mais de sessenta milhões não dispõem do necessário para uma alimentação equilibrada.

Apesar de tão cruel estatística, as multidões estão distraídas no prazer de ocasião, avançando loucamente apaixonadas pelos fenômenos vulgares dos instintos agressivos e existenciais, sem haver-se dado conta da situação terrivelmente infeliz que se vive no planeta.

Especialmente agora nesta fase pós-pandemia, procurando fugir dos efeitos físicos, morais e existenciais, como os dramas da depressão, da ansiedade e outros de natureza psicológica, a busca desenfreada do prazer vem eliminando todas as regras do bem proceder, aproveitando a situação calamitosa para atirar-se ao fundo do poço da loucura e depois um despertar alucinado de vida vazia...

Em consequência, aumentam de maneira chocante a criminalidade, o total descontrole emocional, a perda de sentido existencial, o suicídio...

Do que têm valido as conquistas da inteligência se o ser humano rejeita os princípios éticos que regem a vida e os deveres de preservação existencial? O que resulta do abismo posto entre os sentimentos e as necessidades reais, se tudo está reduzido ao gozo do momento, embora as suas desditosas consequências?

São indispensáveis quanto urgentes as providências em favor da ordem e da paz, eliminando-se a fome, especialmente a de afetividade.


Fonte: Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 11 de agosto de 2022. Escrito por Divaldo Franco.



terça-feira, 9 de agosto de 2022

OS INIMIGOS DESENCARNADOS


Tem o espírita ainda outros motivos de indulgência para com seus inimigos. Sabe ele, primeiro, que a maldade não é o estado permanente dos homens; que ela se deve a uma imperfeição momentânea, e que, do mesmo modo que a criança se corrige dos seus defeitos, o homem mau reconhecerá um dia seus erros e se tornará bom.

Sabe ainda que a morte não o livra senão da presença material de seu inimigo, mas que este pode persegui-lo com o seu ódio, mesmo depois de ter deixado a Terra; que, assim, a vingança falha no seu objetivo e, ao contrário, tem por efeito produzir uma irritação maior que pode continuar de uma existência a outra. Cabe ao Espiritismo provar, pela experiência e pela lei que rege as relações do mundo visível e do mundo invisível, que a expressão: apagar o ódio com o sangue é radicalmente falsa, e o que é verdadeiro, é que o sangue conserva o ódio, mesmo além do túmulo; de dar, por conseguinte, uma razão de ser efetiva e uma utilidade pratica ao perdão, e à sublime máxima do Cristo: Amai os vossos inimigos. Não há coração tão perverso que não seja tocado de bons procedimentos, mesmo inconscientemente; pelos bons procedimentos tira-as pelo menos todo pretexto de represálias; de um inimigo pode-se fazer um amigo, antes e depois da sua morte. Pelos maus procedimentos, ele se irrita, e é então que ele próprio serve de instrumento à justiça de Deus para punir aquele que não perdoou.

Pode-se, pois, ter inimigos entre os encarnados e entre os desencarnados; os inimigos do mundo invisível manifestam sua malevolência pelas obsessões e pelas subjugações, das quais tantas pessoas são alvo, e que são uma variedade das provas da vida; essas provas, como as outras, ajudam ao adiantamento e devem ser aceitas com resignação, e como consequência da natureza inferior do globo terrestre; se não houvesse homens maus na Terra, não haveria Espíritos maus ao redor dela. Se, pois, deve-se ter indulgencia e benevolência para com os inimigos encarnados, devemos tê-los igualmente para com aqueles que estão desencarnados.

Outrora, sacrificavam-se vítimas sangrentas para apaziguar os deuses infernais, que não eram outros senão os espíritos maus. Aos deuses infernais sucederam os demônios, que são a mesma coisa. O Espiritismo veio provar que esses demônios não são outros senão as almas de homens perversos, que não se despojaram ainda dos instintos materiais; que não se pode apaziguá-los senão pelo sacrifício de seu ódio, quer dizer, pela caridade; que a caridade não tem apenas por efeito impedi-los de fazer o mal, mas de os conduzir no caminho do bem, e de contribuir para a sua salvação. É assim que a máxima: Amai os vossos inimigos, não está circunscrita ao círculo estreito da Terra e da vida presente, mas se integra na grande lei da solidariedade e da fraternidade universais.

Fonte: O Evangelho Segundo O Espiritismo. Allan Kardec. Capítulo XII – itens 5 e 6.



segunda-feira, 1 de agosto de 2022

KARDEC E NAPOLEÃO

Logo após o Brumário (9 de novembro de 1799), quando Napoleão se fizera o primeiro Cônsul da República Francesa, reuniu-se, na noite de 31 de dezembro de 1799, no coração da latinidade, nas esferas Superiores, grande assembleia, de espíritos sábios e benevolentes, para marcarem a entrada significativa do novo século. 

Antigas personalidades de Roma Imperial, pontífices e guerreiros das Gálias, figuras notáveis da Espanha, ali se congregavam à espera do expressivo acontecimento.

Legiões dos Césares, com os seus estandartes, falanges de batalhadores do mundo gaulês e grupos de pioneiros da evolução hispânica, associados a múltiplos representantes das Américas, guardavam linhas simbólicas de posição de destaque.

Mas não somente os latinos se faziam representados no grande conclave. Gregos ilustres, lembrando as confabulações da Acrópole gloriosa, israelitas famosos, recordando o Templo de Jerusalém, deputações eslavas e germânicas, grandes vultos da Inglaterra, sábios chineses, filósofos hindus, teólogos budistas, sacrificadores das divindades olímpicas, renomados sacerdotes da Igreja Romana e continuadores de Maomet ali se mostravam, como em vasta convocação de forças da ciência e da cultura da Humanidade.

No concerto das brilhantes delegações que aí formavam, com toda a sua fulguração representativa, surgiam Espíritos de velhos batalhadores do processo que voltariam à liça carnal ou que a seguiriam, de perto, para o combate à ignorância e a miséria, na laboriosa preparação da nova era da fraternidade e da luz.

No deslumbrante espetáculo da Espiritualidade Superior, com a refulgência de suas almas, achavam-se Sócrates, Platão, Aristóteles, Apolônio de Tiana, Orígenes, Hipócrates, Agostinho, Fénelon, Giordano bruno, Tomás de Aquino, S. Luiz de França, Vicente de Paulo, Joana D’Arc, Tereza d’Avila, Catarina de Siena, Bossuet, Spinoza, Erasmo, Mílton, Cristóvão Colombo, Gutenberg, Galileu, Pascal, Swedenborg e Dante Alighieri para mencionar apenas alguns heróis e paladinos da renovação terrestre; e, em planos menos brilhantes, encontravam-se, no recinto maravilhoso, trabalhadores de ordem inferior, incluindo muitos dos ilustres guilhotinados da Revolução, quais Luís XVI, Maria Antonieta, Robespierre, Danton, Madame Roland, André Chenier, Bailly, Camile Desmoulins, e grandes vultos como Voltaire e Rousseau.

Depois da palavra rápida de alguns orientadores eminentes, invisíveis clarins soaram na direção do plano carnal e, em breves instantes, do seio da noite, que velava o corpo ciclópico do mundo europeu, emergiu, sob a custodia de esclarecidos mensageiros, reduzido cortejo de sombras, que pareciam estranhas e vacilantes, confrontadas com as feéricas irradiações do palácio festivo.

Era um grupo de almas, ainda encarnadas, que, constrangidas pela Organização Celeste, remontavam à vida espiritual, para a reafirmação de compromissos.

À frente, vinha Napoleão, que centralizou o interesse de todos os circunstantes. Era bem o grande corso, com os seus trajes habituais e com o seu chapéu característico.


Recebido por diversas figuras da Roma antiga, que se apressavam em oferecer-lhe apoio e auxílio, o vencedor de Rivoli ocupou radiosa poltrona que, de antemão, lhe fora preparada.

Entre aqueles que o seguiram, na singular excursão, encontravam-se responsáveis autoridades reencarnadas no planeta, como Beethoven, Ampère, Fúlton, Faraday, Goethe, João Dálton, Pestalozzi, Pio VII, além de muitos outros campeões da prosperidade e da independência do mundo.

Acanhados no veículo espiritual que os prendia à carne terrestre, quase todos os recém-vindos banhavam-se em lagrimas de alegria e emoção.

O primeiro-cônsul da França, porém, trazia os olhos enxutos, não obstante a extrema palidez que lhe cobria a face. Recebendo o louvor de várias legiões, limitava-se a responder com acenos discretos, quando os clarins ressoaram, de modo diverso, como se pudessem a voar para os cimos, no rumo do imenso infinito...

Imediatamente uma estrada de luz, à maneira de ponte levadiça, projetou-se do Céu, ligando-se ao castelo prodigioso, dando passagem a inúmeras estrelas resplendentes.

Em alcançando o solo delicado, contudo, esses astros se transformaram-se em seres humanos, nimbados de claridade celestial.

Dentre todos, no entanto, um deles avultava em superioridade e beleza. Tiara rutilante brilhava-lhe na cabeça, como que a aureolar-lhe de bênçãos, o olhar magnânimo, cheio de atração e doçura. Na destra, guardava um cetro dourado, a recamar-se de sublimes cintilações...

Musicistas invisíveis, através dos zéfiros, que passavam apressados, prorromperam num cântico de hosanas, sem palavras articuladas.

A multidão mostrou profunda reverência, ajoelhando-se muitos dos sábios e guerreiros, artistas e pensadores, enquanto todos os pendões dos vexilários arriavam, silenciosos, em sinal de respeito.

Foi então que o corso se pôs em lagrimas e, levantando-se, avançou com dificuldade, na direção do mensageiro que  trazia o báculo e ouro, postando-se genuflexo, diante dele.

O celeste emissário, sorrindo com naturalidade, ergue-o, de pronto, e procurava abraçá-lo, quando o céu pareceu abrir-se diante de todos, e uma voz enérgica e doce, forte como a ventania e veludosa como a ignorada melodia da fonte, exclamou para o Napoleão, que parecia eletrizado de pavor e júbilo, ao mesmo tempo:
- Irmão e amigo ouve a verdade, que te fala em meu espírito! Eis-te à frente do apostolo da fé, que, sob a égide do Cristo, descerrará para a Terra atormentada um novo ciclo de conhecimento...

César ontem, e hoje orientador, rende o culto de tua veneração, ante o pontífice da luz! Renova, perante o Evangelho, o compromisso de auxiliar-lhe a obra renascente!...

Aqui se congregam conosco lidadores de todas as épocas. Patriotas de Roma e das Gálias, generais e soldados que te acompanham nos conflitos da Farsália, de Tapso e de Munda, remanescentes das batalhas de Gergóvia e de Alésia aqui te surpreendem com simpatia e expectação... Antigamente, no trono absoluto, pretendias-te descendentes dos deuses para dominar a Terra e aniquilar os inimigos... Agora, porém, o Supremo Senhor concedeu-te por berço uma ilha perdida no mar, para que te não esqueças da pequenez humana e determinou voltasses ao coração do povo que outrora humilhaste e escarneceste, a fim de que lhe garantas a missão gigantesca, junto da Humanidade, no século que vamos iniciar.

Colocado pela Sabedoria Celeste na condição de timoneiro da ordem, no mar de sangue da Revolução, não olvides o mandato para o qual fostes escolhido.

Não acrediteis que as vitórias das quais fostes investido para o Consulado devam ser atribuídas exclusivamente ao teu gênio militar e político. A Vontade do Senhor expressa-se nas circunstancias da vida. Unge-te de coragem para governar sem ambição e reger sem ódio. Recorre à oração e à humildade para que te não arrojes aos precipícios da tirania e da violência!...

Indicado para consolidar a paz e a segurança, necessárias ao êxito do abnegado apóstolo que descortinará a era nova, serás visitado pelas monstruosas tentações do poder.

Não te fascines pela vaidade que buscará coroar-te a fronte... Lembra-te de que o sofrimento do povo francês, perseguido pelos flagelos da guerra civil, é o prelo da liberdade humana que deves defender, até o sacrifício. Não te macules com a escravidão dos povos fracos e oprimidos e nem enlameies os teus compromissos com o exclusivismo e com a vingança!...

Recorda que, obedecendo a injunções do pretérito, renasceste para garantir o ministério espiritual do discípulo de Jesus que regressa à experiência terrestre, e vale-te da oportunidade para santificar os excelsos princípios da bondade e do perdão, do serviço e da fraternidade do Cordeiro de Deus, que nos ouve em seu glorioso sólio de sabedoria e de amor!

Se honrares as tuas promessas, terminará a missão com o reconhecimento da posteridade e escalarás horizontes mais altos da vida, mas, se as tuas responsabilidades forem menosprezadas, sombrias aflições amontoar-se-ão sobre as tuas horas, que passarão a ser gemidos escuros em extenso deserto...

Dentro do novo século, começaremos a preparação do terceiro milênio do Cristianismo na Terra.

Novas concepções de liberdade surgirão para os homens, a ciência erguer-se-á a indefiníveis culminâncias, as nações cultas abandonarão para sempre o cativeiro e o tráfico de criaturas livres e a religião desatará os grilhões do pensamento que, até hoje, encarceram as melhores aspirações da alma no inferno sem perdão!...

Confiamos, pois, ao teu espírito valoroso a governança política dos novos eventos e que o Senhor te abençoe!...

Cânticos de alegria e esperança anunciaram nos céus a chegada do século XIX e, enquanto o Espírito da Verdade, seguindo por várias cortes resplandecentes, voltava para o Alto, a inolvidável assembleia se dissolvia...

O apostolo que seria Allan Kardec, sustentando Napoleão nos braços, conchegou-o de encontro ao peito e acompanhou-o, bondosamente,a te religá-lo ao corpo de carne, no próprio leito.

Em 3 de outubro de 1804, o mensageiro da renovação renascia num lar de Lião, mas o Primeiro-Cônsul da República Francesa, assim que se viu desembaraçado da influência benéfica e protetora do Espírito de Allan Kardec e de seus cooperadores, que retornavam, pouco a pouco, a integração com a carne, confiantes e otimistas, engalanou-se com a púrpura do mando e, embriagado de poder, proclamou-se Imperador, em 18 de maio de 1804, ordenando a Pio VII viesse coroá-lo em Paris.

Napoleão, contudo, convertendo celestes concessões em aventuras sanguinolentas, foi apressadamente situado, por determinação do Alto, na solidão curativa de Santa Helena, onde esperou a morte, enquanto Allan Kardec, apagando a própria grandeza, na humanidade de um mestre-escola, muita vez atormentado e desiludido, como simples homem do povo, deu integral cumprimento à divina missão que trazia à Terra, inaugurando a era espírita-cristã, que gradativamente, será considerada em todos os quadrantes do orbe como a sublime renascença da luz para o mundo inteiro.

 

Fonte: Livro – Cartas e Crônicas. Ditado pelo Espírito Irmão X. psicografia de Chico Xavier. Mensagem 28.