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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

DESCRIÇÃO DA VIDA EM JÚPITER POR BERNARD PALISSY

         Na edição da Revista Espírita de Abril de 1858, foi publicado uma serie de perguntas e respostas a respeito de como é a vida no planeta Júpiter. Respostas dadas por Bernard Palissy. A comunicação foi feita no mês de março de 1858 e publicado em abril daquele ano. Segue o texto do artigo abaixo:  


BERNARD PALISSY




Conversas familiares de além-túmulo
Bernard Palissy (9 de março de 1858) 

Descrição de júpiter 

        Nota: Sabíamos, por evocações anteriores, que Bernard Palissy, o célebre oleiro do século XVI, habita Júpiter. As respostas seguintes confirmam, por todos os pontos, o que em diversas ocasiões nos foi dito sobre esse planeta, por outros Espíritos e através de diferentes médiuns. Pensamos que serão lidas com interesse, a título de complemento do quadro que traçamos em nosso último número. Fato notável, a identidade que apresentam com as descrições anteriores é, no mínimo, uma presunção de exatidão.

1. Onde te encontraste ao deixares a Terra?
Resp. – Nela ainda me demorei.

2. Em que condições estavas aqui?
Resp. – Sob os traços de uma mulher amorosa e devotada; era apenas uma missão.

3. Essa missão durou muito?
Resp. – Trinta anos.

4. Lembra-te do nome dessa mulher?
Resp. – É obscuro.

5. A estima em que são tidas tuas obras te agrada? E isso te compensa dos sofrimentos que suportaste?
Resp. – Que me importam as obras materiais de minhas mãos? O que me importa é o sofrimento que me elevou.

6. Com que objetivo traçaste, pelas mãos do Sr. Victorien Sardou, os desenhos admiráveis que nos deste sobre o planeta Júpiter, onde habitas?
Resp. – Com o fim de inspirar o desejo de vos tornardes melhores.

7. Desde que vens com frequência a esta Terra que habitaste tantas vezes, deves conhecer bastante o seu estado físico e moral para que possas estabelecer uma comparação entre ela e Júpiter; rogamos-te, pois, nos esclareças sobre diversos pontos.
Resp. – Ao vosso globo venho apenas como Espírito; o Espírito não tem mais sensações materiais.


ESTADO FÍSICO DO GLOBO

8. Pode-se comparar a temperatura de Júpiter à de uma de nossas latitudes?
Resp. – Não; ela é suave e temperada; sempre igual, enquanto a vossa varia. Lembrai dos Campos Elísios que vos foram descritos.

9. O quadro que os Antigos nos deram dos Campos Elísios resultaria do conhecimento intuitivo que possuíam de um mundo superior, tal como Júpiter, por exemplo?
Resp. – Do conhecimento positivo; a evocação permanecia nas mãos dos sacerdotes.
10. A temperatura varia segundo as latitudes, como na Terra?
Resp. – Não.

11. Conforme nossos cálculos, o Sol deve aparecer aos habitantes de Júpiter sob um ângulo muito pequeno e, em consequência, dar-lhes pouca luz. Podes dizer-nos se a intensidade da luz é ali igual à da Terra ou se é menos forte?
Resp. – Júpiter é envolvido por uma espécie de luz espiritual que mantém relação com a essência de seus habitantes. A luz grosseira de vosso Sol não foi feita para eles.

12. Há uma atmosfera?
Resp. – Sim.

13. A atmosfera de Júpiter é formada dos mesmos elementos que a atmosfera terrestre?
Resp. – Não; os homens não são os mesmos; suas necessidades mudaram.

14. Existem água e mares?
Resp. – Sim.

15. A água é formada dos mesmos elementos que a nossa?
Resp. – Mais etérea.

16. Há vulcões?
Resp. – Não; nosso globo não é atormentado como o vosso; lá, a Natureza não teve suas grandes crises; é a morada dos bem-aventurados; nele, a matéria mal existe.

17. As plantas têm analogia com as nossas?
Resp. – Sim, mas são mais belas.


ESTADO FÍSICO DOS HABITANTES

18. A conformação do corpo dos habitantes guarda relação com o nosso?
Resp. – Sim, é a mesma.

19. Podes dar-nos uma idéia de sua estatura, comparada à dos habitantes da Terra?
Resp. – Grandes e bem proporcionados. Maiores que os vossos maiores homens. O corpo do homem é como o molde de seu Espírito: belo, onde ele é bom; o envoltório é digno dele: não é mais uma prisão.

20. Lá os corpos são opacos, diáfanos ou translúcidos?
Resp. – Há uns e outros. Uns têm tal propriedade; outros têm outra, conforme sua destinação.

21. Concebemos isso para os corpos inertes, mas nossa questão refere-se aos corpos humanos.
Resp. – O corpo envolve o Espírito sem o ocultar, como um tênue véu lançado sobre uma estátua. Nos mundos inferiores o invólucro grosseiro oculta o Espírito a seus semelhantes; mas os bons nada têm a esconder: podem ler no coração uns dos outros. Que aconteceria se assim fosse na Terra?

22. Há sexos diferentes?
Resp. – Sim; há sexo por toda parte onde existe a matéria; é uma lei da matéria.

23. Qual a base da alimentação dos habitantes? É animal e vegetal, como aqui?
Resp. – Puramente vegetal; o homem é o protetor dos animais.

24. Foi-nos dito que eles absorvem uma parte de sua alimentação do meio ambiente, do qual aspiram as emanações; isso é exato?
Resp. – Sim.

25. Comparada à nossa, a duração da vida é mais longa ou mais curta?
Resp. – Mais longa.

26. Qual é a duração média da vida?
Resp. – Como medir o tempo?

27. Não podes tomar um de nossos séculos por termo de comparação?
Resp. – Creio que mais ou menos cinco séculos.

28. O desenvolvimento da infância é proporcionalmente mais rápido que o nosso?
Resp. – O homem conserva a sua superioridade; a infância não comprime sua inteligência nem a velhice a extingue.

29. Estão os homens sujeitos a doenças?
Resp. – Não estão sujeitos aos vossos males.

30. A vida está dividida entre a vigília e o sono?
Resp. – Entre a ação e o repouso.

31. Poderias dar-nos uma ideia das diversas ocupações dos homens?
Resp. – Seria preciso dizer muito. Sua principal ocupação,é encorajar os Espíritos que habitam os mundos inferiores a perseverarem no bom caminho. Não havendo entre eles infortúnio a aliviar, vão procurá-los onde existe sofrimento; são os Espíritos bons que vos sustentam e vos atraem ao bom caminho.

32. Ali se cultivam certas artes?
Resp. – Lá elas são inúteis. As vossas artes são brinquedos que distraem vossas dores.

33. A densidade específica do corpo humano permite-lhe transportar-se de um lugar a outro, sem ficar, como aqui, preso ao solo?
Resp. – Sim.

34. Experimenta-se ali o tédio e o desgosto da vida?
Resp. – Não; o desgosto da vida não provém senão do desprezo de si mesmo.

35. Sendo menos denso do que os nossos, o corpo dos habitantes de Júpiter é formado de matéria compacta e condensada, ou de matéria vaporosa?
Resp. – Compacta para nós; mas não o seria para vós: é menos condensada.

36. O corpo, considerado como feito de matéria, é impenetrável?
Resp. – Sim.

37. Seus habitantes têm uma linguagem articulada, como a nossa?
Resp. – Não; entre eles há comunicação de pensamentos.

38. A segunda vista é, como nos disseram, uma faculdade normal e permanente entre vós?
Resp. – Sim, o Espírito não tem entraves; nada se lhe oculta.

39. Se ao Espírito nada se oculta, conhece, pois, o futuro? Referimo-nos aos Espíritos encarnados em Júpiter.
Resp. – O conhecimento do futuro depende da perfeição do Espírito; tem menos inconvenientes para nós do que para vós; é nos mesmo necessário, até certo ponto, para a realização das missões que devemos executar; mas, daí a dizer que conhecemos o futuro, sem restrição, seria colocar-nos na mesma posição que Deus.

40. Podeis revelar-nos tudo quanto sabeis sobre o futuro?
Resp. – Não; esperai até que tenhais merecido sabê-lo.

41. Comunicai-vos com os outros Espíritos mais facilmente do que o fazeis conosco?
Resp. – Sim! sempre: não existe mais a matéria entre eles e nós.

42. A morte inspira o horror e o pavor que provoca entre nós?
Resp. – Por que seria apavorante? O mal já não existe entre nós. Só o mau encara o seu último momento com pavor: ele teme o seu juiz.

43. Em que se transformam os habitantes de Júpiter após a morte?
Resp. – Crescem sempre em perfeição, sem mais terem que sofrer provas.

44. Não haverá, em Júpiter, Espíritos que se submetam a provas para cumprirem uma missão?
Resp. – Sim, mas não se trata mais de uma prova; só o amor do bem os leva a sofrer.

45. Podem falir em suas missões?
Resp. – Não, visto que são bons; não há fraqueza senão onde há defeito.

46. Poderias nomear alguns dos Espíritos habitantes de Júpiter que cumpriram uma grande missão na Terra?
Resp. – São Luís.

47. Poderias indicar outros?
Resp. – Que vos importa? Há missões desconhecidas que não têm por objetivo senão a felicidade de um só; são, por vezes, maiores: e são mais dolorosas.


OS ANIMAIS

48. O corpo dos animais é mais material que o dos homens?
Resp. – Sim; o homem é o rei, o Deus terrestre.

49. Entre os animais há os que são carnívoros?
Resp. – Os animais não se estraçalham entre si; vivem todos submetidos ao homem, amando-se mutuamente.

50. Mas não haverá animais que escapem à ação do homem, como os insetos, os peixes, os pássaros?
Resp. – Não; todos lhe são úteis.

51. Disseram-nos que os animais são os servidores e os operários que executam os trabalhos materiais, constroem as habitações, etc; isso é verdade?
Resp. – Sim; o homem não se rebaixa mais para servir ao seu semelhante.

52. Os animais servidores estão ligados a uma pessoa ou a uma família, ou são tomados e trocados à vontade, como aqui?
Resp. – Todos se ligam a uma família particular; mudais mais, para achar um melhor.

53. Vivem os animais servidores em estado de escravidão ou de liberdade? São uma propriedade ou podem mudar de dono à vontade?
Resp. – Eles lá se encontram em estado de submissão.

54. Os animais trabalhadores recebem uma remuneração qualquer por seus esforços?
Resp. – Não.

55. As faculdades dos animais desenvolvem-se por uma espécie de educação?
Resp. – Eles o fazem por si mesmos.

56. Os animais têm uma linguagem mais precisa e mais caracterizada que a dos animais terrestres?
Resp. – Certamente.


ESTADO MORAL DOS HABITANTES

57. As habitações de que nos deste uma amostra por teus desenhos estão reunidas em cidades, como aqui?
Resp. – Sim; os que se amam se reúnem; só as paixões estabelecem a solidão em torno do homem. Se, ainda mau, procura este seu semelhante, que para ele não é senão um instrumento de dor, por que o homem puro e virtuoso fugiria do seu irmão?

58. Os Espíritos são iguais ou de diferentes graduações?
Resp. – De diversos graus, mas da mesma ordem.

59. Rogamos que te reportes à escala espírita que demos no segundo número da Revista, e que nos digas a que ordem pertencem os Espíritos encarnados em Júpiter.
Resp. – Todos bons, todos superiores; por vezes o bem desce até o mal; mas o mal jamais se mistura ao bem.

60. Os habitantes formam diferentes povos, como na Terra?
Resp. – Sim; mas todos se unem entre si pelos laços do amor.

61. Sendo assim, as guerras são desconhecidas?
Resp. – Pergunta inútil.

62. Na Terra poderá o homem alcançar suficiente grau de perfeição que o isente das guerras?
Resp. – Seguramente alcançará; a guerra desaparecerá com o egoísmo dos povos e à medida que compreenderem melhor a fraternidade.

63. Os povos são governados por chefes?
Resp. – Sim.

64. Em que se baseia a autoridade dos chefes?
Resp. – No seu grau superior de perfeição.

65. Em que consiste a superioridade e a inferioridade dos Espíritos em Júpiter, considerando-se que todos são bons?
Resp. – Eles têm maior ou menor cabedal de conhecimentos e experiência; depuram-se, à medida que se esclarecem.

66. Como na Terra, há povos mais ou menos avançados do que outros?
Resp. – Não; mas os há em diversos graus.

67. Se o povo mais avançado da Terra se visse transportado para Júpiter, que posição ocuparia?
Resp. – A dos vossos macacos.

68. Lá os povos são governados por leis?
Resp. – Sim.

69. Há leis penais?
Resp. – Não há mais crimes.

70. Quem faz as leis?
Resp. – Deus as faz.

71. Há ricos e pobres, isto é, homens que vivem na abundância e no supérfluo, e outros a quem falta o necessário?
Resp. – Não; todos são irmãos; se um possuísse mais que o outro, com este dividiria; não seria feliz quando seu irmão se privasse do necessário.

72. De acordo com isso, as fortunas seriam iguais para todos?
Resp. – Eu não disse que todos sejam ricos no mesmo grau; perguntastes se haveria os que possuem o supérfluo e outros a quem faltasse o necessário.

73. Essas duas respostas nos parecem contraditórias; Pedimos que estabeleças a concordância entre elas.
Resp. – A ninguém falta o necessário; ninguém possui o supérfluo, ou seja, a fortuna de cada um está em relação com a sua condição. Estais satisfeitos?

74. Agora compreendemos; mas perguntamos, ainda, se aquele que tem menos não é infeliz, relativamente àquele que tem mais?
Resp. – Não pode ser infeliz, desde que não é invejoso nem ciumento. A inveja e o ciúme fazem mais infelizes que a miséria.

75. Em que consiste a riqueza em Júpiter?
Resp. – Que vos importa?

76. Há desigualdades sociais?
Resp. – Sim.

77. Sobre o que se fundam tais desigualdades?
Resp. – Sobre as leis da sociedade. Uns são mais ou menos avançados em perfeição. Os que são superiores exercem sobre os outros uma espécie de autoridade, como um pai sobre os filhos.

78. As faculdades do homem se desenvolvem pela educação?
Resp. – Sim.

79. Pode o homem adquirir bastante perfeição na Terra para merecer passar imediatamente a Júpiter?
Resp. – Sim, mas na Terra o homem é submetido a imperfeições, a fim de estar em relação com os seus semelhantes.

80. Quando um Espírito que deixa a Terra deve reencarnar-se em Júpiter, fica errante durante algum tempo até encontrar o corpo ao qual deverá se unir?
Resp. – Ele o é durante certo tempo, até que se tenha liberado das imperfeições terrestres.

81. Há várias religiões?
Resp. – Não; todos professam o bem e todos adoram um único Deus.
82. Há templos e um culto?
Resp. – Por templo há o coração do homem; por culto, o bem que ele faz.



Fonte: Revista Espírita – Abril de 1858.


domingo, 15 de janeiro de 2017

HABITAÇÕES DO PLANETA JÚPITER




        Na edição da Revista Espírita de Agosto de 1858, foi publicado um artigo sobre as 
Victorien Sardou (1831-1908)

Habitações do Planeta Júpiter; por Victorien Sardou, um famoso dramaturgo 
francês, mas que não era desenhista, que serviu de médium para receber tais informações e desenhos. Neste artigo foi recebido informações mediúnicas sobre como é a vida no Planeta Júpiter, estas informações foram dadas de forma espontânea, sem que ninguém lhe pedisse, por Bernard Palissy, que foi aqui no Planeta Terra um célebre oleiro, do século XVI. Um dos principais ceramistas francês. Teve muitos interesses e desenvolveu muitas habilidades, que desempenhou como: pintor sobre vidro, oleiro, ourives, agrimensor, paisagista, químico, biólogo, escritor, engenheiro, agrônomo, naturalista e geólogo. Além das informações que Palissy nos transmitiu, há desenhos mediúnicos destas habitações. E ficamos sabendo também neste artigo que Mozart, o prolífico e influente compositor do período clássico, também habita Júpiter; que neste artigo foi trazido até nós um desenho da “casa” de Mozart em Júpiter. Todas as informações trazidas mediunicamente por Victorien Sardou. Segue o texto do artigo abaixo: 


Bernard Palissy (1510 - 1589)

         Se há um fato que gera perplexidade entre certas pessoas convencidas da existência dos Espíritos – não nos ocuparemos aqui das outras – é seguramente a existência de habitações em suas cidades, tal como ocorre entre nós. Não me pouparam de críticas: “Casas de Espíritos em Júpiter!... Que gozação!...” – Que seja, nada tenho a ver com isso. Se o leitor aqui não encontra, na verossimilhança das explicações, uma prova suficiente de sua veracidade; se, como nós, não se surpreende com a perfeita concordância das revelações espíritas com os dados mais positivos da ciência astronômica; numa palavra, se não vê senão uma hábil mistificação nos detalhes que se seguem e no desenho que os acompanha, eu o convido a pedir explicação aos Espíritos, de quem sou apenas o instrumento e o eco fiel. Que ele evoque Palissy ou Mozart, ou outro habitante desse mundo bem-aventurado; que sejam interrogados, que minhas afirmações sejam controladas pelas suas; que, enfim, discutam com eles. Quanto a mim, apenas apresento o que me foi dado, repetindo somente o que me foi dito. E, por esse papel absolutamente passivo, creio-me ao abrigo tanto da censura quanto do elogio.

         Feita essa ressalva, e uma vez admitida a confiança nos Espíritos, se se aceitar como verdadeira a única doutrina realmente bela e sábia que a evocação dos Espíritos nos revelou até aqui, isto é, a migração das almas de planeta em planeta, suas encarnações sucessivas e seu progresso incessante pelo trabalho, as habitações de Júpiter não nos deverão mais causar admiração. Desde que o Espírito se encarna num mundo submetido, como o nosso, a uma dupla revolução, isto é, à alternativa de dias e noites e ao retorno periódico das estações; desde que tenha um corpo, por mais frágil seja esse envoltório material, não reclama apenas alimentação e vestuário, mas, também, um abrigo ou, pelo menos, um local de repouso, consequentemente uma casa. Com efeito, foi exatamente isso que nos disseram. Como nós, e melhor que nós, os habitantes de Júpiter têm seus lares comuns e suas famílias, grupos harmoniosos de Espíritos simpáticos, unidos no triunfo depois de o haverem sido na luta. Daí as moradas tão espaçosas, que podemos chamar, merecidamente, de palácios. Como nós, ainda, esses Espíritos têm suas festas, suas cerimônias, suas reuniões públicas, o que explica a existência de edifícios especialmente destinados a essas finalidades. Finalmente, devemos encontrar nessas regiões superiores toda uma Humanidade, ativa e laboriosa como a nossa, como nós submetida a leis, necessidades e deveres, com a só diferença de que o progresso, rebelde aos nossos esforços, torna-se conquista fácil para os Espíritos que já se despojaram de nossos vícios terrestres.

         Não deveria ocupar-me aqui senão da arquitetura de suas habitações; contudo, para a exata compreensão dos detalhes que se seguem, uma palavra de explicação não será inútil. Se Júpiter só é acessível aos Espíritos bons, daí não se segue que sejam excelentes no mesmo grau todos os seus habitantes: entre a bondade do simples e o homem de gênio, é permitido contar vários matizes. Ora, toda a organização social desse mundo superior repousa precisamente sobre as variedades de inteligência e de aptidões, cabendo aos Espíritos superiores, aos mais depurados, por efeito de leis harmoniosas cuja explicação seria muito longa apresentar aqui, a alta direção de seu planeta. Essa supremacia não se detém aí, estendendo-se até os mundos inferiores, onde esses Espíritos, por sua influência, favorecem e ativam incessantemente o progresso religioso, gerador dos demais. É preciso acrescentar que para esses Espíritos depurados não haveria senão trabalhos intelectuais, pois suas atividades só se exercem no domínio do pensamento e eles já conquistaram bastante império sobre a matéria para não serem senão debilmente entravados por ela no livre exercício de sua vontade. O corpo desses Espíritos, como aliás o de todos os que habitam Júpiter, é de uma densidade tão leve que só encontra termo de comparação nos fluidos imponderáveis: um pouco maior do que o nosso, do qual reproduz exatamente a forma, embora mais pura e mais bela, ele se nos apresentaria sob a aparência de um vapor, termo que emprego a contragosto, por designar uma substância ainda muito grosseira; de um vapor, dizia eu, impalpável e luminoso... luminoso sobretudo nos contornos do rosto e da cabeça, porquanto ali a inteligência e a vida irradiam-se como um foco muito ardente. E é justamente esse brilho magnético, entrevisto pelos visionários cristãos, que nossos pintores traduziram pelo nimbo ou auréola dos santos.

         Compreende-se que um tal corpo em nada dificulte as comunicações
extramundanas desses Espíritos, permitindo-lhes, em seu planeta, um deslocamento pronto e fácil. Ele se subtrai tão facilmente à atração planetária, e sua densidade difere tão pouco daquela da atmosfera, que nela pode agitar-se, ir e vir, descer ou subir ao capricho do Espírito e sem outro esforço senão a vontade. Assim, algumas personagens que Palissy teve a gentileza de me fazer desenhar estão representados tocando o solo levemente ou a superfície das águas, ou ainda bastante elevadas no ar, com inteira liberdade de ação e de movimentos que atribuímos aos anjos. Quanto mais depurado o Espírito, tanto mais fácil é essa locomoção, o que se concebe sem dificuldade; nada também é mais fácil aos habitantes do planeta do que avaliar, logo à primeira vista, o valor de um Espírito que passa; dois sinais falarão por ele: a altura de seu vôo e a luz mais ou menos brilhante de sua auréola.

       Em Júpiter, como em toda parte, os que alçam voos mais altos são os mais raros; abaixo deles, é preciso contar várias camadas de Espíritos inferiores, tanto em virtude quanto em poder, mas naturalmente livres para os igualarem um dia, quando se aperfeiçoarem. Escalonados e classificados conforme os seus méritos, estes se dedicam mais particularmente aos trabalhos que interessam ao próprio planeta, não exercendo, sobre os mundos inferiores, a autoridade toda poderosa dos primeiros. É verdade que respondem a uma evocação, através de revelações sábias e boas, mas, pela presteza que demonstram em nos deixar e pelo laconismo de suas palavras, é fácil compreender que têm muito o que fazer em outra parte, e que não se encontram ainda suficientemente desprendidos para se fazerem irradiar simultaneamente em dois pontos tão distantes um do outro. Enfim, seguindo os menos perfeitos desses Espíritos, mas deles separados por um abismo, vêm os animais que, como únicos serviçais e únicos trabalhadores do planeta, merecem uma menção toda especial. 



        Se designamos pelo nome de animais os seres bizarros que ocupam a base da escala, é porque os próprios Espíritos o utilizaram e também em razão de nossa língua não dispor de melhor termo para nos oferecer. Essa designação os avilta bastante; chamá-los, porém, de homens seria conceder-lhes muita honra; de fato, são Espíritos votados à animalidade, talvez por muito tempo ou, quem sabe, para sempre. Contudo, nem todos os Espíritos são concordes com esse ponto e a solução do problema parece pertencer a mundos mais elevados que Júpiter; seja qual for o seu futuro, entretanto, não há equívocos sobre o seu passado. Antes de ir para lá, esses Espíritos emigraram sucessivamente em nossos mundos inferiores, do corpo de um ao de outro animal, através de uma escala de aperfeiçoamento perfeitamente graduada. O estudo atento de nossos animais terrestres, seus costumes, suas características individuais, sua ferocidade longe do homem e sua domesticação lenta, mas sempre possível, tudo indica suficientemente a realidade dessa ascensão animal.

        Desse modo, para qualquer lado que nos voltemos, a harmonia do Universo se resume sempre em uma única lei: o progresso, por toda parte e para todos, para o animal como para a planta, para planta como para o mineral; progresso puramente material, a princípio, nas moléculas insensíveis do metal ou do calhau, para tornar-se cada vez mais inteligente à medida que ascendemos à escala dos seres e que a individualidade tende a desembaraçar-se da massa, a afirmar-se, a conhecer-se. Pensamento elevado e consolador, jamais imaginado antes, porquanto nos prova que nada é sacrificado, que a recompensa é sempre proporcional ao progresso realizado; o devotamento do cão, por exemplo, que morre pelo dono, não é estéril para o seu Espírito, cujo salário justo haverá de receber além deste mundo.

       É o caso dos Espíritos animais que povoam Júpiter; eles se aperfeiçoaram ao mesmo tempo que nós, conosco e com o nosso auxílio. A lei é mais admirável ainda: faz tão bem de seu devotamento ao homem a primeira condição de sua ascensão planetária, que a vontade de um Espírito de Júpiter pode chamar a si todo animal que, numa de suas vidas anteriores, lhe haja dado provas de afeição. Essas simpatias, que lá no alto formam famílias de Espíritos, também agrupam em torno das famílias todo um cortejo de animais devotados. Em consequência, nosso apego neste mundo por um animal, o cuidado que tomamos de domesticá-lo e de humanizá-lo, tudo isso tem sua razão de ser, tudo será pago: é um bom ajudante que preparamos antecipadamente para um mundo melhor.

       Será assim um operário, porquanto aos seus semelhantes está reservado todo trabalho material, toda tarefa corporal: carga ou obras pesadas, semeadura ou colheita. E para tudo isso a Suprema Inteligência preparou um corpo que participa ao mesmo tempo das vantagens do animal e do homem. Podemos fazer uma avaliação pelo esboço de Palissy, representando alguns desses animais muito aplicados em jogar bola. Eu não os poderia melhor comparar senão aos faunos e aos sátiros da Fábula; o corpo, levemente peludo é, entretanto, aprumado como o nosso; entre alguns as patas desapareceram, dando lugar a certas pernas que ainda lembram a forma primitiva, os dois braços robustos, singularmente implantados e terminados por verdadeiras mãos, se levarmos em conta a oposição dos polegares. Coisa bizarra: a cabeça não é tão aperfeiçoada quanto o resto! Dessa forma, a fisionomia reflete bem alguma coisa de humano, mas o crânio, o maxilar e, sobretudo, a orelha não apresentam diferenças sensíveis em relação aos animais terrestres. É, pois, fácil distingui-los entre si: este é um cão, aquele é um leão. Convenientemente vestidos com blusas e vestes muito semelhantes às nossas, eles só faltam falar para lembrar de bem perto certos homens daqui; eis precisamente o que lhes falta e que não poderiam fazer. Hábeis para se entenderem entre si, por meio de uma linguagem que nada tem da nossa, não mais se enganam sobre as intenções dos Espíritos que os comandam: basta um olhar, um gesto. A certos abalos magnéticos, dos quais nossos domadores de bestas já conhecem o segredo, o animal advinha e obedece sem murmurar e, melhor ainda, com boa vontade, porque está fascinado. É desse modo que lhe é imposta toda a tarefa pesada e que, com seu auxílio, tudo funciona regularmente de um extremo ao outro da escala social: o Espírito elevado pensa e delibera, o espírito inferior age com sua própria iniciativa e o animal executa. Assim, a concepção, a execução e o fato se unem numa mesma harmonia, levando todas as coisas a uma solução mais rápida, pelos meios mais simples e mais seguros.

       Pedimos desculpas por essa digressão: ela era indispensável ao assunto que agora podemos abordar.

       Enquanto aguardamos as cartas prometidas, que facilitarão singularmente o estudo de todo o planeta, podemos, pelas descrições feitas pelos Espíritos, fazer uma idéia de sua grande cidade, da cidade por excelência, desse foco de luz e de atividade que eles concordam estranhamente em designar pelo nome latino de Julnius.

      “No maior de nossos continentes – diz Palissy – em um vale de setecentas a oitocentas léguas de largura, para contar como vós, um rio magnífico desce das montanhas do norte e, engrossado por uma porção de torrentes e de ribeirões, forma em seu percurso sete ou oito lagos, dos quais o menor mereceria entre vós o nome de mar. Foi sobre as margens do maior desses lagos, por nós batizado com o nome de Pérola, que nossos antepassados lançaram os primeiros fundamentos de Julnius. Essa cidade primitiva ainda existe, venerada e guardada como preciosa relíquia. Sua arquitetura difere muito da vossa. Explicar-vos-ei tudo isso em seu devido tempo; por ora ficai sabendo que a cidade moderna está apenas a algumas centenas de metros abaixo da antiga. Limitado entre altas montanhas, o lago se derrama no vale por oito enormes cataratas, que formam outras tantas correntes isoladas e dispersas em todos os sentidos. Com o auxílio dessas correntes, cavamos na planície uma porção de riachos, canais e pequenos lagos, reservando a terra firme apenas para nossas casas e jardins. Disso resultou uma espécie de cidade anfíbia, como vossa Veneza e da qual, à primeira vista, não se poderia dizer se está construída na terra ou sobre a água. Nada vos direi hoje de quatro edifícios sagrados, construídos sobre a própria vertente das cataratas, de sorte que a água jorra aos borbotões de seus pórticos: são obras que vos pareceriam incríveis em grandeza e em ousadia.

      “É a cidade terrestre que descrevo aqui, de certo modo material, a cidade das ocupações planetárias, a que chamamos, enfim, de Cidade baixa. Tem suas ruas ou, melhor dizendo, seus caminhos traçados para o serviço interno; tem suas praças públicas, seus pórticos e suas pontes lançadas sobre canais para a passagem dos serviçais. Mas a cidade inteligente, a cidade espiritual, a verdadeira Julnius, finalmente, não se encontra na Terra: é preciso que se a procure no ar.

        “O corpo material dos animais incapazes de voar 52
  necessita de terra firme; mas o que o nosso corpo fluídico e luminoso exige é uma habitação aérea como ele, quase impalpável e móvel, a nosso bel-prazer. Nossa habilidade resolveu esse problema, auxiliada pelo tempo e pelas condições privilegiadas que o Grande Arquiteto nos havia concedido. Compreende bem que essa conquista dos ares era indispensável a Espíritos como os nossos. Nosso dia tem a duração de cinco horas, e nossa noite igualmente dura o mesmo tempo; mas tudo é relativo e, para seres aptos a pensar e a agir como o fazemos, para Espíritos que se compreendem pela linguagem dos olhos e que sabem comunicar-se magneticamente a distância, nosso dia de cinco horas já igualaria uma de vossas semanas. Em nossa opinião era ainda muito pouco; e a imobilidade da morada, o ponto fixo do lar eram um entrave para todas as nossas grandes obras. Hoje, pelo deslocamento rápido dessas moradas de pássaros, pela possibilidade de nos transportarmos, bem como os nossos, a tal ou qual endereço do planeta e à hora do dia que nos apraza, nossa existência pelo menos dobrou e, com ela, tudo quanto se possa conceber de útil e de grandioso.


52 Entretanto, faz-se necessário excetuar certos animais providos de asas, reservados para os serviços aéreos e para as tarefas que, entre nós, exigiriam a utilização de vigamentos para construção. É uma 
transformação da ave, como os animais descritos acima resultam de uma transformação dos quadrúpedes.

       “Em determinadas épocas do ano – aduz o Espírito – em certas festas, por exemplo, verás aqui o céu obscurecido pela nuvem de habitações que nos vem de todos os pontos do horizonte. É um curioso agregado de moradias esbeltas,graciosas, leves, de todas as formas, de todas as cores, equilibradas em diferentes alturas e continuamente em marcha, da cidade baixa para a cidade celeste: alguns dias depois, faz-se o vácuo pouco a pouco e todos esses pássaros desaparecem.

       “Nada falta nessas moradas flutuantes, nem mesmo o encanto da verdura e das flores. Refiro-me a uma vegetação que não encontra paralelo entre vós, de plantas e até de arbustos que, pela natureza de seus órgãos, respiram, alimentam-se, vivem e se reproduzem no ar.

       “Temos – diz ainda o mesmo Espírito – esses tufos de flores enormes, cujas formas e matizes nem podeis imaginar, e de uma leveza de tecido tão delicada que os torna quase transparentes. Balançando no ar, sustentados por grandes folhas e munidos de gavinhas semelhantes às da videira, reúnem-se em nuvens de mil tonalidades ou se dispersam ao sabor do vento, oferecendo um espetáculo encantador aos viandantes da cidade baixa... Imagina a graça dessas jangadas de verdura, desses jardins flutuantes que nossa vontade pode fazer e desfazer e que, algumas vezes, duram toda uma estação! Longas fieiras de lianas e de ramos floridos destacamse dessas alturas e se dependuram até o solo; cachos enormes se agitam, despetalando-se e liberando perfume... Os Espíritos que se deslocam no ar param à sua passagem: é um lugar de repouso e de encontro, ou, se quisermos, um meio de transporte para terminar a viagem sem fadiga e em boa companhia.”

        Um outro Espírito estava sentado sobre uma dessas flores no momento em que o evoquei. Disse-me ele: “Neste instante é noite em Julnius, e me encontro sentado a distância sobre uma dessas flores aéreas que aqui desabrocham somente à claridade de nossas luas. Sob meus pés, toda a cidade baixa está entregue ao sono; sobre minha cabeça e ao meu redor, contudo, e a perder de vista, não há senão movimento e alegria no espaço. Dormimos pouco: nossa alma encontra-se muito desprendida para que as necessidades do corpo a tiranizem, e a noite é feita mais para os nossos servos do que para nós. É a hora das visitas e das longas conversas, dos passeios solitários, dos devaneios, da música... Só vejo moradas aéreas, resplandecentes de luz, ou guirlandas de folhas e flores carregadas de bandos alegres... A primeira de nossas lua ilumina toda a cidade baixa: é uma luz suave, comparável à dos vossos luares; mas, ao lado do lago, a segunda se eleva, emitindo reflexos esverdeados que dão a todo o rio o aspecto de um vasto prado...”

        É sobre a margem direita desse rio, diz o Espírito, “cuja água te ofereceria a consistência de um leve vapor”53, que está construída a casa de Mozart, que por meu intermédio Palissy houve por bem reproduzir sobre o cobre. Só apresento aqui a fachada sul. A grande entrada fica à esquerda, dando para a planície; à direita fica o rio; os jardins estão localizados ao norte e ao sul. Perguntei a Mozart quais eram seus vizinhos. – “Mais acima – disse ele – e mais embaixo, dois Espíritos que não conheces; mais à esquerda, apenas uma grande campina me separa do jardim de Cervantes.”
53 Sendo de 0,23 a densidade de Júpiter, isto é, pouco menos de um quarto da densidade da Terra, o Espírito nada diz que não seja verossímil. Concebe-se que tudo é relativo e que nesse globo etéreo, como ele próprio, tudo seja etéreo. 
                            

        Como as nossas, portanto, a casa tem quatro faces, laborando em erro se disso fizéssemos uma regra geral. É construída com certa pedra que os animais extraem das pedreiras do norte e cuja cor o Espírito compara a esses tons esverdeados que muitas vezes toma o azul do céu no momento em que o sol se põe. Quanto à sua rigidez, podemos fazer uma idéia por essa observação de Palissy: “que ela se fundiria sob a pressão de nossos dedos humanos tão depressa quanto um floco de neve; mesmo assim, ainda é uma das matérias mais resistentes do planeta! Nessas paredes os Espíritos esculpiram ou incrustaram estranhos arabescos, que o desenho procura reproduzir. São ornamentos gravados na pedra e coloridos em seguida, ou incrustações que restabelecem a solidez da pedra verde, através de um processo que no momento desfruta de grande popularidade e que nos vegetais conserva toda a graça de seus contornos, toda a delicadeza de seus tecidos, toda a riqueza de seu colorido. E o Espírito acrescenta: “Uma descoberta que fareis qualquer dia e que entre vós mudará muita coisa.”

        A grande janela da direita apresenta um exemplo desse gênero de ornamentação: um de seus bordos nada mais é que uma enorme cana, cujas folhas foram conservadas. O mesmo ocorre no coroamento da janela principal, que afeta a forma da clave de sol: são plantas sarmentosas, enlaçadas e incrustadas. É por esse processo que eles obtêm a maior parte do coroamento dos edifícios, portões, balaústres, etc. Muitas vezes a planta é colocada na parede com as raízes e em condições de crescer livremente. Cresce e se desenvolve; suas flores desabrocham ao acaso, e o artista não as incrustou no lugar senão quando adquiriram todo o desenvolvimento requerido para a ornamentação do edifício: a casa de Palissy é decorada quase inteiramente dessa maneira.

       Destinados inicialmente apenas aos móveis, depois às molduras de portas e janelas, esse gênero de ornamentos aperfeiçoou se pouco a pouco e acabou por invadir toda a arquitetura. Hoje, não se incrusta somente as flores e os arbustos, mas a própria árvore, da raiz até a copa; e os palácios, como os edifícios, praticamente não têm outras colunas.

       Uma incrustação da mesma natureza serve também para decorar as janelas. Flores ou folhas muito grandes são habilmente despojadas de sua parte carnuda, restando apenas um feixe de fibras tão finas quanto a mais fina musselina. Cristalizam-nas; e dessas folhas reunidas com arte constrói-se uma janela inteira, que apenas filtra para o interior uma luz muito suave; ou, ainda, são revestidas de uma espécie de vidro liquefeito e colorido de todos os matizes que se cristaliza no ar, transformando a folha numa espécie de vidraça. Da disposição dessas folhas nas janelas resultam encantadores buquês, transparentes e luminosos!

       Quanto às dimensões dessa aberturas e a mil outros detalhes que podem surpreender à primeira vista, vejo-me forçado a adiar a explicação: a história da arquitetura em Júpiter demandaria um volume inteiro. Renuncio também a falar sobre o mobiliário para aqui me ater tão-somente à disposição geral da casa.

      O leitor deve ter compreendido, de tudo que precede, que a casa do continente não deve ser para o Espírito mais que uma espécie de pousada provisória. A cidade baixa quase que só é frequentada por Espíritos de segunda ordem, encarregados dos interesses planetários – da agricultura, por exemplo, ou das trocas, e da boa ordem que deve ser mantida entre os serviçais. Dessa forma, todas as casas situadas no solo só dispõem do térreo e do andar superior: um destinado aos Espíritos que atuam sob a direção do senhor, e acessível aos animais; o outro, reservado tão-somente ao Espírito, que aí reside apenas ocasionalmente. É isso que explica o fato de vermos, nas diversas habitações de Júpiter, nesta, por exemplo, e na de Zoroastro, uma escadaria e, até mesmo, uma rampa. Aquele que rasa a água, como a andorinha, e que pode correr sobre as hastes do trigo sem as curvar, passa muito bem sem a escadaria e sem a rampa para penetrar em sua casa; mas os Espíritos inferiores não têm o vôo tão fácil; não se elevam senão aos solavancos e nem sempre a rampa lhes é inútil. Enfim, a escadaria é de absoluta necessidade para os animais-serviçais, que apenas caminham como nós. Estes últimos têm seus pavilhões, aliás muito elegantes, e que fazem parte de todas as grandes habitações; mas suas funções os chamam, constantemente, à casa do senhor: é necessário facilitar-lhes a entrada e o percurso interior. Daí essas construções bizarras, cuja base lembra muito nossos edifícios terrestres, mas deles diferindo por completo na parte superior. 



       Esta se distingue, sobretudo, por uma originalidade que seríamos absolutamente incapazes de imitar. É uma espécie de flecha aérea que se balança no alto do edifício, acima da grande janela e de seu singular coroamento. Esse frágil mastaréu, fácil de ser deslocado, destina-se, no pensamento do artista, a não deixar o lugar que lhe está assinalado porque, sem se apoiar em coisa alguma na parte superior, complementa-lhe a decoração; lamento que a dimensão da prancha não lhe tenha permitido encontrar um lugar aí. Quanto à morada aérea de Mozart, apenas constato a sua existência: os limites deste artigo não permitem que me estenda sobre este assunto.

       Não terminarei, entretanto, sem dar explicações a propósito do gênero de ornamentos que o grande artista escolheu para sua morada. Nele é fácil reconhecer a lembrança de nossa música terrestre: a clave de sol é ali freqüentemente reproduzida e, coisa bizarra, jamais a clave de fá! Na decoração do térreo, encontramos um arco, uma espécie de tiorba ou bandolim, uma lira e uma pauta completa de música. Mais alto, é uma grande janela que lembra vagamente a forma de um órgão; as outras têm a aparência de grandes notas, enquanto notas menores são abundantes por toda a fachada.

       Seria erro concluir que a música de Júpiter seja comparável à nossa, e que se represente pelos mesmos sinais: Mozart explicou-se sobre isso, de maneira a não deixar qualquer dúvida; mas na decoração de suas casas os Espíritos lembram, com prazer, a missão terrestre que lhes fez merecer a encarnação em Júpiter e que melhor resume o caráter de sua inteligência. Assim, na residência de Zoroastro, os astros e a chama constituem os únicos detalhes da decoração.

       Há mais; parece que esse simbolismo tem suas regras e seus segredos. Nem todos esses ornamentos estão dispostos ao acaso: têm sua ordem lógica e sua significação precisa; mas é uma arte que os Espíritos de Júpiter renunciam a nos fazer entender, pelo menos até hoje, e sobre a qual não se explicam de bom grado. Nossos velhos arquitetos também empregaram o simbolismo na decoração de suas catedrais; a torre de Saint-Jacques não passa de um poema hermético, a acreditarmos na tradição. Nada há, pois, para nos admirarmos da originalidade da decoração arquitetônica em Júpiter: se contradiz nossas ideias sobre a arte humana é que, com efeito, existe um completo abismo entre uma arquitetura que vive e fala, e o primitivismo da nossa, que nada exprime. Nisso, como em qualquer outra coisa, a prudência nos proíbe esse erro do relativo, que quer tudo reduzir às proporções e aos hábitos do homem terreno. Se os habitantes de Júpiter morassem como nós, comessem, vivessem, dormissem e andassem como nós, não haveria grande vantagem em ascender até lá. É justamente porque seu planeta difere bastante do nosso que desejamos conhecê-lo e com ele sonhar como nossa futura morada!

       De minha parte, não terei perdido tempo e serei muito feliz por me haverem os Espíritos escolhido como intérprete, se seus desenhos e inscrições inspirarem a um só crente o desejo de subir mais rápido para Julnius, e a coragem de tudo fazer para o conseguir.

Victorien Sardou.


Nota de Allan Kardec:
        O autor dessa interessante descrição é um desses adeptos fervorosos e esclarecidos, que não temem confessar altivamente suas crenças e se colocam acima da crítica das pessoas que não acreditam em nada que escape do seu círculo de idéias. Ligar o nome a uma doutrina nova, afrontando os sarcasmos, é uma coragem que não é dada a todo mundo; por isso, felicitamos o Sr. V. Sardou. Seu trabalho revela o distinto escritor que, embora ainda jovem, já conquistou um honroso lugar na literatura, aliando ao talento de escrever os conhecimentos profundos de um sábio, prova evidente de que o Espiritismo não recruta seus prosélitos entre os tolos e os ignorantes. Fazemos votos por que o Sr. Sardou complete o mais breve possível o seu trabalho, em tão boa hora iniciado. Se os astrônomos nos desvelam, por suas sábias pesquisas, o mecanismo do Universo, por suas revelações os Espíritos nos dão a conhecer o seu estado moral, e isso, como dizem, objetivando estimular-nos ao bem, a fim de merecermos uma existência melhor.

Allan Kardec.


Victorien Sardou foi um notório adepto e entusiasta do espiritismo, tendo fortemente elogiado o O Livro dos Espíritos em carta para Allan Kardec: "É o livro mais interessante e o mais instrutivo que jamais li. Recebei, Senhor, meus cumprimentos pela maneira como classificastes e coordenastes os materiais fornecidos pelos próprios Espíritos: tudo é perfeitamente metódico, tudo se encadeia bem e vossa introdução é uma obra prima de lógica, de discussão e de exposição." Sardou chegou também a escrever uma peça teatral chamada Spiritisme (traduzida para o português como "Amargo Despertar") e a colaborar como médium de psicografia para a Revista Espírita, ainda na época em que era coordenada por Kardec.


segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

OBSERVAÇÕES A PROPÓSITO DOS DESENHOS DE JÚPITER

        O Espiritismo nos traz a luz a certeza da pluralidade dos mundos habitados. O Universo infinitamente vasto, com várias galáxias, mundos magníficos distintos, com suas variantes de dimensões, não poderia ser habitado apenas por nós humanos, que a propósito estamos no inicio da nossa evolução. Há infinitas habitações pelo Universo em graus evolutivos inferiores em relação a Terra, em estágio evolutivo como a Terra, e mundos mais avançados que a Terra. E Júpiter que faz parte do nosso mesmo sistema planetário é um desses mundos, em que está em estágio evolutivo mais avançado que nós. Na Revista Espírita, na edição de Agosto de 1858, foi publicado a seguinte matéria sobre um desenho de uma habitação de Júpiter. Segue o texto da matéria: 


         Estamos inserindo neste número da Revista, conforme havíamos anunciado, o desenho51 de uma habitação de Júpiter, executado e gravado pelo Sr. Victorien Sardou como médium, ao qual acrescentamos o artigo descritivo que teve a gentileza de escrever a respeito. Seja qual for, sobre a autenticidade dessas descrições, a opinião dos que nos poderiam acusar de nos ocuparmos do que acontece nos mundos desconhecidos, quando há tanto o que fazer na Terra, rogamos aos nossos leitores não perderem de vista que o nosso objetivo, como o indica o subtítulo da revista é, antes de tudo, o estudo dos fenômenos, nada devendo, portanto, ser negligenciado. Ora, como fato de manifestação, esses desenhos são, incontestavelmente, os mais notáveis, se considerarmos que o autor não sabe desenhar nem gravar, e que o desenho que oferecemos foi por ele gravado em água forte, sem modelo nem ensaio prévio, em nove horas. Supondo que esse desenho seja uma fantasia do Espírito que o traçou, o simples fato de sua execução não seria um fenômeno menos digno de atenção e, a esse título, cabe à nossa coletânea torná-lo conhecido, bem como a descrição que dele nos deram os Espíritos, não para satisfazer à vã curiosidade das pessoas fúteis, mas como objeto de estudo para quantos desejarem aprofundar-se em todos os mistérios da ciência espírita. Incorreria em erro quem acreditasse que fazemos da revelação de mundos desconhecidos o objeto capital da doutrina; para nós isso não constituiria senão um acessório, que julgamos útil como complemento de estudo. Para nós, o essencial será sempre o ensinamento moral, de sorte que procuramos, nas comunicações do além-túmulo, sobretudo aquilo que possa esclarecer a Humanidade e conduzi-la ao bem, único meio de lhe assegurar a felicidade neste e no outro mundo. Não se poderia dizer o mesmo dos astrônomos, que igualmente sondam os espaços, e perguntar qual seria a utilidade, para o bem da Humanidade, saberem calcular com precisão rigorosa a parábola de um astro invisível? Nem todas as ciências têm um interesse eminentemente prático; entretanto, a ninguém ocorre tratá-las com desdém, porque tudo que amplia o círculo das idéias contribui para o progresso. Dá-se o mesmo com as comunicações espíritas, ainda que escapem ao círculo acanhado da nossa personalidade.

Desenho de uma habitação de Júpiter.
Recebido por meio de mediunidade pelo Sr. Victorien Sardou.


51 N. do T.: Vide reprodução fotográfica do desenho referido na página seguinte, em tamanho reduzido. (Este fac-símile deixou de ser publicado nas reimpressões posteriores da Revista Espírita de 1858.)


Fonte: Revista Espírita – Agosto de 1858.


quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Mensagem: ANTE O MUNDO MELHOR

         O Trabalho será sempre o prodígio do Universo - a força que o entretém, a luz que o eleva.

         Observemos junto de nós.

        Tudo é trabalho para que a vida se nos transforme na bênção de cada dia.

        Trabalha o sol e o mundo se equilibra. Trabalha o mundo e a natureza se renova para que os processos da evolução nos conduzam para o Mais Alto.

        A fonte é bondade e a semente faz-se pão porque trabalha servindo.

        Refutamos nisso para que o repouso inoportuno não se nos infiltre no espírito por ferrugem destruidora.

        No trabalho é que surpreendemos todas as oportunidades de progresso e melhoria a que nos endereçamos.

       Aquele a quem servimos é quem realmente nos servirá.

       Damos e recebemos. Isso é tão natural quanto plantar e colher.

       Por isso mesmo, seja qual seja a condição em que nos achemos, o trabalho é caminho para a ascensão à felicidade justa.

        A hora de que dispomos, a pessoa da estrada, o companheiro em serviço, o amigo e o adversário, constituem talentos potenciais que é preciso aproveitar para o bem, a fim de que o bem nos enriqueça de paz.

       Não vacileis.

       Atendamos aos imperativos do servir e estaremos no clima do obter.

       Não há outra via para alcançar os nossos objetivos de ordem superior, senão essa.

       O descanso existe por pausa de refazimento e reformulação.

        Nada mais.

        Recordemos semelhante verdade para que não lhe desrespeitemos a fronteira, caindo na marginalização de nossas melhores forças.



        Trabalhar, sim, e trabalhar sempre, porquanto, se tudo quanto existe agora de bom e de belo, aos nossos olhos na Terra, é fruto do esforço de quem agiu e construiu, o futuro, por reino de segurança e felicidade entre as criaturas, tão-somente surgirá por fruto de quem trabalha no presente, atendendo aos apelos do Cristo para que, em nos amando uns aos outros, nos façamos obreiros fiéis e devotados, no levantamento da Nova Era para um Mundo Melhor.

Pelo Espírito Batuíra.
Psicografia Chico Xavier.






domingo, 1 de janeiro de 2017

BEM VINDO 2017


        Que este novo ciclo de tempo que inicia-se no plano físico do Planeta Terra, seja abençoado pelo Nosso Criador...

que o ciclo de 2017 seja de bênçãos para a humanidade!
que possamos ter saúde para trabalhar e desenvolver nossas atividades;
que possamos sorrir muito;
que possamos desenvolver mais o amor e a caridade;
que possamos descobrir e vivenciar cada vez mais os ensinamentos de Jesus;
que possamos respeitar e dar mais valor a natureza;
que possamos ir em busca de mais aprendizados para os ofertar a nós mesmos e a quem esteja necessitado;
que possamos ter mais compreensão e tolerância para com o próximo;
que as dificuldades que possam aparecer, que sirvam para o nosso desenvolvimento espiritial;
que as pessoas que praticam a violência permitam-se serem tocadas pelo amor de Jesus e deem mais respeito a vida;
que possamos trabalhar cada vez mais para o bem, sermos fonte de amor, de luz, de caridade;
que possamos ter perseverança em nossos compromissos e trabalhos assumidos;
que possamos construir a paz interior para sermos pontos de luz no planeta Terra...
que possamos seguir nossas inspirações,realizar nossos objetivos, ser fiel a nossa consciência; que possamos fazer brilhar nosso caminho em 2017, plantar cada vez mais o amor e o bem...

        Desejo um saudável e feliz 2017! Agradeço por estarmos juntos, e que a humanidade possa ter um ano de paz e tranquilidade!

        Que 2017 seja iniciado e que permaneça sob a Luz do nosso Divino Mestre Jesus.

       BEM VINDO 2017 !!!!!!

Amor à todos!
Luz e boas vibrações!

Jardim Espírita.