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domingo, 23 de fevereiro de 2020

A DIFERENÇA ENTRE AMOR E PAIXÃO

Muitas pessoas se preocupam em saber se estamos diante da pessoa que escolhemos no mundo espiritual para ser nosso marido ou esposa. Quem dera que a gente soubesse! Se fosse possível essa identificação sem nenhuma margem de erro, as uniões conjugais seriam muito felizes!

Não é importante saber se o nosso parceiro ou parceira é alguém que elegemos antes de reencarnarmos. O importante é verificarmos se os gostos e tendências do outro demonstram que existe afinidade entre nós, independentemente de já termos convivido com ele ou não. O importante não é uma parceria previamente definida, mas é a formação e a manutenção de uma parceria feliz.


Uma pessoa adequada para nós é aquela que nos produz emoções, não aquela que nos provoca sensações. Se um rapaz encontra uma moça e imediatamente sente a irrupção do desejo sexual, isto é uma sensação. Mas se ele a vê, e logo sente por ela um encantamento especial, um impulso para se aproximar com cuidado e gentileza, estará diante de uma emoção, que tem caráter mais profundo. Por outro lado, uma moça conhece um rapaz e logo o associa à imagem de um ator famoso, que lhe desperta sonhos eróticos e que agora vê de alguma forma materializado na figura do jovem que encontrou. Isto representa uma sensação, uma eclosão de interesse sexual. Contudo, se ela se depara com o rapaz e sente alegria por vê-lo, uma necessidade de estar ao seu lado e de conversar, de tocar-lhe a mão com ternura, ela experimentou uma emoção, o desabrochar de uma centelha de afetividade.

No caso do rapaz que se encantou com uma jovem, e no episódio da moça que se sentiu feliz com o encontro, a comprovação da afinidade se fará somente mais tarde, à medida que o relacionando se tornar mais profundo, porque o sentimento estará mais bem caracterizado. Em caso de se confirmar a afinidade é provável que a pessoa que está em nossa companhia seja uma alma querida, que antes de renascer se comprometeu conosco para a formação de uma família saudável. No entanto, não há como estabelecer critérios infalíveis para essa conclusão.

Se a decisão de unir-se a outra pessoa exige uma análise cuidadosa, que se inicia no
autoconhecimento e tem continuidade na convivência com o outro, isto se torna um dos aprendizados mais importantes para o jovem: a distinção entre amor e paixão.

É medida de urgência que o jovem identifique quando encontrou o amor ou quando foi acometido por um surto de paixão que terá existência breve.

No campo do relacionamento a dois, identificamos duas formas de atração que se hospedam na intimidade do ser humano.

A primeira delas é a paixão, a atração provocada pelos instintos, que surge como uma febre de desejo e está relacionada ao impulso para a procriação. A paixão pode até ser interpretada como uma forma de amor, mas um amor primitivo e imediatista, que todos trazemos das experiências evolutivas do processo antropossociopsicológico, permanecendo em nós para favorecer a perpetuação da vida.

A outra forma de atração que nos motiva a estabelecer vínculos é o amor propriamente dito, verdadeiro e plenificador. Este sentimento também nos impulsiona ao intercurso sexual, cuja finalidade precípua, além da continuidade da espécie, é o intercâmbio de hormônios psíquicos, de vibrações emocionais que sustentam a vida e realimentam os sentimentos profundos daqueles que mantém um vínculo afetivo.

Muitos autores da história da Filosofia, como Epicuro, que viveu aproximadamente no ano 350 antes de Cristo, estabeleceram que a felicidade depende do prazer. Esse pressuposto é o fundamento da doutrina hedonista, segundo a qual para estar realizado o indivíduo necessita ter poder para comprar o que deseja, amealhando posses materiais e desfrutando de todas as oportunidades de prazer que estiverem ao seu alcance.

Neste sentido, o sexo exerce papel preponderante, porque a proposta hedonista se perpetuou em nossa esfera emocional até hoje. Como a maioria de nós vive preocupada em atender ao prazer, mas não consegue obter todos os bens materiais e o poder social que gostaria de possuir, o sexo, na sua feição de instrumento da paixão, acaba tornando-se uma válvula de escape para nossas fugas psicológicas. O ser humano decide praticar o sexo para experimentar o prazer sem a necessidade de ter culpa ou conflito, entendendo que se não está enfrentando ou prejudicando o seu semelhante para obter vantagens materiais, tudo estará dentro de um padrão de normalidade. Ele poderá desfrutar do prazer sexual sem se perturbar e conservando a consciência tranquila. Por isso, a pessoa troca de parceiros sempre buscando experiências agradáveis e aventuras, esquecendo-se de que após o orgasmo, quando advém o relaxamento do corpo e o repouso, a sensação de prazer é logo substituída por um sentimento de frustração. Com a continuidade das experiências malsucedidas, o indivíduo vai lentamente descobrindo que o prazer verdadeiro somente poderá ser vivenciado quando o sexo estiver fixado num sentimento profundo de amor.

Na história evolutiva do espírito, a paixão e o amor se encontram como duas vertentes à disposição do livre-arbítrio, a partir de cuja escolha ocorre o nosso desenvolvimento moral ou a nossa decadência espiritual. Quando optamos pela paixão, estacionamos voluntariamente em alguns degraus da evolução até nos resolvermos pela libertação das amarras da inferioridade mediante a conquista do amor.



Fonte: Livro – Sexo e Consciência. Divaldo Franco, organizado por Luiz Fernando Lopez.


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