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quinta-feira, 18 de junho de 2020

O RAMO DA VIDEIRA E O ESPIRITISMO

Cepa Espírita da 1ª edição de O Livro dos Espírito (1857)


            O Espiritismo não possui um símbolo que o represente, priorizando uma linguagem denotativa. No entanto, o ramo da videira espírita ou cepa espírita, presente em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec,  que é a única gravura usada por Kardec na Codificação Espírita – é considerado pela Doutrina como a imagem metafórica perfeita da relação entre o espírito e o corpo humano, sendo uma representação gráfica da obra divina e tem sido usada normalmente como emblema do Espiritismo, embora absolutamente não constitua um símbolo sagrado.

Esta arte tem origem mediúnica, indicado por Espíritos para compor a obra, que marcaria o inicio da Doutrina Espírita. Quando Kardec já estava em trabalho para lançar O Livro dos Espíritos, ele recebeu uma comunicação mediúnica (a identidade do médium é desconhecida), esta mensagem foi assinada por vários espíritos, cujo texto seria utilizado dentro do prefácio do livro, intitulado “Prolegômenos”, que é a noção para os estudos. O referido parágrafo assim se expressa:

“Coloca no cabeçalho do livro a cepa de vinha que te desenhamos(1), porque ela é o emblema do trabalho do Criador; todos os princípios materiais que podem melhor representar o corpo e o espírito nela se encontram reunidos: o corpo é o tronco; o espírito é o licor; a alma ou o espírito unido à matéria é o grão. O homem purifica o espírito pelo trabalho e tu sabes que não é senão pelo trabalho do corpo que o espírito adquire conhecimentos.”

(1)  Nota de rodapé de Kardec: A cepa da página anterior é o fac-símile daquela que foi desenhada pelos Espíritos.

Como está explicado na comunicação, o desenho representa o Trabalho de Deus, ou seja, a Criação. Embora pareça ilustrar especificamente a criação dos espíritos (os seres inteligentes, indivíduos, pessoas), não deixa de representar também o princípio material (da qual se originam os corpos físicos, substâncias, planetas etc.), ao se referir ao “corpo”, assim como o termo “espírito” pode representar o princípio espiritual (do qual se originam as individualidades, ou seja, os espíritos). 

O Galho da Videira – que dá sustentação aos frutos, significa a forma física, quer dizer, o corpo humano, pois é esse envoltório físico que possibilita a manifestação do espírito no mundo material.

O Licor da Uva – a essência, o líquido que contém o sabor, significa o espírito, pois este é a própria essência do Ser, a consciência, o indivíduo.

O Bago – a uva, a parte carnosa que contém o licor, é a representação da alma (espírito encarnado), da ligação entre o espírito e o organismo físico, intermediada pelo perispírito.



É interessante o tipo de fruto escolhido pelos espíritos para a representação da Obra Divina. A uva é a típica matéria-prima do vinho -  a bebida sagrada de varias religiões. Porém, desconsiderando esse caráter sacro, podemos supor que a escolha da espiritualidade tenha sido em função do valor histórico desta iguaria, uma vez que o seu cultivo data para mais de 6.000 a.C. e atravessa as mais tradicionais civilizações, sendo cultivado hoje em toda a parte do planeta – portanto, um fruto global.

A arte da cepa – a única utilizada na codificação espírita – tem sido bastante difundida como emblema do Espiritismo, contudo, simplesmente como metáfora, não tendo o caráter de símbolo sagrado ou mesmo de insígnia oficial, uma vez que o Espiritismo tem como um de seus fundamentos ser uma doutrina totalmente desprovida de formalidades, de liturgia, ritual, etc. Dois detalhes relacionados ao desenho da cepa espírita dão ênfase a esse desprovimento doutrinário:

1) A comunicação endereçada a Kardec indicava expressamente que a imagem fosse posta na cabeceira do livro. No entanto, ela foi reproduzida na seção intitulada prolegâmenos, já depois da introdução. A “não obediência” do codificador a essa indicação pode ter sido devido questões técnicas, afinal, em seu tempo, os recursos gráficos eram limitados e caríssimos. Entretanto, se fosse admitido o caráter sacra, não importasse como, o desenho deveria figurar-se na capa do livro.

2) O desenho original, reproduzido na edição de lançamento de  O Livro dos Espíritos, não é o mesmo que aparece na 2ª edição (veja o quadro a seguir), cuja alteração, fosse o caso de simbolismo religioso, poderia ser considerado adulteração. A “despreocupação” do codificador reflete bem o que importante é realmente a mensagem , não a forma.



Fonte: O Livro dos Espíritos
Site: Enciclopédia Espírita Online 



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