O programa educativo estabelecido para um indivíduo na escola ou no lar deve contemplar as questões da sexualidade, para que esteja integrada em um planejamento mais amplo, em vez de ser enquadrada em uma proposta pedagógica à parte. A educação integral deve garantir que o estudo da sexualidade acompanhe todos os outros aspectos do desenvolvimento do ser.
O papel primordial na educação sexual dos filhos pertence à família. Ninguém transfira essa tarefa para a escola!
Por isso, deveremos estar atentos às influências que alcançam o nosso filho.
Muitos pais dizem aos seus filhos: “Quando se está com a boca cheia de comida, à mesa, não se conversa. A mesa é um lugar para se alimentar, não para debates!”. Este é um dever que lhe compete. Mas se todas as boas posturas devem ser ensinadas, também ensinaremos a boa conduta sexual, evitando que os filhos se tornem pessoas hipócritas ou psicologicamente castradas, dois comportamentos extremos que são reconhecidamente prejudiciais.
Como o impulso sexual é inevitável, um jovem que permaneça sem orientação alguma vai exercer o sexo, ainda que ele conheça ou não os seus mecanismos. Se, durante a vigília, que é a vida consciente, ele não realizar as suas aspirações, nos estados oníricos irá vivenciar seus desejos e terá poluções noturnas, já que a sua mente está cheia de imagens desta e de outras encarnações.
Desde que o inconsciente tem predominância em nosso comportamento, durante o sono e nos sonhos a sua manifestação é ainda mais acentuada, uma vez que nesse estado há um desbloqueio de toda censura que nos impomos para manter as convenções sociais. No nosso estágio atual de evolução quase tudo que fazemos é regido pelo inconsciente.
Nesse sentido, eu recomendaria aos pais não anteciparem informações que não forem solicitadas pela criança. Esperem o educando perguntar, mostrem-se aptos a dialogar a respeito de qualquer tema no âmbito da sexualidade. É a proposta do filósofo grego Sócrates, que se procurava utilizar dos conteúdos trazidos pelos educandos para trabalhar os assuntos do seu interesse. Aliás, a palavra latina educare significa mover de dentro para fora. A função do educador é despertar o interesse do educando para que ele formule suas próprias interrogações e busque o conhecimento por si mesmo. Quando Sócrates saía a caminhar pelas ruas de Atenas, na Grécia Antiga, sempre que era interrogado pelos alunos, aproveitava o conhecimento que os educandos detinham para falar sobre os assuntos solicitados, sempre estimulando os jovens a descobrirem as suas respostas. Este método pedagógico é denominado maiêutica, que significava parto.
O cuidado em não antecipar informações sobre sexo e sexualidade reveste-se de importância que muitos pais e educadores desconhecem. Quando apresentamos esclarecimentos de forma precipitada estamos auxiliando a introjeção de ideias para as quais o psiquismo da criança ainda não amadureceu. No momento em que esses conceitos começam a fazer sentido para o educando ele próprio se encarrega de questionar.
Evitemos ser coadjuvantes no seu despertamento antecipado para os temas da sexualidade. Enquanto a criança não estiver perguntando sobre esses assuntos, ainda é ingênua. Deixemos que experimente a ingenuidade que é inerente à sua faixa etária, respeitando o seu ciclo de maturação psicológica, do contrário poderemos contribuir com o surgimento da malícia e da erotização precoce, que a criança ainda não construiu no seu psiquismo. O que existe nela não é malícia, mas curiosidade. A malícia encontra-se alojada na mente do adulto, que ao olhar qualquer cena mais insinuante do dia a dia dá-lhe uma conotação sexual à imagem visualizada. Ao contrário disso, a criança registra tudo com naturalidade e vai procurar satisfazer a sua curiosidade em torno do que viu ou escutou, embora os meios de comunicação tenham contribuído, a partir dos referidos anos 1960, para que a inocência infantil sofresse interferências negativas.
Acompanho na mídia alguns pretensos sexólogos que se aventuram a ensinar sobre sexo e deturpam o significado profundo desta experiência humana tão enriquecedora. Em vez de orientarem para a educação, orientam para a liberação, não estimulando o jovem a refletir sobre os seus valores e sobre os vínculos afetivos.
É importante que saibamos que essa erotização precoce não produz apenas efeitos psicológicos perturbadores, mas também pode desencadear consequências fisiológicas. Refiro-me à puberdade precoce.
Joanna de Ângelis me informou que
a puberdade precoce é um fenômeno que se vem tornando cada vez mais frequente.
Nos climas tropicais, por exemplo, a maturação sexual ocorre mais rapidamente.
Por outro lado, os meios de comunicação veiculam informações sobre sexo que estimulam
o psiquismo infantil e provocam o amadurecimento psicológico antes do
fisiológico. Como consequência, a mente influencia o corpo e o modifica,
fazendo o organismo apresentar características não compatíveis com a idade real
da criança.
Quando ligamos a televisão podemos encontrar em determinados canais programas de sexo explícito a qualquer hora do dia. Isso provoca na criança uma expressão de desejo que não está de acordo com a fase de desenvolvimento biológico em que se encontra. As suas energias mentais são mobilizadas e surgem necessidades precoces, que uma atitude educativa cuidadosa pode prevenir ou corrigir, evitando o surgimento da puberdade precoce.
Quando os pais receberem as primeiras solicitações de esclarecimento, deverão atentar para o fato de que agora o filho iniciou um processo de busca que será ininterrupto. Com isso, os familiares poderão apresentar informações gerais sobre desenvolvimento, puberdade, adolescência e sexualidade, para que a filha não seja surpreendida pela ovulação e a irrupção da menarca, a primeira menstruação, e para que o filho não se espante com o fenômeno da ejaculação, situações que a qualquer momento poderão tornar-se parte das suas vidas.
Dessa forma, o conhecimento em torno do seu próprio corpo e das próprias reações emocionais evitará que haja traumas no trânsito da infância para a adolescência, ocasião em que o medo e a vergonha podem fazer o jovem ocultar esses fenômenos fisiológicos. O adolescente deverá entender que seu corpo vai aos poucos respondendo aos estímulos sexuais, deflagrando sensações completamente novas para ele.
Por isso, se os pais imprimem naturalidade ao trabalhar esses conceitos com a criança, o educando terá segurança para formular outras perguntas e para desenvolver a vida sexual saudável.
A partir daí, vários aspectos relativos à sexualidade deverão ser explicados em caráter preventivo, antes mesmo que o adolescente os solicite.
Deveremos acompanhar nossos filhos quando eles estiverem na televisão ou no computador para sabermos quais são os seus programas prediletos.
Não vamos permitir que a ignorância, o supremo desconhecimento sobre o corpo e o sexo, contribua para que nosso filho se envolva em situações amargas.
Às vezes, eu acompanho um pouco dos programas de televisão para aprender o que não se deve ensinar. E as apresentadoras desses programas, com raríssimas exceções, são selecionadas para essa função somente porque possuem uma aparência erótica e extravagante. Infelizmente, quase todas são destituídas de boa formação moral, cultural e educacional. Bem se vê que uma apresentadora com essas características também não revela qualquer habilidade pedagógica ou de manejo com o público infantil, embora fosse o ideal, pois ela está trabalhando com crianças.
É de estarrecer que a primeira pergunta que fazem a uma criança que participa de um programa como esse é a seguinte: “E onde está o seu namoradinho?”. É uma pergunta embaraçosa para a mente infantil, pelo fato de que uma criança de cinco ou seis anos de idade não sabe a diferença entre um namorado e aquele amiguinho com quem costuma brincar. Então a apresentadora vai enxertar na mente daquele pequeno ser um conceito que só deveria fazer parte da sua experiência existencial bem mais tarde, quando atingisse a adolescência.
São as grandes “educadoras” da mídia de diversos países, a quem as mães confiam os seus filhos, porque estão sempre muito ocupadas para dar-lhes atenção.
Uma criança que foi intensamente estimulada desde cedo chega aos nove, dez ou onze anos ansiosa por vivenciar aquilo que lhe foi incutido na mente. E, na primeira oportunidade em que estiver com alguém, vai realizar a experiência sexual para satisfazer a qualquer preço a sua curiosidade. Como essa criança (ou pré-adolescente) ainda não conhece o próprio corpo e não sabe utilizar os seus equipamentos emocionais, a experiência torna-se uma grande frustração porque não consegue detectar as sensações que envolvem o ato sexual. E necessário que o organismo alcance a fase na qual os hormônios preparam o corpo do indivíduo para uma relação íntima.
As consequências desse desastroso processo de deseducação sexual podem ser facilmente visualizadas. De uma menina precocemente estimulada, teremos uma adolescente sexualmente frustrada, que estará mudando constantemente de parceiro, procurando em cada um deles a fantasia infantil que não viveu. O mesmo acontecerá em relação aos meninos precocemente estimulados que atingem a adolescência. Eles tentarão encontrar a realização masculina a partir da sua fantasia infantil do que é ser um homem.
Não se pode estabelecer uma idade fixa e definida para começar a namorar. Todavia, é importante que os pais e educadores respeitem o ritmo do indivíduo em formação, além da necessidade que tem este indivíduo de respeitar o seu tempo e os seus limites.
Outra questão frequente são as doenças infectocontagiosas que podem ser contraídas através do contato sexual. Deveremos orientar os nossos filhos para o risco que elas representam, esclarecendo sobre o uso do preservativo, embora este não deva ser o foco da nossa orientação. Precisamos infundir-lhes a ideia de que o melhor mecanismo de prevenção é ter uma vida sexual saudável. Se nos concentrarmos em falar somente sobre o preservativo, estaremos liberando o nosso filho para que ele se entregue a aventuras sexuais, o que equivale a dizer que estaremos induzindo-o a uma forma de prostituição. Esta conduta dos pais corresponde a um aplauso diante do desejo do filho de se utilizar de alguém a quem pretende viciar para descartar depois, uma prática que pode desencadear danos psicológicos, às vezes, irreparáveis.
É evidente que muitas vezes os educandos não seguirão as nossas diretrizes. A nossa tarefa, no entanto, é demonstrar que o sexo é um complemento para o amor, em vez de ser a razão principal para duas pessoas se buscarem na intimidade. E se os filhos insistirem em ignorar as nossas sugestões para um comportamento de educação afetiva, resolvendo-se por ter experiências sexuais variadas e descomprometidas, que utilizem o preservativo para, ao menos, manterem a saúde física, uma vez que a saúde psicológica estará sendo negligenciada por eles.